quarta-feira, 7 de setembro de 2016

Sondagens: Trump vs. Clinton

O Rui Fonseca quer que eu comente a sondagem da CNN, que dá vantagem de 2% a Donald Trump. Note-se que a margem de Trump nesta sondagem é inferior à margem de erro da amostra (+-3,5%), logo não é assim tão certo que Trump tenha a liderança. Julgo que os resultados tiveram muita divulgação porque são de uma cadeia televisiva e, como tal, é fácil partilhar vídeos na Internet. Esta sondagem teve uma amostra de 1.001 indivíduos:
The CNN/ORC Poll was conducted by telephone Sept. 1-4 among a random national sample of 1,001 adults. The survey includes results among 886 registered voters and 786 likely voters. For results among registered or likely voters, the margin of sampling error is plus or minus 3.5 percentage points.

Fonte: CNN

The Washington Post também publicou hoje uma sondagem; nessa é Hillary Clinton que detém a liderança, inclusive no Texas, que é um estado tradicionalmente Republicano. Esta sondagem teve uma amostra de mais de 74.000 indivíduos:
The survey of all 50 states is the largest sample ever undertaken by The Post, which joined with SurveyMonkey and its online polling resources to produce the results. The state-by-state numbers are based on responses from more than 74,000 registered voters during the period of Aug. 9 to Sept. 1. The individual state samples vary in size from about 550 to more than 5,000, allowing greater opportunities than typical surveys to look at different groups within the population and compare them from state to state.

Fonte: The Washington Post

A segunda sondagem, por ter uma amostra muito maior, dá-nos um nível de confiança maior, até porque os EUA são um país tão grande que 1.001 indivíduos dificilmente apanham todas as tonalidades do país, pois é necessário ter em conta que o efeito do estado onde se está é muito importante. Nesta sondagem, Hillary Clinton domina os estados que têm mais peso para o Electoral College.

No final, tudo depende da forma como as pessoas foram seleccionadas e da representatividade das amostras face à população de pessoas que votará. Há muita gente que diz que vota e depois não vota.

Note-se que a abstenção é mais alta nas camadas mais jovens, mas as camadas mais jovens usam mais a Internet, logo uma sondagem administrada pela Internet, como é o caso da do WashPost, pode ser mais representativa da opinião dos mais jovens. Por outro lado, as sondagens por telefone podem incluir mais pessoas que tenham telefone fixo, o que é uma característica das pessoas mais idosas, que também costumam ter taxas de abstenção mais baixas. Ou seja, tudo com um grão de sal...

19 comentários:

  1. Obrigado pela prontidão da resposta.
    Já li o WP e, deste modo, vou deitar-me mais tranquilo.
    Pensar na hipótese de Trump ganhar desgosta-me.

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    1. De nada! O prazer foi meu... E até nem fiz piadas de mau gosto porque sei que não as aprecias. ;-)

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    2. Piadas de mau gosta da Rita?
      Não tenho dado por elas.

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  2. Penso que cada sondagem individual não é muito relevante. Porém, e isso é mais significativo, a tendência geral das sondagens desde Agosto (desde a "semana horribilis" de Trump, que mostrava uma diferença de quase 8% a favor de HRC) é a recuperação de Trump e a manutenção ou mesmo queda das intenções na Hillary. Tal não aconselha sonos muito tranquilos...

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    1. Pois não. Esta tendência é uma insolência.

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    2. De um ponto de vista americano, estou seguro que dormirão todos muito mais sossegados, claro, com o regresso do casal mais corrupto de sempre da vida política americana à Casa Branca. A alternativa, é verdade, está longe de ser brilhante.

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  3. Há ainda um aspecto que me parece importante. Muita gente não admite nas sondagens que irá votar num candidato percebido como mau pelos media em geral. Isto pode beneficiar Trump no resultado das eleições.

    Contrariamente à Rita, ao Rui e ao iv estas sondagens não me desagradam nada embora as vá tomando sempre com a necessária cautela. Embora torça para a vitória de Trump não estou assim tão convencido de que venha a acontecer.

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    1. Sinceramente, não percebo como podes desejar a vitória de Trump. O homem é um desastre. Fizeste um short ao dólar e estás a contar beneficiar do crash?

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    2. Ahahahah, não, não. Aliás, como disse, torço para que ganhe mas não conto que acabe por ganhar.

      Muito do que tem sido dito sobre Trump é ipsis verbis o que se dizia sobre Reagan. Um inculto (por acaso isto até era verdade), bronco, desbocado, outsider, blablabla. Foi dos melhores presidentes Americanos de sempre.

      Penso que para os cidadãos Americanos poderá acabar com várias das tonteiras do Obama, começando logo pelo Obamacare, que irão melhorar a vida das pessoas. Há ainda o aspecto da liberdade e iniciativa individuais que muito prezo e fizeram dos Estados Unidos o grande país que era até há cerca de 10-15 anos e tem-se vindo a erodir. Penso que ninguém tem dúvidas que Trump permitirá uma sociedade muito mais livre do que Hillary. Mas aqui nem sequer me meto muito dado ser um problema Americano e dos cidadãos Americanos. Para o resto do mundo, porém, não tenho quaisquer dúvidas de que Trump será um bom presidente. Já reparaste que quando os US têm um presidente fraco (como é o caso agora) o mundo fica sempre mais perigoso e acabam a haver mais problemas e guerras do que com presidentes fortes? Foi assim com Kennedy que se apresentou também com muitas falinhas mansas e era encarado pelo mundo - pela URSS especialmente - como um fedelho mimado, foi assim com o desastre Carter que ainda hoje estamos a pagar e foi assim com Obama. Inversamente, sempre que os US tiveram presidentes fortes, gente que aplica a máxima "se queres a paz prepara a guerra" o mundo ficou mais seguro, mais pacífico, mais sossegado. Este é um dos aspectos pelos quais favoreço muito Trump. Ao nível económico mundial também o favoreço. Parece-me que, e decorrente do anterior, pode regressar uma certa «pax Americana» que irá beneficiar economicamente todo o ocidente e mais além.

      Por outro lado, Hillary é que não, jamais. Uma vitória de Hillary é a vitória da trapaça (vidé toda a história surreal com os emails), do jogo de poder (aqueles financiamentos via Fundação Clinton e dinheiros ainda quando ela estava na administração são surreais), da corrupção política (idem), do complexo militar-industrial (ibidem com mais uns acrescentos), das nhonhices que acabam em guerras sangrentas travadas com poucos meios (vidé toda a política de Obama incluindo quando Hillary era sec de estado), dos consensos idiotas e super frageis que deixam toda a gente descontente (tem sido a história da política externa de Obama), do aumento das tensões sociais a vários niveis nos EUA (as tensões actuais em quantidade e intensidade não têm paralelo no século XX Americano), da intromissão do Estado Federal na vida de toda a gente e mais alguma com cada vez mais intensidade (nunca, nunca na história da União o Estado Federal legislou tanto como com o orelhudo) e se estivesse a escrever algo mais de fundo, mais estruturado, certamento poderia ampliar muito mais tanto os itens como a explicação de cada um.

      Não tenho quaisquer dúvidas em torcer por Trump.

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    3. O Obamacare, do qual eu beneficio, não irá terminar pela simples razão de que, se terminar, milhões de americanos ficarão sem seguro de saúde ou terão opções que são completamente irrealistas. Por exemplo, eu pago $280/mês, mas se for a uma seguradora, pago $600+ por mês. Nota que eu já pago $1523+ por ano em Medicare, do qual não beneficio porque não tenho mais de 65 anos. Ou seja, o sistema de saúde dos EUA é uma grande merda. Andamos aqui a pagar seguros malucos para os médicos viverem em palacetes e as pessoas nem por isso serem mais saudáveis.

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    4. O Obamacare irá acabar a bem ou a mal pelo simples facto de não haver dinheiro para o pagar. Os carriers estão a sair de vários Estados e há pelo menos um county no Arizona que ficou sem nenhum health carrier. Os custos estão a ser astronómicos tanto para o Estado como para as pessoas com os prémios dos seguros de saúde a aumentar astronomicamente como nunca antes de haver essa coisa. E, ainda assim, os seguros estão a ser uma ruína para os carriers que, por isso, vão abandonado vários exchanges.

      Sim, antes de haver Obamacare havia muita gente sem seguro de saúde. O que não é sinónimo de não terem cuidados de saúde nenhuns que é a ideia que muita gente tem na Europa. Actualmente há famílias que têm dificuldades em manter os pagamentos dos seguros de saúde dado o tanto que têm aumentado e muitas desistido mesmo dos seguros que tinham indo para outros com piores condições.

      Os seguros de saúde nos EUA são complicadissimos e quando aí estive desisti de tentar ter um seguro de saúde Americano tendo optado por manter a cobertura do seguro internacional que já tinha ampliada aos EUA. Agora não tenho a cobertura activa mas a minha seguradora faz seguros por dias quando preciso ir.

      A saúde aí é realmente cara a mais não poder mas sinceramente nunca consegui perceber exactamente os motivos. Sim, os médicos nos EUA ganham substancialmente mais do que no resto do mundo. Mas não é só isso. Tudo quanto são exames custam horrores e os medicamentos são um assalto. Há qualquer disfuncionalidade no mercado da saúde nos EUA que nunca consegui perceber muito bem e que leva a que tudo custe horrores.

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    5. O que tu dizes não faz sentido. O Obamacare é um mercado de seguros, não é um plano em si, logo não é um custo. O meu plano de saúde pelo Obamacare não custa nada ao governo e permite-me trabalhar numa empresa que não oferece seguro de saúde, ou seja, dá-me mais flexibilidade no mercado de trabalho, o que produz uma melhor alocação de recursos.

      Há pessoas que recebem subsídios pelo Obamacare, mas essas pessoas sem seguro de saúde são um custo enorme para a economia, pois se ficam doentes, custam mais dinheiro do que se tiverem cuidados de prevenção. Há muitas gorduras nos custos de saúde e muitas delas foram introduzidas pelo Congresso e não têm nada a ver com Obamacare--por exemplo, se chegares a uma Urgência de ambulância, tens prioridade de atendimento, logo muita gente chega de ambulância para não estar à espera; se fores a uma urgência e não tiveres seguro, tens de ser atendido por lei, independentemente da tua capacidade de pagar a conta, etc.

      O que irá acabar é o sistema de saúde pró-lucro porque os seus custos crescem muito mais depressa do que a economia. Tu já tens reformados a ir para países com serviços de saúde mais baratos e de melhor qualidade do que os serviços americanos, ou seja, a Willingness to Pay dos americanos irá diminuir. Daqui a 20 anos, à medida que os baby-boomers morrerem, irá haver uma crise no sector de saúde porque a maior geração de idosos de sempre irá ser seguida por uma geração mais pequena, com menores poupanças, e mais disponível para mudar de país.

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  4. Uma das componentes do ACA foi a criação dos exchanges onde são vendidos os seguros ao abrigo do Obamacare. O que tem acontecido são carriers a sair de vários exchanges tendo chegado ao ponto de um county no Arizona não ter hoje em dia nenhum carrier a oferecer seguros lá o que levará os seus habitantes a perderem qualquer seguro de saúde subsidiado a partir do próximo ano. Isto porque em certos sítios é tão cara a prestação a dadas populações que não há dinheiro que aguente. Isto é, essencialmente, o Obamacare a ruir por si próprio e a deixar muita gente pior do que antes dele existir dado os prémios de seguro terem aumentado tanto que muita gente que antes podia pagar os prémios anuais dos seguros tradicionais - embora agora sujeitos às regras do ACA - deixa de poder faze-lo. Tanto quanto tenho lido só há um county que ficará sem qualquer carrier no próximo ano mas há muitos mais em risco e, ao nível estadual, os habitantes de NC e TN estão em risco de ficar sem nenhum carrier nos exchanges. O Obamacare, por seu lado, tem também custos importantes dado, abaixo de certo nivel de rendimentos anual, haver um subsídio do Estado.

    O problema grande e motivo pelo qual os prémios de seguros têm aumentado brutalmente, tem custado um dinheirão ao Estado e ainda assim os carriers não conseguem sobreviver em certos sítios tem a ver com as coberturas obrigatórias do ACA. São tantas e cobrindo pré-existencias que não se tem conseguido paga-las. Nota, são tanto os seguros de saúde lucrativos como os carrier sociais criados na sequência do Obamacare que estão a sair de vários sítios. Não apenas os lucrativos.

    O turismo de saúde feito por Americanos é coisa antiga, muitos deles pondo-se em situações de efectivo risco para a sua saúde em países com outros sistemas de saúde para poderem ter cuidados gratuitos. Em Espanha isso a dada altura tornou-se um problema complicado e que custava fortunas ao Estado Espanhol e às autonomias até se ter acabado com o assunto. Hoje em dia, em Espanha, já não se fazem as cirurgias e tratamentos brutais que eram feitos há 10 anos a estrangeiros não-residentes.

    Sinceramente não faço ideia como resolver o problema da saúde nos EUA e nem sei sequer se de alguma solução precisa dado o contexto Americano, muito, muito diferente do Europeu. Com o Estado a querer determinar e mandar já se viu que não é sendo que muito do que está a acontecer era previsivel e lembro-me de ter lido algumas análises sobre o assunto na altura em que a coisa foi discutida a prever exactamente a impossibilidade de pagar o Obamacare com todas as coberturas a que obriga.

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    1. A questão da inexistência de cobertura nesse condado do Arizona é principalmente politica: a inexistência de uma exchange gerida pelo estado (devido a boicote ao ACA pelo governo estadual) é a verdadeira razão.

      De qualquer forma a ACA tem falhas, a principal das quais é a inexistência de uma alternativa pública para as situações em que as seguradoras não fornecem o serviço. Claro que a possibilidade de uma alternativa pública passar no governo federal parece nula nas situações atuais.

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    2. iv, os carriers têm várias plataformas através das quais podem oferecer os seus seguros sendo a mais simples www.healthinsurance.org. Por outro lado, a decisão de entrar, permanecer ou sair dum dado mercado é dos carriers, não dos governos estaduais. A verdadeira razão é que nesse county em particular grande parte da população tem doenças muito complicadas, baixos rendimentos e condições pré-existentes que os carriers têm que cobrir. Não há dinheiro que chegue e por isso os carriers têm saído. Mesmo os co-op que são beneficiências sem ojectivos lucrativos saem. Isto, claro, os que não faliram que em certos Estados são mais do que os que conseguem mais ou menos ir sobrevivendo. Note, iv, que têm saído carriers de exchanges em toda a união e no Tennessee e North Carolina é possivel que em 2018 não fique nenhum. Sítios onde já só há um carrier não têm conta.

      O ACA não tem falhas. É uma falha em si mesmo! O iv aponta o actual governo federal como causa para uma coisa dessas não existir. A questão, porém, vai muito mais além. Vai à população Americana e aos seus valores. Se o Obamacare (ok, é um desastre mas não chega tão longe) já dividiu a sociedade Americana sensivelmente ao meio, algo com intervenção pública a esse nível e dessa magnitude seria, estou certo, recusada esmagadoramente.

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  5. A Rita é uma conhecida e impenitente propagandista da candidatura Clinton (e do Santo Obama), por a candidata ser mulher e por ser do Partido Democrático. Honra lhe seja feita que ela nunca aqui afirmou pretender ser independente e objectiva na análise dos dados (pelo menos destes). Mas, também por isso - e todo o burro come palha - quem quiser ter uma noção concreta da campanha eleitoral nos EUA ficará muito mal servido se se fiar nela.

    Hillary Clinton ainda é, de facto, a favorita clara, mas as sondagens apertaram. Posso sugerir, para quem queira ver o assunto desapaixonadamente - e não com óculos feministas e pro-Dem - alguns websites:

    http://fivethirtyeight.com

    http://www.realclearpolitics.com (este tem múltiplos acessos a uma variedade de opiniões e sondagens, muit melhores que as da Rita).

    Bom proveito a todos.


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    1. Eu juro que não te percebo. Uma vez perguntei-te em quem votarias, se no Trump ou na Clinton. Tu disseste que detestavas Trump e votarias na Clinton; agora criticas-me por eu fazer a mesma escolha. Das duas uma: ou estás a gozar comigo ou não tens noção do que dizes e fazes.

      Quanto às minhas escolhas políticas: it's a free country -- live with it!

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    2. Lá estás tu a tentar virar o bico ao prego, mas isso já é habitual, infelizmente. Não gostas muito de ser contrariada, é um facto.

      Não, é claro que não estou a gozar contigo. Em parte alguma do que escrevi pode ver-se favoritismo meu em relação ao Trump, personagem que abomino. Só estava a tentar ajudar os teus leitores numa interpretação mais objectiva que a tua - o que não é muito difícil - da campanha em curso. E tu percebeste isso muito bem e daí a tua reacção de estilo Hillary Clinton.

      Quanto ao free country, eu sei que é, e estimo muito esse país, como também sabes. E vivo bem com as tuas escolhas, só objecto quando as tentas impingir facciosamente àqueles que, de fora, tentam entender esse grande país.

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    3. Quando se tenta entender os EUA, há que saber se existem inúmeros pontos nos quais nada conta quem é ou vai ser o seu Presidente ou a sua Presidente. Que ele (ou ela) mandará muito menos que o que muita gente supõe ou faz crer...

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