quarta-feira, 9 de setembro de 2015

Mulheres

Eu não me identifico muito com todos os aspectos do movimento feminista, mas obviamente beneficio dele. Para além disso, nós, mulheres, ainda somos maltratadas em muitos locais de trabalho e isso é transversal a muitos países, logo é preciso haver feminismo.

Uma amiga minha em Portugal uma vez foi a uma entrevista para um cargo para o qual ela era mais do que qualificada. Quando lhe ofereceram o emprego e lhe disseram a compensação, ela achou pouco. A dona da empresa, ela própria mulher, informou a minha amiga que a expectativa era que ela vivesse com um homem, pois assim teria alguém que lhe ajudasse a pagar as contas, ou seja, a própria dona da empresa admitiu que era uma má gerente. Tão má que nem sequer tinha vergonha de ter empregados a ganhar salários de porcaria, apesar de ter receitas suficientes para lhes pagar um salário decente (as receitas do trabalho da minha amiga eram superiores a 10 vezes o salário oferecido).

Depois veio o engodo: se o emprego for declarado às finanças, a pessoa ganha o salário mínimo que, com os impostos "generosos" do estado, não dá para ter uma casa e criar um filho sozinha; mas porque não aceitar o trabalho e não declarar às finanças? Assim não paga impostos e leva mais para casa. Verdade, não paga impostos, nem tem protecção do estado quando a patroa decide não pagar o combinado ao fim do mês.

Atravessemos o Atlântico e visitemos os EUA. Uma outra amiga relatou-me uma outra história. Falou com um antigo colega, uma pessoa do "upper management" de uma empresa do sector de energia, que odeia o seu supervisor. Esse supervisor assedia sexualmente todas as empregadas com menos de 35 anos. Nenhuma ainda se queixou ao Gabinete de Recursos Humanos ou ao Equal Employment Opportunity Office.

Os EUA são um país muito litigioso, mas uma mulher que inicia um processo de assédio sexual corre o risco de ficar marcada, pois quando for a entrevistas pode ser preterida por outros candidatos--o mundo é pequeno, os gerentes de recursos humanos falam uns com os outros, as coisas sabem-se. Quando se é uma mulher jovem, com muitos anos de carreira pela frente, tem de se medir os riscos. Só vale a pena fazer queixa se o assédio é grave e o retorno de um processo em tribunal é significativo. Para casos menos graves, mais vale mudar de emprego ou ignorar.

Há outra possibilidade: outro colega, preferencialmente homem, faz a queixa ao Gabinete de Recursos Humanos. Foi isso que a minha amiga perguntou ao antigo colega: "Porque é que tu não inicias a queixa?" Ele disse que acha que o supervisor está prestes a ser despedido brevemente, sem ser preciso uma queixa formal. Enquanto há vida, há esperança...

Alguém uma vez disse que saberemos que as mulheres estão ao mesmo nível dos homens no mercado de trabalho quando houver tantas mulheres incompetentes em cargos de chefia quanto há homens. Um professor da NYU diz que a Marissa Mayer é a CEO mais "overpaid"--paga muito acima do que merece--desde sempre. Ele tem memória muito fraca porque a história recente está repleta de homens que foram pagos a preço de ouro e levaram as empresas à falência. Diz ele que ela só não é despedida porque está grávida de gémeos. Eu acho isto óptimo! Quantas mulheres são despedidas todos os dias por estarem grávidas ou são encorajadas a não engravidar? Só é pena não haver mais Marissa Mayers, para a distribuição probabilística ser mais simétrica...

1 comentário:

  1. Cara Rita,

    Se o critério para a igualdade é esse, então pelo menos desde a Fiorina na HP que existe igualdade no mercado de trabalho americano. :P

    Deixa-me virar o bico ao prego e falar em termos pessoais, com o chapéu de "empresário": um dos motivos pelo qual as empresas evitam contratar mulheres (especialmente mais jovens) para cargos de chefia ou responsabilidade (i.e. não indiferenciados) é o problema da maternidade e, posteriormente, a assistência parental.

    Na assistência parental, é um problema puramente social. Considero que a obrigação social das empresas passa por ajudar os seus funcionários a serem pessoas realizadas, INCLUÍNDO na sua vida familiar, se tal for possível. E que, por essa via, deve não prejudicar mas até incentivar que os pais (homens ou mulheres) participem de forma activa no crescimento e desenvolvimento dos seus filhos.

    Já na parte da maternidade há, de facto, um risco maior para uma empresa quando contrata uma mulher. Mas parte da "culpa" é legislativa: se os pais (homens) fossem obrigados a partilhar de forma equitativa ou quasi-equitativa as licenças parentais (costumo dizer, no mínimo, 40%-60%) a "vantagem competitiva" dos homens dissipava-se. No caso dos EUA, isto teria que ir mais longe: teria que existir uma obrigatoriedade de licença parental, paga (pelo Estado), e partilhada.

    Já na maternidade,

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