sexta-feira, 23 de setembro de 2016

Um sorriso pode ser uma solução

Uma coisa que já é óbvia é que os nossos governantes não têm estratégia nenhuma para o país e, pior do que não ter estratégia, é que eles não têm ideia nenhuma de como melhorar a vida das pessoas efectivamente. Só conseguem pensar em termos de manipulação de impostos e subsídios, com umas proibições pelo meio. Normalmente, nem sabem quem é afectado, como, e que valores estão envolvidos: têm uma ideia, implementam-na, se o povo deixar, e depois é que vêem se aquilo funcionou ou se ainda fez a situação pior do que o que estava. Há tanta coisa que poderia ser feita com um bocadinho de imaginação e vontade, mas a realidade é por vezes um bicho de sete cabeças.

A realidade morde, especialmente a quem não tem dentes ou os tem em mau estado. Quem tem dentes em pior estado são as camadas mais pobres da população e é um ciclo vicioso: por serem pobres não gastam tanto dinheiro na manutenção dos seus dentes e depois, quando ficam com os dentes em mau estado, acabam por ter outras consequências a nível de auto-confiança e perspectivas de emprego, o que reforça o ciclo de pobreza onde se encontram. Ainda é pior do que isso porque, no longo prazo, ter maus dentes também aumenta a probabilidade que se desenvolva outros tipos de doenças, logo acabam por ficar mais doentes, o que pode reduzir a sua produtividade, e aumenta as despesas do estado com os cuidados de saúde dessas pessoas.

Eu gostaria de ver, em Portugal, um programa a nível nacional que promovesse a saúde dentária e a aparência cosmética das bocas das pessoas mais pobres da população -- que tal uma organização não lucrativa*? (Façam um reality show, pelo menos, em vez de andar a discutir o Arquitecto Saraiva e o casal Brangelina.) Acho que isso iria ter consequências palpáveis. Imaginem alguém ir a uma entrevista de emprego com um sorriso confiante versus alguém que tem vergonha de sorrir. Não precisam de imaginar -- a Patricia Motta Veiga** descreve no seu mural no Facebook a diferença que um sorriso faz para uma mulher. E notem que esta mulher que precisava de um sorriso foi acompanhada pela Segurança Social e a proposta de solução que lhe fizeram foi meter o filho numa instituição para ela ter menos um encargo.



* Já tenho nomes:
-- Morde a vida
-- Sorri e vence
-- Portugal a sorrir

** Dava para financiar um projecto para clonar a Patricia Motta Veiga? Aposto que os clones fariam maravilhas a trabalhar na Segurança Social portuguesa...

4 comentários:

  1. Estratégia requer planeamento de longo prazo, algo que não casa muito bem com sociedades muito emocionais que tendem a agir de rompante, desde logo, mas em simultâneo têm imensa dificuldade em seguir raciocínios abstractos complexos como aqueles inerentes ao planeamento. É ainda muito difícil a estas sociedades seguirem realmente um plano dado à primeira contrariedade pensarem logo em como atalhar caminho.

    Não são apenas os governantes que não têm estratégia nem objectivos de longo prazo. A sociedade também os não tem. Aqueles não só não existem sem esta como são seus filhos e reflexo.

    Querias em Portugal um Lee Kuan Yew? Nah, não me parece. Transformar um pântano lá nos confins duma península na mais respeitada praça financeira mundial e país com dos melhores niveis de vida do planeta não é para todas as sociedades. Muito poucas o conseguem, mesmo. Ver mais além, meritocracia férrea, estudo apurado seguido de acção determinada, disciplina, resiliência em face das adversidades, trabalho árduo e bem dirigido e várias outras do mesmo leque são virtudes apenas ao alcance de algumas sociedades. Não de todas.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Às vezes, Portugal surpreende. A rapariga fez hoje cirurgia. Um médico ofereceu-se para lhe colocar implantes sem custo para ela. Já sorri, tem entrevistas marcadas, e, se tudo correr bem, conseguirá emprego brevemente. Também tem um sítio onde viver e a Patrícia está a tentar angariar mais fundos, para além dos €220 que já recebeu, para ela conseguir pagar as contas até receber o primeiro salário. Se quiseres contribuir para a causa, diz-me que eu envio-te a informação. É das tais coisas: mais do que peixe, há pessoas que só precisam que lhes dêem uma cana.
      Bom fim-de-semana...

      Eliminar
    2. Não é muito meu costume mas sim, é algo em que posso contribuir e com prazer. Não tenho fb mas presumo que estejam lá as indicações para ajudar, certo? Alguém com fb pode ir ver o da Patrícia Motta Veiga e encontra lá o que fazer, presumo. Estou certo? Sendo isto é-me fácil mandar alguém em Portugal fazer por mim.

      Eliminar
    3. Oh, que bom! Podes enviar-me um e-mail e eu dou-te instruções e ponho-te em contacto com ela. O meu e-mail é carreira.rita@gmail.com. Gracias, darling!

      Eliminar

Não são permitidos comentários anónimos.