sexta-feira, 21 de maio de 2021

Um Amor Feliz

O meu objectivo para o dia de hoje era terminar de ler "Um Amor Feliz", do David Mourão-Ferreira, que adquiri há pouco tempo pela Livraria Varadero, que até tinha uma edição com a capa marota que escandalizou o país. Também me decidi a andar mais, tanto na praia, como na parte florestal do parque, ao pé dos lagos. Passeei pela praia logo de manhã e, apesar do forte vento, foi muito agradável. Uma das minhas coisas preferidas destes últimos dias tem sido ver os pelicanos a voar. Parecem tão mais pequenos e graciosos no ar do que quando os vemos em terra.

Para o almoço e para variar o meu repertório gastronómico, apanhei o autocarro grátis que anda pelo parque e fui ao restaurante Woodside. A estrada que atravessa o parque, que foi por onde eu vim na Segunda-feira, está a ser arranjada e o motorista avisou-me que iria levar uns 40 minutos porque tinha de ir pela cidade. Decidi fazer a viagem, dado que não tinha uso mais premente para o meu tempo. No início fui a única passageira e o motorista meteu conversa. No sul do EUA, é normal conversar com estranhos.

Contou-me que era motorista ali há meses apenas. Há trinta anos, tinha começado a trabalhar num hospital na parte de manutenção, depois passou para a parte de distribuição de correio, na qual se reformou. Mesmo reformado, arranjou um emprego a transportar carros de cidade para cidade, e agora é motorista no parque. Era um senhor muito simpático, muito preocupado com que eu entendesse como usar o autocarro para não ficar sem boleia. 

Deixou-me no restaurante, onde almocei na esplanada, e aproveitei para adiantar mais um bocado a minha leitura. Passado mais de meia hora, aparece ele na esplanada a perguntar se eu ainda estava bem ou se precisava de boleia. Ele tinha terminado a ronda e o próximo autocarro a passar pelo restaurante seria o do colega, uma pessoa que ele admirava muito porque conseguia conversar sobre qualquer coisa, tinha muita cultura geral, explicou-me ele logo no início quando o conheci.

Respondi-lhe que ainda estava bem e ia ficar mais um bocado a ler. Voltou a lembrar-me que, se eu quisesse ir embora, podia sempre pedir aos empregados do restaurante para contactarem os autocarros para me irem buscar mais depressa e regressou para o seu autocarro ao mesmo tempo que me dizia que viria ver se eu ainda estava bem da próxima vez que ali passasse. Continuei a ler e, como prometido, ao fim de um tempo, ele lá apareceu outra vez e fui para o autocarro. 

Desta vez havia dois outros passageiros: um casal já de idade, que iniciou conversa comigo perguntando-me se a comida era boa. Durante a nossa viagem fiquei a saber que este casal tinha comprado uma caravana há uns três anos e têm passado todo este tempo a conhecer os EUA; quando as fronteiras com o Canadá abrirem, também contam ir mais para norte. 

São originários do estado de Washington, mas mudaram-se para o Arizona. Nunca tinham estado no Alabama, logo esta parte do país é-lhes uma autêntica novidade, diziam. Perguntaram-me se estava a acampar ou se era hóspede da pousada e, perante a minha resposta, aproveitaram para me fazer perguntas acerca dos restaurantes e da pousada. Sugeri-lhes que fossem ao café porque dava para se sentarem a uma mesa na varanda, em frente ao mar, e ficaram interessados. Era um casal simpático e parecia darem-se muito bem.

Quando o motorista me deixou em frente da pousada, saí do autocarro em modo automático, mas depois lembrei-me de lhe dar uma gorjeta. Dei-lhe $20, o que é bastante generoso, mas ele tinha sido muito boa pessoa, muito preocupado com o meu bem-estar. Perguntou-me se tinha a certeza que lhe queria dar tanto dinheiro. Claro que sim, era mesmo aquilo que lhe queria dar e despedi-me dele, agradecendo-lhe o ter-me ido buscar.  

De tarde, tentei caminhar mais um pouco, mas os trilhos estavam fechados, não percebi se das obras ou devido ao acasalamento das águias (há dois ninhos no parque), duas das hipóteses avançadas durante a conversa no autocarro. Mudei de direcção e regressei ao mar e fui investigar o pontão. Havia muita gente e não me agradou, logo não fiquei muito tempo.

Continuei a ler até chegar à hora do jantar, que tinha marcado para o restaurante Perch. Estava tudo óptimo, mas a lista de cocktails fez-me recordar da minha visita a Liverpool, há uns anos, na qual fui ao The Alchemist duas vezes porque à primeira não percebi que era para tomar cocktails. Tirando o facto de eu insistir em continuar a usar máscara em recintos fechados, excepto restaurantes, a vida até tem estado bastante normal.   



Pelicanos sobre a água

A praia pública fechada

Quatro humanos e uma garça

Pelicanos sobre terra

Tomar café com uma gaivota

Esplanada de almoço no Woodside


Passeio vespertino interrompido

Cocktail de fim de tarde no Perch

Polvo no Perch


Toucinho no Perch

Perch: onde terminei "Um Amor Feliz"

3 comentários:

  1. Quando li esse livro categorizei-o como muito bonito. Onde moro (Caparica) o escritor passava por aqui férias numa casa que acabaram de demolir para contruir novos apartamentos.

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    1. Também gostei muito. Aliás, recordou-me do Portugal entre a minha infância e juventude. Fiquei um pouco triste de terminar, como se tivesse saído outra vez do país. Tenho pena que a casa tenha sido destruída. Os prédios de apartamentos não são muito bonitos, nem as urbanizações são interessantes.

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    2. Também tenho pena. Era uma casa muito bonita com um aspeto rústico muito agradável. Agora teremos apartamentos de linhas monótonas destoadas da zona que é de moradias bonitas com vista para as praias da Caparica.
      Gosto muito de acompanhar os seus textos. Vou ficando a saber mais do que é viver na América.

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