sábado, 5 de dezembro de 2015

Consumo humanístico

Ontem levei o Pedro Mexia para a cama e terminei de consumi-lo. "Levar o Pedro Mexia para a cama" é uma das piadas que eu uso quando converso com o NAJ. Tem piada por várias razões: (1) quando se lê a obra de Pedro Mexia, um dos fios condutores é a ideia de ele não se ver como uma pessoa que tenha apelo sexual, o "sex appeal" dos americanos; (2) esta ideia é explorada aprofundadamente em "Estado Civil", o livro que eu terminei ontem; (3) O NAJ é que me apresentou à obra de Pedro Mexia, logo poder-se-ia dizer que é uma "inside joke" nossa; e (4) objectificar o nome do autor para se referir ao livro é uma coisa muito americana: "Já leram o último Dan Brown?", por exemplo, e, se há coisas que me definem, são as minhas "americanices".

O universo, por vezes, tem uma simetria engraçada. Num dos últimos textos de Estado Civil, o nome objectificado é o meu. Quando Pedro Mexia fala de Cláudia Vieira, refere-se a ela como "uma rita que não é de cássia e tem umas mamas impositivas." Fiquei chateada por ver o meu nome escrito em letras minúsculas. Ainda por cima porque eu fui baptizada por causa da santa em causa e ver Santa Rita de Cássia, a fonte do meu nome, reduzida a minúsculas é um bocado decepcionante -- um dia conto-vos a história do meu nome. O que vale é que eu, tal como a Cláudia Vieira, tenho umas "mamas impositivas". Até aposto que as minhas são mais "impositivas" e "triunfantes" ("olhó" trocadilho, à la Mexia!) do que as dela: 34 E na Intimissimi.*

Mas notem a contradição. No livro sabemos que o interesse amoroso de Pedro Mexia não o via como um objecto sexual, mas pela forma como Pedro Mexia descreve modelos e actrizes, o estereótipo masculino sobressai. As mulheres apelam primeiramente pela sua aparência física; que saibam pensar, conversar, sejam interessantes, etc., constitui um bónus. Não sei se esta ideia corresponde à realidade do homem, mas é esta a ideia que transpira da página e o livro é autobiográfico.

Há duas semanas, fui a um evento por ocasião do Thanksgiving. Era uma aula de culinária da "Brazilian Friends Foundation". Apesar de haver alguns homens, as mulheres dominavam e, tirando eu, eram todas brasileiras. As mulheres brasileiras prezam muito a sua aparência e, à excepção de uma que foi da aula de ténis directamente para o evento, todas estavam bem vestidas, maquilhadas, e de cabelo impecável. Durante o programa notou-se que os poucos homens que havia tendiam a conversar entre si e vários grupos de conversas entre mulheres se formaram.

Um dos tópicos de conversa no meu grupo de senhoras foi o cuidar da aparência física. Algumas das senhoras mencionavam que os seus maridos vestiam muito bermudas e t-shirts, que dava um aspecto descuidado, como se eles já tivessem desistido de as agradar. Mas pior do que isso, era os maridos olharem para outras mulheres quando na sua presença. O marido que fosse visto a apreciar um "rabo de saia" era imediatamente chamado à atenção. Achei interessante que quase todas estas mulheres fossem casadas com americanos ou homens que tinham antecedentes no norte da Europa (ingleses, noruegueses, alemães). Era como se elas fugissem ao estereótipo do macho latino, uma delas até disse que os homens brasileiros davam muito trabalho.

Uma mulher atraente e inteligente não é estúpida: ela sabe que se está com um homem que repara tanto na aparência física das mulheres, tem o tempo contado. Ela percebe que há o risco de eventualmente outra mulher mais jovem, atraente, e inteligente a substituir. Nem todas as mulheres se sujeitam a esse risco.

* Serviço público: notem que este não é verdadeiramente o meu número, eu tenho vários: 34D, 36C, 34E. Já sabem que o tamanho varia com o tipo de sutiã e marca, uma lição que eu já vos dei, e que devem ter em conta quando forem comprar lingerie, especialmente os homens que vão comprar prendas de Natal para as suas companheiras. Certifiquem-se que elas podem trocar a peça, caso não funcione bem.

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