sexta-feira, 4 de dezembro de 2015

A (i)moralidade da almofada

A Esquerda está muito irritada com o "desaparecimento" da almofada financeira--suponho que desapareceu o dinheiro com que iam implementar as suas políticas até às próximas eleições. A Mariana Mortágua quer a fortaleza económica que o PSD/CDS "prometeu". Quer porquê? Não passaram as últimas semanas a tentar convencer-nos que os portugueses não queriam uma fortaleza económica, queriam um país com dívida pública mais alta do que a planeada pelo PSD/CDS? A propósito, qual era o valor da almofada financeira em 2011?

Recordam-se, certamente, de o LAC aqui ter mencionado que Portugal tinha almofada financeira porque escolheu guardar o dinheiro em vez de amortizar dívida, ou seja, não foi dinheiro que caiu do céu: se este governo não tivesse a tal almofada, a dívida pública seria ligeiramente inferior à que é hoje. Ter uma almofada financeira é uma preferência e não é imoral ter ou não ter almofada. O que é imoral é o PS ter a clara preferência de não ter uma, mas gostar que o PSD lhe deixe uma quando chega ao governo.

A comunicação social devia pedir explicações ao PS desta dualidade. Se bem me recordo, quando a Direita chegou ao poder, em 2011, a Comunicação Social foi extremamente hostil ao novo governo. Eu gostaria que tal comportamento fosse igual para todos: se é hostil a governos de Direita, seja também hostil a governos de Esquerda. Eu gosto de um Comunicação Social hostil a todos, não pensem que estou a dizer que devia ter sido menos hostil à Direita.

Mas tratemos dos números. A dívida pública portuguesa atingiu o pico de 228.918 milhões de euros no terceiro trimestre de 2014 e estava em 227.079 milhões de euros no segundo trimestre de 2015. A almofada financeira prevista no OE para 2015 era de 945,4 milhões de euros, o que corresponde a 0.42% da dívida pública no segundo trimestre de 2015 e, fazendo as continhas (usando o rácio da dívida pública de 130,2%, que é o último divulgado), a sensivelmente 0,54% do PIB.

A almofada financeira tem custos e benefícios como tudo. Custa juros, mas permite a Portugal não estar sujeito às vicissitudes do apetite do mercado por dívida pública portuguesa. É verdade que o BCE está a comprar a dívida no mercado secundário, mas a boa-vontade do BCE também tem um custo: se damos a impressão que gastamos dinheiro a torto e a direito, será difícil convencer os sócios do BCE, i.e., os outros países da Zona Euro, que somos uma fulanos castiços merecedores de crédito barato.

Alguém me sabe responder que valor de almofada financeira que o PS planeia deixar para o próximo governo?

12 comentários:

  1. Porque é que o programa do PS defendia um défice de 3,2% para 2015 e agora o "governo" PS está tão aflito que o défice não fique abaixo de 3%? É simples. O PS levou uma nega, foi desautorizado em Bruxelas e agora procura desviar as atenções culpando o anterior governo com a execução da "almofada" orçamental, quando falta apenas UM mês para acabar o ano.

    Mais interessante vai ser como vão descalçar a bota por não poderem baixar o défice mais "devagar". Resta saber quem será o corno: ou a extrema-esquerda por ter sido enganada pelos socialistas e amochar, ou o PS se os outros lhe puxarem o tapete. Temos pena, not.

    http://www.jornaldenegocios.pt/economia/detalhe/programa_do_ps_preve_defice_de_3_este_ano.html

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  2. Bom dia, Rita, mas segundo tenho percebido do que vou conseguindo ler há de facto uma "almofada financeira", ou "cofres cheios" (mais exatamente dívida não amortizada), no valor aproximado de 20 mil milhões de euros e esta outra "almofada financeira" de que aqui fala tem a ver apenas com o valor dotado no OE para eventuais (mais do que certas) derrapagens na execução do orçamento. E estes dois conceitos estarão a ser confundidos permanentemente na informação/argumentação que tem passado. Ou sou eu quem está confundido? Cumprimentos

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  3. Aditamento e correção: Carlos Guimarães Pinto, economista que admiro bastante e muito informado, alude no blogue "O Insurgente" a reservas financeiras do tesouro a rondar os 10 mil milhões de euros (muito abaixo dos 20 mil milhões que referi e cuja diferença, caso o número estea correto, está certamente relacionada com amortizações extraordinárias da dívida - confesso que não tive tempo para ir verificar agora, porque as minhas filhas estão a acordar...). Mas explica bem a diferença entre estes dois conceitos de "almofada financeira" que têm vindo permanentemente a ser confundidos desde que se introduziu a questão do cumprimento da meta do défice em 2015. Transcrevo o comentário e deixo o link abaixo:

    "Os comentários de que que os “cofres” afinal não estão cheios porque o anterior governo gastou tudo em Novembro e a reserva orçamental é de apenas 61,2 milhões de Euros.
    Primeira burrice: quando se fala em “cofres cheios” fala-se em reservas financeiras do tesouro. Essas estão a rondar os 10 mil milhões de Euros (eram virtualmente zero em 2011 quando a Troika veio). O relatório da UTAO nem sequer menciona essas reservas, que se até subiram ligeiramente em 2015.
    Segunda burrice: aquilo que a UTAO fala realmente é o montante que todos os anos é reservado no orçamento de estado para “despesas extraordinárias”. Esse montante é composto por duas componentes: 533,5 milhões na dotação provisional e 411,9 milhões na reserva orçamental, totalizando 945,4 milhões. Destes 945,4 milhões foram gastos até ao fim de Novembro 630, ou seja, pouco mais de dois terços do orçamentado para o ano inteiro. Do total do montante para despesas extraordinárias para o ano todo, ainda sobra 1/3 apenas para o último mês do ano. Bem sei que temos um governo PS-BE-CDU, mas mesmo assim não será de esperar que num mês se gaste em despesas extraordinárias metade do que se gastou em 11 meses."

    http://oinsurgente.org/2015/12/04/a-burrice-do-dia/

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    1. Obrigada, Martim. Fico a dever-te uma. :-)

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    2. :-) Nada disso, já aprendi tanto a ler-te que ainda tenho uma dívida maior do que a dívida pública nacional!

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    3. A não ser que sejas do BE e não pagues a dívida, estamos ricos!

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    4. Vou transformá-la em obrigações perpétuas e vou pagando...

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    5. Se fizeres como propôs o Paulo Trigo Pereira, transformas isto em obrigações perpétuas de cupão zero. É a forma mais eficiente de pagar dívidas descomunais.

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  4. Rita, reveja o seu raciocínio, o MKrupenski tem razão - a comunicação social está a falar de duas almofadas que são bem diferentes, confundindo tudo e confundindo as pessoas.

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    1. Tiro ao Alvo, a comunicação social está a confundir os leitores e a servir o poder político.

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  5. A Rita não tem que rever nada, apenas tem de respirar fundo. O fundamental do post, expresso nas perguntas do primeiro prágrafo, é ainda mais válido, depois da desmontagem aqui trazida.

    Quem tem de rever tudo é a nossa triste comunicação social que é uma caixa de eco acritica da visão distorcida que esta esquerda nos impinge diariamente.

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  6. Em que é que isto é diferente do que o anterior governo pretendia fazer? Afinal, os socialistas só queriam o poder pelo poder, porque não podem escapar à realidade. E agora vão provar do seu próprio "veneno".

    http://sicnoticias.sapo.pt/pais/2015-12-05-Centeno-defende-reducao-da-despesa-para-cumprir-compromissos-internacionais

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