quinta-feira, 31 de dezembro de 2015

Não deixes para amanhã o que podes fazer hoje




“Good resolutions are useless attempts to interfere with scientific laws. Their origin is pure vanity. Their result is absolutely nil.” —Oscar Wilde, The Picture of Dorian Gray

Fez um ano que o Luís me convidou para escrever para a Destreza. Lembro-me perfeitamente onde estava. Tinha aterrado em Lisboa vinda de um natal passado em Londres. Fiquei muito contente com o convite, foi como chegar a casa duas vezes. A Destreza tinha a minha cara e enchia-me as medidas. Dias depois surge o convite do Expresso para o qual me comprometi em escrever todas as semanas e por vezes duas vezes por semana, para o online e para o papel. E como tenho a mania da perfeição, sabia que escrever não ia ser uma tarefa feita em cima do joelho. Semana após semana tinha ideias, quer para o Expresso, quer para a Destreza, mas não tinha tempo. Mas passado um ano a falta de tempo que é (e foi) real não é desculpa.

Acabo de ler uma mensagem do Luís: “Menina, tens de escrever para a Destreza. 1 vez por mês, não é quase nada. Que seja essa a tua resolução de ano novo”. Mas a verdade é que as resoluções de ano novo raramente funcionam. No fundo, não são mais do que uma oficialização da procrastinação. Deixar para amanhã o que se poderia já fazer hoje.

A procrastinação é uma mal que afeta todos, em maior ou menor grau, e para o qual já aplicamos estratégias de combate. Estabelecer prazos, oferecermo-nos alguma gratificação como prémio por acabar uma tarefa ou impor alguma penalidade. Os economistas acreditam em incentivos, pelo que sistemas de bónus são muitas vezes implementados para combater a procrastinação e aumentar a produtividade no local de trabalho. Outro exemplo da aplicação de incentivos é o website/aplicação Stickk, que permite estabelecer um objetivo que deverá ser alcançado num prazo determinado. Por forma a potenciar o sucesso é preciso estabelecer uma quantia em dinheiro que será doada a uma instituição que não se gosta caso o objetivo não seja cumprido. Esta aplicação ajuda, mas tanto mais quanto tornamos público o nosso objetivo. Ou seja, partilha-lo com amigos e colegas que monitorizam o nosso desempenho.

Enquanto os economistas pensam em incentivos, os psicólogos focam-se mais nas emoções. E ao que parece existe outra via para combater a procrastinação: melhorar a nossa disposição e humor. No fundo, estar feliz. Considere-se, por exemplo, uma experiência* que usou estudantes universitários que tinham de se preparar para um exame. A estes foram facultadas distrações e foram induzidos diferentes estados de espírito por via de leituras diversas. A um grupo de estudantes foram dadas velas de aromaterapia e foi-lhes dito que estas criam bem-estar e melhoram a disposição.

Os resultados mostraram que quem mais procrastinou foi 1) quem estava com mais mau humor; 2) a quem foi dito que as velas tinham poder de melhorar a disposição; 3) quem mais teve acesso a distrações.

A todos os destrezianos deixo então aqui a minha palavra. Escreverei para a destreza com regularidade. Começo já hoje porque amanhã pode ser tarde de mais. Vou oferecer as velas aromáticas que estão no meu gabinete aos meus colegas. E já agora, um ano muito feliz a todos. Mantenham-se de bom humor e continuem a fazer da Destreza um blogue que me enche as medidas.

* Do Emotions Help or Hurt Decision Making? A Hedgefoxian Perspective; Kathleen D. Vohs, Roy F. Baumeister, George Loewenstein. Editors, 2007.

2 comentários:

  1. Este dia está a ser espectacular. Foi o "tempo 'coisificado'", agora é o teu post e a tua mensagem. Já estou quase a chorar, sou uma piegas. Daqui a nada não quero que o dia, nem o ano, acabe... E o meu incentivo para escrever tanto é simples: um é ter medo que alguém um dia chegue ao DdD e não encontre nada novo; depois, e mais importante, pode ser que o que eu escrevo ajude alguém a passar um bom momento nesse dia. Beijinhos :-)

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  2. Os macroeconomistas (em geral, não todos) estão mais atrasados que os microeconomistas (em geral, não todos) na compreensão dos comportamentos humanos e é por isso que alguns não se aperceberam de certos detalhes que estão a fazer a diferença em Portugal. Por vezes tive mesmo a impressão que alguns psicólogos sabem mais de economia que certos economistas e que alguns economistas sabem melhor psicologia que certos psicólogos...

    Ora, há 3 semanas coloquei na minha estante virtual, para consulta fácil, o livro "...Emotions Help or Hurt Decision Making...", recomendado mais acima por SM., porque contém vários trabalhos de psicólogos voltados para a economia e de economistas voltados para a psicologia, sem cairem em abordagens baratas ("folk"/"pop") como as que alguns usam para tentar enganar terceiros e até a si mesmos - o exemplo referido por SM. está no cap. 5.º - "The Role of Personality in Emotion, Judgment, and Decision Making", de John M. Zelensky.
    GUIÃO DO LIVRO:
    Roy Baumeister, and George Loewenstein
    lead a group of prominent psychologists and economists in exploring the empirical evidence on how emotions shape judgments and choices.
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    Roy Baumeister, C. Nathan DeWall, and Liqing Zhang
    show that while an individual’s current emotional state can lead to hasty decisions and self-destructive behavior, anticipating future emotional outcomes can be a helpful guide to making sensible decisions.
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    Eduardo Andrade and Joel Cohen
    find that a positive mood can negatively affect people’s willingness to act altruistically. Happy people, when made aware of risks associated with altruistic acts, become wary of jeopardizing their own well-being.
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    Benoît Monin, David Pizarro, and Jennifer Beer
    find that whether emotion or reason matters more in moral evaluation depends on the specific issue in question.
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    Catherine Rawn, Nicole Mead, Peter Kerkhof, and Kathleen Vohs
    find that whether an individual makes a decision based on emotion depends both on the type of decision in question and the individual’s level of self-esteem.
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    Quinn Kennedy and Mara
    Mather show that the elderly are better able to regulate their emotions, having learned from experience to anticipate the emotional consequences of their behavior.
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    POIS...
    "Harry, cried Dorian Gray, coming over and sitting down beside him, why is it that I cannot feel this tragedy as much as I want to? I don't think I am heartless. Do you?" [in Oscar Wilde, The Picture of Dorian Gray]

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