sexta-feira, 18 de janeiro de 2019

Dia 17

Estamos no dia 27 do shutdown do governo americano. Na rádio entrevistam uma mãe de família que limita as suas próprias refeições para ter comer para dar aos filhos. Não pode ficar em casa porque é guarda prisional, que é considerado um serviço essencial. Não pode abrir cartões de crédito porque se ficar com um mau historial de crédito por não ter dinheiro para pagar o mínimo perde o emprego. Não pode arranjar um emprego part-time porque precisa de autorização do governo para o fazer e o governo está fechado. Não há saída, diz ela. Já pensou em tudo mas o risco de acabar numa situação pior é alto.

Os Democratas dizem que o Presidente é que tem a culpa, mas que Mitch McConnell, o líder dos Republicanos no Senado poderia terminar o shutdown se quisesse: bastava o Congresso passar uma lei com super-maioria que seria à prova de veto do Presidente. Os Republicanos culpam os Democratas por serem intransigentes. O Presidente culpa os Democratas por não lhe quererem pagar o muro, mas no ano passado, quando os Democratas lhe ofereceram $25 mil milhões para o muro em troca de uma lei para os Dreamers--os jovens que foram levados para os EUA enquanto crianças e que agora são imigrantes ilegais--Trump recusou.

Todos os dias achamos que a situação está insustentável, mas no dia seguinte ela fica pior e ultrapassa limites até há pouco tempo impensáveis. Hoje, Trump proibiu Nancy Pelosi, a Porta-Voz da Câmara dos Representantes, de ir ao Afeganistão porque o governo estava fechado. Isto foi em retaliação de ela ter sugerido que ele adiasse o discurso do Estado da Nação por haver riscos de segurança--note-se que a guarda costeira americana está afectada pelo shutdown, mas os militares não estão. Note-se que o Presidente não devia ter revelado a viagem da Porta-Voz porque põe em causa a segurança dela e do pessoal que viaja com ela e a protege. (É estranho que os Republicanos, que têm a mania da segurança nacional façam revelações deste tipo--ver o caso Valerie Plame durante a Administração Bush.)

Rudy Giuliani, o advogado de Trump e antigo Mayor de Nova Iorque, decidiu lançar uma bomba: disse que nunca tinha negado a possibilidade de haver pessoas da campanha de Trump que tivessem colaborado com os russos, mas sem o conhecimento de Trump. Especulou-se se Giuliani sabe de alguma coisa que esteja para sair da investigação de Robert Mueller e por isso esteja a tentar semear dúvida. Em poucos dias saberemos.

Esta semana, que já parece há tanto tempo, William Barr, nomeado a Attorney General, disse que poderia não tornar público o relatório de Mueller e, em vez disso, escrever ele próprio um sumário. É muito difícil publicar uma coisa daquelas porque poderia revelar segredos de como a informação tinha sido obtida. Para além disso, a primeira pessoa que terá acesso ao relatório será o próprio Presidente e este pode não o querer público. Mas o próximo Presidente depois de Trump pode sempre mudar de ideias.

Ou seja, é quase uma certeza que saberemos a seu tempo o conteúdo do relatório. A única incerteza é como a história irá julgar os protagonistas da Grande Novela Americana...

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