quinta-feira, 18 de fevereiro de 2016

Lei da Atracção (ou da Traição)

Saiu uma notícia de que, esta semana, Portugal decidiu emitir títulos de dívida a três e 11 meses. Há aqui qualquer coisa de muito errado. É que, se sabiam que tinham de emitir dívida, os nossos governantes não deviam ter andado a fazer banzé nas semanas anteriores e causado o aumento das taxas de juro. No entanto, o inverso também pode fazer sentido: será que o governo sabe que vem aí ainda mais banzé e decidiram emitir dívida porque presumem que taxas a este nível já não mais as irão conseguir? E eu que pensava que o adiamento do empréstimo do FMI era para se evitar ter de ir aos mercados.

As taxas de juro desta dívida até são baixinhas porque os prazos são curtos, logo há menos incerteza, mas se adiámos o empréstimo do FMI e, no entanto, continuamos a ir ao mercado emitir dívida de curto prazo, então vamos usar esse dinheiro exactamente para quê? Só há duas opções: vamos pagar dívida antiga com empréstimos de curto prazo, o que pode ser arriscado se ficarmos sem dinheiro na tesouraria como aconteceu durante o governo Sócrates, ou vamos gastar este dinheiro em despesas correntes, o que não gera crescimento, mas assegura-nos uma dívida crescente.

No entanto, tenhamos fé, que ainda não paga imposto! E não se preocupem, há sempre compradores para a dívida desde que os investidores sejam recompensados pelo risco e taxas de juro altas são necessárias para atrair investidores com mais apetite para risco. A JP Morgan já disse que as yields da dívida portuguesa estão a tornar-se muito atractivas. Isto é uma maneira simpática de nos dizer "Obrigada". Um governo que esperneia e assusta os mercados antes de emitir dívida é tipo o Pai Natal dos credores. O Pai Natal dos contribuintes é que nunca mais aparece...

5 comentários:

  1. "Um governo que esperneia e assusta os mercados antes de emitir dívida é tipo o Pai Natal dos credores"
    - Enquanto anedota não está nada mal.

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  2. A emissão de dívida pública destina-se a financiar o deficit orçamental. A algum lado eles têm de ir buscar a guita que falta.

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  3. Ó Rita, é uma chatice os mercados não entenderem as nossas ideias e desejos.
    http://www.jornaldenegocios.pt/mercados/detalhe/portugal_paga_a_taxa_mais_baixa_de_sempre_em_leilao_de_divida_a_12_meses.html
    O que parece existir de errado não é Portugal emitir dívida. É emitir tão pouca e não aproveitar esta maré.

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  4. Cá está. A reestruturação da dívida sem gritos nem bandeiras, na tranquilidade.
    http://www.jornaldenegocios.pt/mercados/obrigacoes/detalhe/igcp_avanca_com_tres_leiloes_de_recompra_de_divida.html

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