domingo, 14 de fevereiro de 2016

A culpa é do “outro”

Segundo a esquerda portuguesa (e a europeia em geral), a culpa dos nossos fracassos e desgraças é sempre do “outro”. Compreendo. Esse exercício alivia imenso as consciências. Tem até a vantagem de conter sempre alguma verdade, ainda que, por vezes, seja apenas uma pontinha. O problema é que de caminho alimenta uma cultura de desresponsabilização ou irresponsabilidade, que não nos deixa ver claramente algumas das causas mais profundas dos males que nos atormentam. Vejamos um exemplo recente. Há muitas nuvens negras a pairar sobre as economias. Por isso, muitos pediram ao actual governo um OE mais prudente. Temendo o que aí pode vir, a esquerda já começou a arranjar culpados. Podia ser outra vez a Merkel, mas a chanceler caiu agora nas boas graças dos media por causa dos refugiados. Podia ser o presidente do Eurogrupo, mas o holandês levanta dois problemas: é socialista e tem um nome impronunciável em português - Jeroen Dijsselbloem. Podia ser o comissário Pierre Moscovici, mas, afinal, é um importante socialista francês. Até que Wolfgang Schäuble se pronunciou sobre o OE português. Pronto, estava encontrado o bode expiatório perfeito. Tem um nome pronunciável em português, é alemão, poderoso, e não é socialista. E é assim, com meias-verdades (enganam mais e melhor do que as mentiras), que a esquerda quer descalçar a bota em que nos está a meter.


7 comentários:

  1. Deisselblum. Repitam: Deisselblum.

    (Pode ser que assim deixem o alemão em paz)

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    1. Obrigado, Isabel, já prestou um serviço público. Não fazia ideia que era assim que se pronunciava o nome do senhor. Já repeti duas vezes, e é mais fácil do que pensava: Deisselblum, Deisselblum...

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  2. Pronunciando o m no fim, não com se fosse um, à portuguesa. Esqueci-me disso.

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  3. Quem é que anda à procura de um bode expiatório e diversão? O ministro das finanças alemão, que tem os seus bancos presos por arames, como todos os outros? O ministro das finanças holandês que, tal como o seu congénere irlandês e luxemburguês, convive com bonomia com o facto do seu país praticar dumping fiscal e servir de parque de estacionamento tributário às maiores empresas que operam na União Europeia? É muito triste ver a bandeira patriótica entregue à esquerda portuguesa e a direita amestrada de cauda a abanar a quem defende os interesses de outros países.

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  4. A "esquerda", a "direita" e os "rigorosamente ao centro" têm as suas centrais de propaganda e parte dela, como é bom de ver, concentra-se à volta de cada governação como, certamente, voltou a acontecer. Falta um pormenor importante, relacionado com penalizações dos reguladores de 2 paises junto a um banco de um terceiro país. Não há por aí muita informação, mas existe alguma.

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  5. Engraçado, eu ouvi as declarações do Schäuble e não as achei nada de especial (especialmente se as compararmos com outras feitas anteriormente). No entanto, não deixa de ser verdade que o referido senhor é no mínimo imprudente e tem alguma tendência para ultrapassar os limites (e isto não é só na UE - internamente passa-se o mesmo, ao ponto de já ter tido choques com a própria Merkel por causa disso mesmo).

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    1. Concordo completamente. Por isso, é que, de início, me surpreendeu um bocado tanta indignação com as palavras do senhor. Ele já disse coisas bem piores.

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