sexta-feira, 28 de maio de 2021

Contos

Enola Gay, a canção dos Orchestral Manoeuvres in the Dark, foi lançada em 1980 e, nesse ano, passei parte do verão em Lisboa e na Costa da Caparica, junto da minha tia, que se casou. Uma das amigas preparou rissóis e recordo-me de estar na cozinha da senhora e ver o vídeo na TV. Sempre achei que a canção era espectacular, mas na altura não fazia ideia que era sobre a bomba atómica de Hiroshima. Parecia-me feliz, mas não é.

O que foi feliz foi esse verão, em que a minha tia mandou fazer um vestido para mim e outro para a minha irmã, comi caracóis na Costa, e íamos à praia. Numa dessas tardes de praia, havia uma senhora já de idade, vestida de preto, que quando chegámos estava a contar uma história a várias crianças. Era um conto do qual já não me recordo, mas lembro-me de ter gostado e de querer ouvir mais. No dia seguinte, quando chegámos à praia pedi que me contassem uma história, mas ninguém me ligou e nesse dia fiquei sem uma história, o que deixou um certo sentimento de frustração que penso que dura até hoje. 

Talvez uma forma em que essa desilusão se tenha manifestado é o meu interesse pelo género literário "short stories", os tais contos em português. Numa das minhas últimas idas à livraria Burke's, a tal que é uma das mais antigas dos EUA, tendo sido fundada em 1875, e que vende livros novos e usados, encontrei uma preciosidade: uma selecção de "short stories" do Egipto, editada em 1982, pela secção de relações culturais internacionais do Ministério da Cultura do Egipto.

Durante as minhas férias comecei a lê-lo e, na introdução enquadra-se a importância de histórias, contos, fábulas, etc. na tradição árabe. O livro mais famoso de contos é talvez As Mil e Uma Noites, em que uma colecção de histórias é urdida numa história envelope, em que Shaherazade começa a contar uma história nova cada noite que deixa inacabada até à noite seguinte, para cativar o interesse do rei Shariar e assim evitar que ele tome uma noiva nova cada noite, que manda matar de manhã. É desta forma que Shaherazade salva as outras mulheres.

Uma das ideias fulcrais da cultura árabe era a crença de que as mulheres eram mais astutas do que os homens. O Jardim Perfumado, escrito como um manual de sexo e erotismo no século XV, incluía várias advertências e pequenas histórias acerca de como várias mulheres tinham enganado homens e, por isso, convinha aos homens aprender a satisfazer as mulheres, para que elas não sentissem necessidade de os trair. Parece-me bem.  


  

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