domingo, 31 de maio de 2015

Quem quer casa casa

O fim-de-semana passado estive em Lisboa e, como de costume, tratei de ter uma agenda preenchida com reencontros (é engraçado o efeito psicológico que a emigração provoca: o meu grupo de amigos mais chegado agora vê-se muito mais, porque o faz de cada vez que cá venho). Combinei um jantar com um amigo (que foi namorado nos tempos de faculdade) e, como o tempo estava de Verão (embora os constantes espirros me lembrassem que era Primavera), propus-me passar pelo supermercado, comprar carne para grelhar e jantarmos em casa dele, no maravilhoso e gigante terraço com vista sobre Lisboa. Ele achou que seria uma óptima ideia, não fosse dar-se o caso de estar em mudanças. "Vais deixar aquela casa-miradouro?! Para onde vais?", espantei-me eu. E então ele explicou-me que a reorganização da empresa onde trabalha o tinha feito descer de escalão, com a correspondente redução de ordenado que lhe complicava as contas mensais. Portanto, ele e a Ana tinham decidido deixar os respectivos T1 que arrendavam e ir morar juntos. "Dividindo a renda, até optámos por uma casa maior, um T2 muito giro em Arroios, para eu ter o meu escritório". (O escritório dele é, note-se, uma divisão onde ele pôs uma secretária para justificar o nome e que serve, na verdade, para jogar Playstation.) Argumentou, ainda, que, com os expedientes alargados que têm, se não vivessem juntos mal se veriam; portanto, já há muito que ele não passava boa parte das noites no apartamento na Graça e ela também não picava sempre o ponto na sua casa, o que era logisticamente complicado. "E irracional. Repara: estamos a pagar dois contadores da água, do gás e da electricidade". Ou seja, o amor nos tempos de crise faz-se de... economias de escala!

Eu não disse nada porque ele ia atribuir ao despeito (bom, é possível que agora me leia e fique a saber o que penso e tire conclusões), mas ele e a Ana conhecem-se há meio ano, namoram há 5 meses. Eu não duvido de que ela seja a mulher da vida dele - faço votos de que vivam felizes para sempre. a sério. sem ironia. Mas aos 5 meses de namoro ela ainda adora que ele pegue no menu do restaurante e decida o que ambos vão comer (sim, ele tem esse hábito); ainda está naquela fase de encantamento que o acha tão fofo e gastronomicamente sapiente. Talvez um dia comece a achar que aquela é uma forma de ditadura. Talvez não. E ele ainda adora que ela lhe ligue de hora a hora, a saber como ele está (e onde e com quem e a fazer o quê), porque ela está tão apaixonada que não aguenta ficar sem lhe falar - e ele está tão apaixonado que não considera que aquilo possa ser ciúme (patológico, eventualmente). Talvez um dia comece a equacioná-lo. Talvez não. O ponto é que me parece uma decisão prematura. E, sobretudo, motivada por aquilo que não devia ser o motivo para duas pessoas decidirem partilhar as suas vidas: as contas para pagar. Se antigamente quem casava queria casa, hoje o contrário parece fazer mais sentido.

sábado, 30 de maio de 2015

Onde é que se encomenda isto?

Isto é que é produto de alta qualidade: não se depilou. Pode ser o espécime perfeito para a nossa campanha "Pelos pêlos". O único SNAFU potencial é que eu não me recordo como é que o fulano fala. Se ele abre a boca e não diz nada de jeito, perco logo o interesse. Não há pêlos que o salvem...

Ainda os filmes...

- Just whistle. Put your lips together and blow.
- OK, Lauren...
- Bacanall?
- Sim! Quero um bacanall...
- Com os gendarmes de Casablanca? (Sim, eu sei, estou a misturar alhos com Bogartalhos)
- Hahahaha... The more the merrier!

Humor hitchcockiano


Em fuga, Cary Grant entra num quarto, por uma janela. Uma jovem senhora, assustada, diz STOP com grande convicção. Põe os óculos, observa bem a figura do galã e pronuncia de seguida um stop muito tímido. Afinal de contas, era o Cary Grant que estava à sua frente, o homem que todos os homens gostariam de ser, como em tempos se dizia; até eu gostaria de ser assim, confessou um dia Cary Grant aos jornalistas.

A passadeira

Na minha primeira casa aqui, tinha como vizinha uma austríaca, que era minha colega no trabalho. Era uma coisa simpática, porque a primeira que despachasse a rotina matinal batia à porta da outra e depois fazíamos juntas os 20 minutos de caminhada (contagem para sapatos rasos) até ao emprego. Várias vezes ela me ajudou preparando o almoço para levar, porque quando me batia à porta ainda estava eu a tratar da química facial. Ao fim de duas semanas de percursos conjuntos, cedeu à curiosidade e perguntou-me "Porque é que agradeces aos condutores que param na passadeira para te deixar atravessar?!". Para mim, era óbvio: porque eles me tinham dado passagem!!! "Sim, mas eles são obrigados a isso, é para o que serve uma passadeira", retorquiu ela. Eu expliquei-lhe que em Portugal eram poucos os condutores respeitadores das travessias de peões e que costumávamos agradecer quando um parava. Mas pus-me a pensar naquilo e concluí que ela tinha razão. E lamentei por, em Portugal, nos sentirmos tão confortáveis com as leis que não são cumpridas e acharmos isso tão normal que o seu respeito é coisa digna de agradecimento.

WTF, NSFW!!!

São palavras. WTF (What the fuck!) e NSFW (Not safe for work) são palavras! O Merriam-Webster adicionou-as e mais de 1.700 ao dicionário.

Eu vou confessar-vos um segredo: às vezes, apetece-me postar coisas que são NSFW, mas eu resisto com muita dificuldade. Ah, e também tenho vontade de meter aqui uma fantasia sexual que eu escrevi por causa do "Fifty Shades of Grey". Quando eu li o primeiro livro (não consegui ler mais) fiquei tão aborrecida que pensei "A minha cabeça é muito mais excitante do que isto. Anda lá, Rita, inventa lá uma coisa sexy--não sejas preguiçosa, mulher!" E inventei, só porque sim, e depois escrevi-a. Até, se calhar, dava para a campanha de natalidade...

sexta-feira, 29 de maio de 2015

Política monetária...

Diz o Sr. Presidente da República, que o actual Governador do Banco de Portugal é das poucas pessoas que percebem de política monetária. Como na UE a política monetária é comum e é, acima de tudo, da responsabilidade do BCE, talvez Carlos Costa possa ser um futuro candidato a Presidente do BCE.

Também tu, análise de dados!

Anda tudo muito alarmado com a queda do PIB americano. Dizem-me que a economia americana contraiu 0.7% o que é, no mínimo muito chato para mim, que aqui vivo. O que vale é que o meu salário foi aumentado 5% no início do ano, antes do preço do petróleo e da gasolina darem um grande mergulho. É bom ser eu, meus amigos!

Mas vamos falar a sério, porque quando eu sou brincalhona, vocês não percebem o que eu digo. Vamos lá a um Q&A, para ver se nos entendemos:

  • Então o que é o PIB?
    O PIB, de uma forma simplística, é o valor de tudo o que é produzido na economia. Se nós multiplicarmos as quantidades das coisas pelos respectivos preços e adicionarmos tudo, encontramos o PIB (é mais complicado do que isto, mas é porque nós economistas temos de justificar ganhar bom dinheiro).
  • E como é que as coisas são feitas?
    Tudo é feito com energia.
  • Qual é a energia mais utilizada?
    Parece que é o petróleo...
  • E o que é que aconteceu ao petróleo no último trimestre?
    O preço do petróleo baixou.
  • O que é que isso faz à valorização de tudo o que é produzido?
    Reduziu os custos e gerou desinflação.
  • Neste contexto, por que razão o PIB americano diminuir é surpreendente ou é um mau augúrio?
    Não é.

Mesmo usando preços reais, é muito difícil avaliar o efeito da descida do preço do petróleo na economia. Se eu sei que os custos de produção vão diminuir e os preços também, que incentivo tenho eu para comprar coisas quando eu sei que o que for produzido no mês que vem será muito mais barato?

Conclusão: vão rever a crítica de Robert Lucas. Quando há mudanças estruturais, confiar apenas em dados históricos para retirar conclusões, leva a que se conclua merda.

A cadela da Lady Gaga

A cadela da Lady Gaga roubou-lhe o telemóvel e começou a postar no Instagram. "Porque é que isto é notícia?", perguntais vós. Porque é uma oportunidade. Disse a Miss Asia Kinney, a tal cadela:
“I stole Mommy’s cellphone and will be posting photos all day long. I HAVE A BIG ANNOUNCEMENT! I love to eat while I sketch my ideas for the fashionable puppy line I’m starting! I get hooked up with the finest in puppy products, so I really have a knack for what’s quality. My vision is to find creative & functional ways for pets and their owners to bond! ORGANIC GRAIN-FREE LOCAL FARM INGREDIENTS are the best for our body and brain. That’s what I eat! That’s why I’m inspired to also create A Pet Food Line.”

Talvez vocês ainda não se tenham apercebido, mas a comida de cão gourmet é muito cara e lucrativa. Estamos a falar de margens entre preço e custo dos ingredientes acima de 300% (notem que isto não é o lucro, pois esta margem não inclui os custos de produção, mas os lucros também são extremamente altos, mas eu não tenho um valor concreto para vos dar). Isto não irá durar para sempre, porque lucros anormais não são sustentáveis no longo prazo numa economia de mercado.

Há duas vias pelas quais estes lucros irão diminuir: uma é pela entrada de novos produtores, o que irá baixar o preço da comida gourmet de cão para o consumidor; outra é pelo aumento do custo dos ingredientes. Imaginem que não há ingredientes para fazer face à procura. Basta uma companhia, que produza comida gourmet, decidir aumentar a sua produção e os planos encalham logo por falta de ingredientes--foi isto que aconteceu a um cliente meu quando eu trabalhei em consulting. Nesse projecto, tive de ir à caça de fontes alternativas de ingredientes por todo o mundo e de formas como o cliente podia gerir o risco do custo dos mesmos.

As companhias que produzem comida de cão têm de competir por certos ingredientes no mercado de ingredientes para comida humana, que é muito mais caro. E mesmo assim, até para os humanos não há oferta suficiente e as companhias têm de contratar directamente com produtores que produzem commodities de acordo com critérios de qualidade pré-especificados, como é o caso do Chipotle (está na minha lista escrever um post sobre eles).

Logo, quem quer investir em agricultura e pecuária em Portugal, esta é uma óptima oportunidade de especialização: os ingredientes gourmet e biológicos estão em grande falta no mercado, com tendência para a situação se agravar.

Beleza

"What is most beautiful in virile men is something feminine; what is most beautiful in feminine women is something masculine."

~ Susan Sontag, Against Interpretation, 1966

Esperança

Vem pela rota do Coração.
Apanha-me na Esperança,
Oferece-me a tua mão.
Guia-me por horas a fio,
Com mão firme,
Voz de capitão.

Larga-me em Segurança
Com o mais doce dos adeus.
Pela noite dentro, desde Esperança,
Carregaste-me nos braços teus.

quinta-feira, 28 de maio de 2015

Acerca de sucesso

Reparei agora que a Diane von Furstenberg tem uma entrevista deliciosa no New York Times. É refrescante ver alguém com muito sucesso falar dos seus "shortcomings", das coisas que tem de melhorar, do significado de falhar e da necessidade de transformar os falhanços em oportunidades, etc.

Gostei particularmente da forma como ela descreveu sucesso: não o fez de forma fechada, como se o sucesso de alguém ficasse reduzido ao indivíduo que o tem; mas sim de forma aberta, diz ela que uma pessoa que tem sucesso deve construir uma ponte que une os que não têm voz ao resto do mundo.

"So the first thing that success gives you is financial independence. That’s great. The second thing that success gives you is a voice. You have a voice. All of a sudden, people listen to you, pay attention to what you say. And what I feel is that if you acquire that, it’s your duty, responsibility and also privilege to use that voice for people who have no voice. That’s my description of success."

~ Diane von Furstenberg

Entre Memphis e Little Rock...

No que diz respeito à movimentação de carga, Memphis é o coração dos EUA. É uma cidade extremamente importante para a distribuição de carga e commodities:
  • tem o maior aeroporto de carga do mundo,
  • tem quatro aeroportos regionais próximos (West Memphis, Blytheville, Olive Branch, e Millington),
  • tem o segundo maior porto fluvial dos EUA e tem outros portos fluviais na proximidade, ao longo do Rio Mississippi,
  • é servida pelas auto-estradas interestaduais I-40 (este-oeste) e I-55 (norte-sul),
  • é um "hub" importante de camionagem,
  • é um "hub" importante de caminhos ferroviários para a transportação de mercadorias, e
  • o sector de informação e comunicações está em forte crescimento na zona

Ontem, ao viajar de Memphis para Little Rock durante o dia, ao longo da I-40, fiquei surpreendida com a quantidade de camiões em ambas direcções. Nunca vi tanto movimento e já fiz este percurso muitas vezes. Aqui está um vídeo, que eu fiz:

Comparem o movimento destas auto-estradas com o movimento das auto-estradas portuguesas para verem a diferença entre uma economia que funciona razoavelmente bem e uma que não tem sangue a correr nas veias. Auto-estradas vazias não são um recurso; são um custo.

Sobre a continuidade de Carlos Costa

Dado que o senhor nunca tinha exercido estas funções antes, os últimos 5 anos de Carlos Costa à frente do Banco de Portugal podem ser vistos como um período de treino.  Nesta perspectiva, os erros que o senhor cometeu na supervisão bancária são custos de formação. A conclusão óbvia é que o país investiu muito na formação de Carlos Costa. 

Despedi-lo agora seria desperdiçar todo esse investimento.

Modernices II

Se fulano disser que é heterossexual, ficamos a saber alguma coisa a respeito do seu carácter ou personalidade? Não, claro que não. A igualdade plena dos homossexuais será atingida no dia em que toda a gente perceber que devemos responder da mesma maneira a esta pergunta independentemente de lá estar escrito heterossexual ou homossexual. Parecem-me por isso contraproducentes muitos dos movimentos de orgulho gay. Inadvertidamente, alimentam o preconceito de que o simples facto de serem homossexuais os torna diferentes de todas as outras pessoas. 

Modernices

Hoje, no "Público“, João Miguel Tavares faz um apelo às figuras públicas indígenas, e em especial aos políticos, para que saiam do armário. JMT acha que era positivo e salutar que os homossexuais se assumissem.

Pessoalmente, estou-me nas tintas para as preferências sexuais dos políticos e não quero saber se preferem ir para a cama com homens ou mulheres. Aliás, agradeço que me poupem a esses pormenores. Ao contrário do que parece pensar JMT, o “ último degrau da escada igualitária” não se atinge com o direito à adopção de crianças por casais homossexuais; atinge-se no momento em que toda a gente achar irrelevante se fulano, sicrano ou beltrano é homossexual, heterossexual, bissexual, transsexual, ou o que quiserem. Cada um faça o que quiser com o seu corpo, e ninguém tem nada a ver com isso. 

quarta-feira, 27 de maio de 2015

As for tonight...

Então, já se esqueceram? Hoje é noite de aumentar a natalidade de Portugal. Não se esqueçam de fazer algo romântico. Saiam do computador e larguem o telemóvel e dêem uns amassos a uma pessoa do vosso gosto. 

Eu parei na I-30 W, só para vos dizer isto. Ninguém me pode acusar de eu não gostar de vós. Aqui vai o meu percurso: comecei em Memphis à 12:17 da tarde, acabarei em Houston, eventualmente. 

Toodles, darlings...



O melhor BBQ de Memphis

Na minha opinião pessoal e não sou paga para dizer isto, o melhor BBQ de Memphis é no Corky's situado na Poplar Ave. Há outros Corky's e há outros restaurantes que servem BBQ, mas esse é o meu preferido. Já fui a vários famosos, como o Rendez-Vous, Interstate BBQ, e Central BBQ e mantenho a minha opinião. 

Há dois tipos de BBQ ribs (costelas de porco) em Memphis: um é seco e outro é molhado. O seco usa uma mistura de especiarias para temperar a carne, é uma "dry rub". O molhado usa um molho para temperar e para servir a carne. Há molhos que são baseados em ketchup e são doces (o do Corky's); depois há os molhos cuja base é vinagre e são mais ácidos (o do Rendez-Vous). O BBQ de Memphis tradicional é o que usa o dry rub, mas eu acho que esse é demasiado salgado e prefiro o molhado. 

Ontem, quando uma amiga minha me perguntou "Where would you like to go for lunch, darling?", eu disse logo "Corky's!". O restaurante original, o da Poplar Ave., é uma instituição! As paredes estão cheias de fotos autografadas por pessoas famosas a visitar o restaurante. Há fotos de políticos, inclusive presidentes dos EUA, atletas, cantores, actores, etc. 

Nós comemos um prato de ribs para duas pessoas, que é acompanhado por "cole slaw" e "baked beans". "Cole slaw" é uma salada fria em que couve e cenoura, cortadas em Juliana, são temperadas com um molho (buttermilk e maionese). Esta salada pode ser guardada por vários dias. Os baked beans são feijões cozinhados lentamente, e costumam ser ligeiramente doces porque levam açúcar amarelo e molho de tomate. No sul dos EUA, muitos pratos principais (especialmente carnes) são doces porque usam "molasses", "brown sugar", etc. 

Aqui vão as fotos do Corky's e do almoço. Reparem, isto não é comida gourmet--é mesmo para ficarem com as mãos e os beiços besuntados de molho. Eu comi com faca e garfo para minimizar o estrago à maquilhagem. 

Ah, e bebi a cerveja da casa, que não era má de todo. Preferia uma Blue Moon, que é servida com uma fatia de laranja, mas não estava disponível na altura. E pediram para eu mostrar a minha carta de condução para provar que tinha 21 anos! Whoop whoop, who's your Momma?






terça-feira, 26 de maio de 2015

A NOS pede desculpa...

Eu estou em Memphis, Houston está inundada, e uma das primeiras coisas que comecei a fazer quando acordei é análise de risco: sair hoje ou amanhã? Decidi sair amanhã. Depois, recebi a carta da NOS, senti asco, escrevi um post no Destreza, que publiquei às 8:29 de Memphis, e fui à minha vida porque é nestas alturas que eu sou mais produtiva. Nem me dei ao trabalho de contactar a NOS. Às 10:14, recebo um telefonema do Contencioso da NOS a dizer que houve um lapso e enviaram uma carta que eu devo ignorar, não sabiam se eu a tinha recebido ou não. Para me descansar, disponibilizaram-se a enviar-me um email a dizer que eu não devia nada.

Chegou um email às 11:37 de Memphis. Suponho que lhes demorou mais de uma hora a enviar o email porque este não é dos enlatados, como o atum. Este foi escrito especificamente para mim! Ora, digam lá que eu não sou uma miúda importante? Sai a minha foto no jornal, há e-mails escritos especialmente para mim, recebo telefonemas no outro lado do Atlântico a pedirem-me desculpa. Se o John Barry fosse vivo, estaria a escrever a banda sonora para este filme...

A vida seria tão, mas tão mais bela se TODOS os gatos pingados que tivessem problemas com a NOS, e outras companhias como a NOS, tivessem este tipo de tratamento que eu tive hoje, SEMPRE. Mas não, porque para eu ter este tratamento, tive de armar banzé! Reparem que eu até tenho a reputação de ser uma grande sonsa porque eu sou calada e não tenho grande afinidade para conflitos e manufactura de escabeche--no entanto, tenho muito talento para partir pratos, quando a situação o exige. Este foi o caso!

Eu ando a vender Portugal aos estrangeiros, a dizer que é um sítio porreiro para se visitar; os meus amigos holandeses, franceses, americanos, etc. querem que eu lhes mostre Portugal porque acham-me uma rapariga porreira, e confiam em mim e no meu gosto. Ainda no final de Abril dizia eu a uma amiga americana que ela podia ir a Portugal passar um mês ou dois de vez em quando, dado que ela está prestes a reformar-se e seria uma experiência gira para ela. Agora tenho medo que ela vá e lhe aconteça qualquer coisa.

O mínimo que eu exijo pelo meu esforço e pelo esforço de todos os que trabalham para que Portugal ande para a frente é que as maçãs podres que existem em Portugal, como estas pessoas que trabalham para a NOS e entopem a justiça portuguesa, apodreçam de uma vez por todas e desapareçam--shoooo, vão à vida, ó maçãs podres, estamos fartos de vós, ó NOS... Se estas pessoas não sabem construir, não ajudem a destruir o país.

Não custa nada tratar as pessoas com respeito e respeitar a lei da terra. É isso o que é ser um bom cidadão. Experimentem--até faz bem à pele e tudo!

Experiência versus conhecimento

Numa conferência, o intelectual americano John Dewey apresentava uma série de teorias e inovações pedagógicas. No debate, alguém disse: "Pois, isso é tudo muito bonito, mas eu é que tenho 10 anos de experiência no terreno." Dewey replicou: "Tem 10 anos de experiência ou um ano de experiência e 10 a repetir sempre a mesma coisa?"
Se não reflectirmos sobre aquilo que fazemos, não aprendemos nada. O conhecimento das coisas não nasce da experiência, nasce da reflexão sobre a experiência.

A NOS continua a assediar-me...

Abri hoje o meu email e tinha correspondência do meu procurador em Portugal. A NOS enviou-me uma carta cheia de mentiras. Reparem que me telefonaram, no dia 19 de Maio, a dizer que o caso estava resolvido e, alguns dias depois, confirmaram este facto a uma jornalista. Mas como são incompetentes, esqueceram-se de tirar esta cartinha do molho da correspondência que enviam para assediar as pessoas. A propósito, já vos disse que quando a NOS celebrou o "contrato" com a minha informação, o meu bilhete de identidade estava fora do prazo? Pois é, não tinha validade. Viva a NOS, viva a incompetência!

Notem o nível de asco da correspondência! A carta diz que me deram oportunidades de eu pagar a prestações, o que aos olhos dos advogados da NOS, faz da NOS uma companhia adorável. É pena que eu nunca tenha visto essa oferta; logo, mais uma coisa que faz da NOS uma companhia mentirosa. Esta carta também me diz que, muito provavelmente, a NOS diz que investiga um caso, mas o modus operandi é nunca desistir de um caso por mérito e seguir sempre a via do tribunal, sobrecarregando a justiça e passando o custo da sua incompetência para os contribuintes portugueses.

Eles decidiram desistir do meu caso porque eu fiz barulho nas redes sociais e o meu post foi partilhado por blogues como "O Insurgente". Não teve nada a ver com o mérito dos meus argumentos. Depois, como são estúpidos, esqueceram-se de tirar o meu nome da lista de vítimas e enviaram a carta.

Isto é uma clara violação da lei portuguesa, uma afronta à dignidade das pessoas, e uma péssima gestão de recursos. Pensem nisso quando contemplarem comprar algo da NOS; pensem nisso quando quiserem investir na NOS. Sabem o que eu quero? Eu quero que quando ouçam o nome NOS o associem a uma companhia mal gerida que não terá problema nenhum em assediar-vos e perseguir-vos quando lhe der na real telha.

Mas nem tudo é mau, porque isto também é uma razão pela qual eu vou fazer queixa destes advogados à Ordem dos Advogados e vou escrever à Ministra da Justiça a perguntar por que razão os meus impostos estão a ser gastos para manter um sistema de justiça que serve uma companhia terrorista que gosta de perseguir cidadãos que obedecem à lei.

Caros governantes de Portugal, quando falam em competitividade, a que competição se referem? É aquela em que as companhias competem entre si para ver quem trata pior as pessoas? É para isto que nós vos pagamos salários?

Ó querido CEO da NOS, já sinto pena de si por ter empregados que contratam um escritório de advogados tão mau: eles mentem, violam a lei, são mal-educados ao telefone. Não faz mal, terei muito prazer em ser o vosso Quebra-NOS. Querem luta? Encontraram a pessoa ideal! Bring it on...

P.S. O meu procurador é um amigo meu, que é meu procurador para efeitos fiscais, ou seja, para lidar com o Ministério das Finanças, mas a NOS gosta muito de me enviar correspondência ao cuidado dele.

Houston, we have a problem!

Acordei hoje antes das seis da manhã e já tinha uma mensagem da minha chefe. Ontem eu enviei-lhe as minhas previsões por volta das 23 horas. Ela respondeu-me às 00: 47 de hoje a perguntar se não seria melhor eu regressar para Houston na quarta-feira em vez de hoje. A cidade está inundada, as escolas estão fechadas, partes das autoestradas estão submersas. A vida nos EUA nunca é aborrecida.

Já sei o que estão a pensar! Será que vai haver algum "public official", que vai dizer "There is no solution!"--"Não há solução!". Só se tiver um desejo de morte. Em Houston, quase toda a gente tem armas. Não convém irritar a malta quando a malta já está um bocadinho irritada...

segunda-feira, 25 de maio de 2015

Creativity in living

"The man who follows the crowd will usually get no further than the crowd. The man who walks alone is likely to find himself in places no one has ever been before.

Creativity in living is not without its attendant difficulties, for peculiarity breeds contempt. And the unfortunate thing about being ahead of your time is that when people finally realize you were right, they’ll say it was obvious all along. You have two choices in your life; you can dissolve into the mainstream, or you can be distinct. To be distinct, you must be different. To be different, you must strive to be what no one else but you can be . . . " *

* By Alan Ashley-Pitt (Aardvarque Enterprises, 116 W. Arrellaga Street, Santa Barbara, California 93104).

Disse claramente dito

- Fui comprar repelente de insectos para E.
- Não era preciso tanto. Bastava dizeres-lhe que hoje não tinhas disponibilidade.

Re: Espelho meu, quem é mais liberal do que eu?

Quanto à TSU eu concordo com Louçã quando diz que a proposta do PS é bastante semelhante à do PSD/CDS. À actual, que é radicalmente diferente da de Vítor Gaspar que foi chumbada na rua e que se traduzia num aumento da TSU total.

Mas a proposta é também similar à do BE de há alguns anos, quando se discutiu a última grande reforma na SS. E a argumentação do BE era em tudo semelhante. Era necessário baixar a TSU para não penalizar o factor trabalho. É fácil ir buscar passagens de textos da época onde isto é facilmente explicado. A ideia é bastante simples e nem consigo perceber como discordar dela: ao se taxar directamente os salários, ainda por cima de forma tão agressiva, cria-se uma fiscalidade que é pouco amiga do trabalhador. Baixar estes impostos (ou taxas) que incidem directamente sobre o trabalho e substituí-los por impostos com outras incidências é adequado num momento de tanto desemprego.

A proposta do PS pode ser melhorada? Com certeza que sim. Está-se a trocar impostos certos (TSU) por impostos incertos (imposto sobre grandes heranças e TSU sobre rotação de trabalho) e voláteis (IRC). Mas se a ideia de base é correcta vale a pena explorá-la e trabalhá-la.

PS Nesta argumentação, estou a referir-me à TSU paga pelas empresas. A redução da TSU paga pelos trabalhadores, à custa de uma futura redução de pensões, corresponde a uma privatização parcial da SS que, concordemos com ela ou não, é surpreendente que venha num documento do PS.

Honestidade e boa-fé

Há umas semanas um colega meu, o Miguel Portela, recebeu um telefonema da Caixa Geral de Depósitos. Comunicaram-lhe que tinham uma boa notícia para lhe dar. Iam baixar-lhe a prestação do seu crédito à habitação em 118€. Nem mais nem menos, 118€. Dado que a prestação é de pouco mais de 500€ por mês, estamos a falar de uma redução de mais de 20% no valor mensal. O meu colega agradeceu a boa-vontade, mas perguntou quais seriam as contrapartidas. Responderam-lhe que aumentariam a maturidade do empréstimo em 15 anos. E voltaram a insistir e perguntar se estaria interessado nesta mudança.

O meu colega, admirado com o facto de o banco se disponibilizar, sem mais, a alargar o prazo do empréstimo, dirigiu-se pessoalmente a uma agência da Caixa e perguntou se não haveria mais contrapartidas, ou seja, se tudo o resto ficaria igual. Mais concretamente, perguntou o que aconteceria ao ‘spread’ do seu empréstimo neste novo contrato. A resposta foi a de que o ‘spread’ seria de 2 pontos percentuais.

Sem acreditar na proposta que lhe estavam a fazer, perguntou se sabiam qual era o seu ‘spread’ actual ao que lhe responderam que sim, que sabiam. Era de 0,3 pontos percentuais.

Eu, estupefacto, me confesso. A Caixa Geral de Depósitos, um banco público que tem como única utilidade impor alguma decência ao mercado bancário, anda a propor aos seus clientes que aumentem sete vezes o valor dos seus ‘spreads’. E propõe isto disfarçado de uma descida da prestação.

Isto é tudo tão inacreditável que o meu colega perguntou à funcionária da Caixa Azul se andavam mesmo a propor estas alterações de empréstimos aos seus clientes. A funcionária pegou numa circular interna e leu-a ao meu amigo, confirmando que tinha indicações para fazer propostas nesse sentindo, aumentando os spreads para 2 pontos percentuais. Apesar dessa directriz a senhora disse-lhe claramente que a proposta não era financeiramente interessante. Ou seja, no contacto directo com a sua agência a informação foi correcta e ética, o que também não admira, dado que era bastante óbvio que não seria fácil de enganar um professor de economia. O problema vem do contacto telefónico. Dado que as alterações de contrato passarão sempre pela agência de cada um, o resultado final dependerá da literacia financeira do cliente e do peso de consciência do funcionário que tratar de cada caso em concreto.

É este o sinal que a Caixa Geral de Depósitos ― banco público, lembre-se ― dá ao mercado e aos restantes bancos: aproveitai-vos da iliteracia dos vossos clientes para reformular os vossos contratos de forma ruinosa para os clientes. Perante isto, é legítimo ficarmos indignados com a forma como alguma banca privada impingiu produtos tóxicos aos seus clientes?


Ao contrário das burlas descritas no parágrafo anterior, a proposta da Caixa Geral de Depósitos tem a vantagem de não ter qualquer tipo de incerteza relativamente ao resultado final. Ao contrário do papel comercial do BES e do produto financeiro que flutuava ao sabor do mercado, o novo contrato proposto pela Caixa tem um efeito certo. É certo que o cliente fica altamente prejudicado.

Li claramente lido

Numa tentativa de aceder ao Portal das Finanças, surge a seguinte mensagem no monitor:

"AVISO
Por motivos de ordem técnica, não é posível satisfazer o seu pedido neste momento.
Por favor tente mais tarde."

Uma vez que o acesso ao Portal se devia à entrega da declaração de IRS, apetece responder desta forma:

"AVISO
Por motivos de ordem financeira, não é possível satisfazer o vosso pedido neste momento.
Por favor tente noutro lado."

domingo, 24 de maio de 2015

Coisas de pessoas...

Eu adoro os meus amigos e tenho uma sorte fantástica de ter uma colecção invejável deles -- ainda por cima, que cresce! Sendo eu uma introvertida inveterada, muitas vezes surpreende-me que tanta gente me dê o prazer da sua amizade.

Uma característica comum a muitos dos meus amigos é a forma como eles vêem o mundo. Eles não vêem coisas; eles vêem pessoas e em algumas coisas vêem-me. Frequentemente, dizem-me, "Isto és tu.", "Isto fez-me pensar em ti." O que é isto? Às vezes, é arte, livros, peças de roupa, restaurantes, pastelarias...

Ontem, isto foi um poema de José Régio, interpretado por João Villaret, que apareceu no meu iMessage mesmo antes de eu chegar a Texarkarna, TX. Um dos meus amigos decidiu enviar-mo porque eu tinha dito que ia ouvir livros audio na minha viagem e ele sabe que eu adoro poesia.

Agora, partilho-o convosco. Talvez vos dê o mesmo prazer que me deu a mim...

A Rita: do Texas para o DN, com o patrocínio da NOS

Como se pode ver nesta notícia, o caso da Rita não é caso único. Numa altura em que damos o nosso nº de contribuinte até para comprar uma caixa de fósforos, é importante estarmos atentos a estas fraudes. Mais importante ainda é que as empresas afectadas não façam bullying com as vítimas, numa tentativa de lhes cobrar valores indevidos.

Leituras relacionadas: Sou vítima de fraude e A NOS desistiu

sábado, 23 de maio de 2015

On the road...

A caminho da terra do Rei! Ainda me falta atravessar o Arkansas todo. Aposto que os Amor Electro não sabiam que o álbum deles ia ser usado como acompanhamento de road trips nos EUA...

Saí de Houston às 11:30 da manhã. Pois é, sou mesmo atrasada. O plano era sair antes das 10. Faltam-me 5 horas e meia para chegar...


Sempre a abrir!

Uma vez perguntaram-me: "Do y'all have cows in Portugal?" Fiquei sem palavras por uns segundos...

Virei à esquerda aqui:

Já ouvi "The Importance of Being Earnest" duas vezes. Depois vou ouvir "The Picture of Dorian Gray". Preciso de refrescar a memória porque o li há muito tempo. 




sexta-feira, 22 de maio de 2015

Queridos homens: mais um golpe contra vós...

O mundo é um sítio cruel... Então as senhoras vão falar com o rabi para ele tentar convencer os maridos a ficarem mais picantes na cama e o rabi, como acha que não consegue convencer os homens, decide dar às mulheres um substituto: um vibrador kosher! Não, eu não estou a inventar--está tudo no meu site preferido: a Bloomberg.
The rabbi is a self-described religious nationalist, meaning he’s devout but accepts most aspects of modern life, and that makes some ultra-Orthodox people, or haredim, as it’s referred to in Hebrew, skeptical of his authority. “Of course, I could find them rabbis, but these women come from serious haredi families, who aren’t going to listen to a religious nationalist,” says Alexander, sitting among fellow yarmulke-wearing patrons. “Instead, I offered to find her the right product that replaces the man.”

Ah, e a descrição do vibrador parece muito interessante e ainda por cima o rabi mora ao pé de uma adega! Se calhar eu devia meter isto na minha lista de Natal porque afinal Cristo era judeu e o vibrador deve passar "o teste de cheiro" de brinquedos permissíveis. E eu sou muito brincalhona...

The device, he explains in incrementally hushed volumes at a winery by his home in the Gush Etzion settlement, is a sex toy of rotating silicone.

Risco de SIDA na população portuguesa

As pessoas têm uma percepção errada de análise de dados. Análise de dados e estatística não nos dizem tudo o que sabemos, dizem-nos os limites do que sabemos e identificam muitas coisas que ainda não sabemos. Ou seja, em vez de responder a todas as perguntas, muitas vezes, a análise de dados levanta ainda mais perguntas. É por isso que no fim dos artigos científicos há uma secção onde se identificam os limites do estudo e o potencial para continuar a estudar.

Neste caso do SIDA e dos homossexuais, estão a usar-se pontos para construir tendências: tenta-se responder a um problema dinâmico usando análise estática. Foi por isso que Portugal acabou na bancarrota, foi por isso que a crise sub-prime estoirou. Já aprenderam a lição? Não, claro que não, continuamos na mesma como a lesma.

Porque é que o VIH é mais prevalente nos homossexuais? Por duas razões: (1) no passado este segmento da população tinha comportamentos mais arriscados e o vírus espalhou-se com mais rapidez; (2) entretanto encontraram-se tecnologias que permitem gerir a doença e a taxa de sobrevivência de quem é seropositivo aumentou.

O que é que isto quer dizer? Quer dizer que se estes dois factores mudarem, o nível de risco de contágio na população homossexual fica diferente. Que grande surpresa! Reparem, também, que à medida que o tempo passa, os homossexuais seropositivos mais velhos morrem e as gerações mais jovens não têm tanta prevalência de VIH, logo o número de portadores do vírus tem tendência a diminuir nos homossexuais. Mas porquê, ó Rita, sua maluca?

Então e o que é que mudou, perguntais vós? Mudaram os comportamentos de risco. Hoje em dia, o virus do SIDA espalha-se mais rapidamente na população heterossexual. Não acreditam? Leiam com os vossos próprios olhos este relatório das Nações Unidas de 2010, onde se estuda o vírus do SIDA nos países de língua oficial portuguesa. Diz lá, na página 101, o seguinte:

Do número total de infecções reportadas, foram reportados em

  • homossexuais: 1983-2007, 13%; 2006-2007: 9%,
  • heterossexuais: 1983-2007, 35%; 2006-2007: 44%,
  • consumidores de drogas injectáveis: 1983-2007, 47%; 2006-2007: 34%,
  • transmissão mãe-filho: 2006-2007: < 0,2%.
Do número total de casos assintomáticos de infecção VIH, foram reportados em
  • relações homem-homem: 1983-2007: 11%; 2006-2007: 19%.
  • em consumidores de drogas injectáveis: 1983-2007: 42%; 2006-2007: 19%.
  • relações heterossexuais: 1983-2007: 42%; 2006-2007: 60%.
  • transmissão mãe-filho: 1983-2007: 0,8%; 2006-2007: 0.9%

Depois, o relatório tem esta pérola:

A via heterossexual é o modo de transmissão mais freqüente, conforme mostra o gráfico 5. Outras vias de transmissão importantes são: por meio do compartilhamento de instrumentos para o uso de drogas injetáveis e a transmissão sexual entre homens que fazem sexo com homens. Até o ano de 2003, a transmissão do VIH pelo uso de drogas injetáveis foi o modo de transmissão mais freqüente (Gráfico 6).

Ou seja, percebem agora que o problema é dinâmico e não estático? Como se verifica ao ler o relatório, o nível de risco está a crescer nos heterossexuais e a diminuir nos homossexuais. O Instituto Português de Sangue acha por bem eliminar o grupo onde o risco desce e voltar a associar o VIH a homossexuais, quando devia estar a despender mais esforço em diminuir o risco nos heterossexuais. Como é que ao eliminar o grupo onde o risco diminui mais depressa se acaba com um risco total mais baixo? É pá, eu tenho dificuldades em fazer contas de cabeça, deve ser isso a razão porque isto não computa na minha cabeça... Porque é que vocês se admiram de Portugal ser um país pobre? Quem toma decisões pobres não costuma acabar rico.

Mas as coisas ainda são muito mais engraçadas do que isto! É que numa dissertação de 2003 identificaram-se os comportamentos sexuais dos jovens portugueses para avaliar o risco de VIH e, surpresa, ricos! Os jovens são muito descuidados. Eram uns malandrecos há 12 anos, acham que agora estão mais atinadinhos? Então eles até fazem canções sobre "Hoje ficas cá em casa, uma vez não são vezes." Para onde é que ela vai as outras vezes, meus amores?

Então diz a dissertação a propósito do SIDA que:

Verificámos que 74,4% dos adolescentes do meio não urbano adoptam um comportamento de risco, sendo o valor de 71,2% para os adolescentes do meio urbano. De salientar que 28,8% dos adolescentes do meio urbano têm um comportamento preventivo sendo este valor de 25,6% para os adolescentes do meio não urbano.
[...]
Verificámos que 90,6% dos adolescentes do meio urbano têm atitudes de risco, sendo este valor de 83,3% para os adolescentes do meio não urbano. De salientar que 16,7% dos adolescentes do meio não urbano têm atitudes preventivas, sendo este valor de 9,5% para os adolescentes do meio urbano.
[...]
Face aos resultados observados e da análise efectuada, é urgente uma maior contribuição de todos na prevenção da SIDA, proporcionando uma informação adequada e persistente, que permita aos adolescentes optar por estilos de vida mais saudáveis.

Viva Portugal! Somos geniais, vamos ser ricos com probabilidade 100%. Já fizemos a análise de dados, está tudo certinho...

quinta-feira, 21 de maio de 2015

O voo que mudou o mundo

Entre 10 e 12 de maio de 1927, o capitão Lindbergh, piloto de correio aéreo dos EUA, então com 24 anos, realizou um voo transcontinental recorde, de costa a costa dos Estados Unidos. Oito dias depois, a 20 de Maio, voou de Nova Iorque a Paris, no primeiro voo solitário sem escala a unir os dois lados do Atlântico. O seu avião Spirit of St. Louis cobriu as 3610 milhas em 33 horas e meia.
O voo solitário de Lindbergh teve um enorme impacto. Nascia um herói, coberto de homenagens e glória, e por muitos anos considerado a maior celebridade americana – beliscada, todavia, quando se soube das suas simpatias pelos nazis.
Mais importante: os americanos passaram a considerar o avião um transporte seguro, rápido e útil, e os homens de negócios rapidamente perceberam o potencial da coisa. Três anos depois, eram já três as linhas aéreas a explorar rotas de costa a costa.

Mudar o nome das coisas

Nas últimas décadas, o economista e historiador americano Douglass North foi talvez quem mais chamou a atenção para o papel das instituições no desenvolvimento económico. Em “Institutions, Institutional Change and Economic Performance”, definiu-as assim (a tradução é minha):
“As instituições são as regras do jogo de uma sociedade ou, mais formalmente, são as restrições humanamente forjadas que moldam a interacção humana. (…) Em consequência, as instituições estruturam os incentivos da troca humana, seja ela política, social ou económica.”
Mais recentemente, teve grande êxito o livro “Porque Falham as Nações, As origens do Poder, da Prosperidade e da Pobreza” de Daron Acemoglu e James A. Robinson. Não li o livro, mas conheço há alguns anos as ideias dos autores, graças a uma série de artigos que o Fernando me enviou.
Os autores estabelecem uma hierarquia institucional. As instituições políticas determinam as instituições económicas e estas o desempenho económico e a distribuição de rendimento numa sociedade. As instituições políticas incluem as formas de governo – por exemplo, democracia versus ditadura ou autocracia e as coações impostas aos políticos e à classe política.
O que é que determina as instituições políticas? Daron Acemoglu e James A. Robinson avançam com uma explicação, que tem, a meu ver, conotações marxistas, apesar de os autores o negarem. As instituições seriam o resultado de uma escolha colectiva. Todavia, não seriam escolhidas por toda a sociedade, mas apenas pelos grupos que, na sequência de conflitos com outros grupos, controlam o poder político em determinado momento.
Os grupos vencedores escolhem as instituições que maximizam os seus rendimentos e benefícios. O problema é que as instituições económicas estabelecidas – como, por exemplo, a estrutura dos direitos de propriedade privada e o nível e concorrência dos mercados - podem não ser as mais favoráveis à maximização do rendimento e da riqueza total numa sociedade. Ou podem funcionar bem até determinado momento e, com o tempo, tornarem-se desajustadas.
Uma das características das instituições políticas é serem duradouras. O grupo com mais poder político tudo fará para manter o estado de coisas, mesmo que isso implique o prejuízo do resto da sociedade. Todavia, a mudança pode ocorrer. Seja por motivos internos: surge outro grupo mais poderoso e ameaçador; seja por motivos externos: devido, por exemplo, a uma revolução tecnológica ou a uma mudança no contexto internacional.
Parece evidente a ligação entre as instituições e o desempenho económico de um país. Todavia, daqui não decorre que basta mudar as instituições ou copiar um modelo qualquer de um país em que as coisas correm aparentemente bem. Se assim fosse, era fácil. As coisas são muito mais complicadas. E a história mostra isso mesmo.
Para começar, este discurso sobre as instituições não é original. No século XVIII, uma época de confiança no homem e nas suas possibilidades, os filósofos acreditavam que se as instituições pudessem ser definidas correctamente, o futuro da humanidade estaria garantido. As instituições poderiam sugerir, estimular e provocar as melhores reacções dos homens. No século seguinte, vários  filósofos e historiadores consideraram essa visão uma ilusão.
A título de exemplo, Gustave Le Bon achava que é o carácter de um povo, os seus costumes e tradições que determinam as instituições e não o contrário. As instituições só devem mudar em função da necessidade e do tempo. A sabedoria dos políticos está precisamente em saber interpretar essas duas variáveis e, claro, em conhecer muito bem a sociedade em que vivem. Na sua “Psicologia das multidões”, Le Bon  dá alguns exemplos históricos para demonstrar as suas teses.
Por exemplo, a seguir à revolução francesa, alguns "iluminados", contrariando as tradições e costumes do país, acharam que a França precisava de uma maior descentralização do poder político. Resultado? Caos, guerras civis e, no fim, uma centralização ainda maior. Tocqueville descreve também essa experiência nas suas obras.
Baseado na sua própria experiência política, Tocqueville relata-nos que, durante anos, após a revolução, os políticos franceses passaram grande parte do tempo a mudar o nome das coisas que vinham do antigo regime, para, na prática, ficar tudo na mesma ou pior ainda.
Eis no que dão muitas das reformas políticas voluntariosas: sangue, suor, lágrimas e, no fim, fica apenas uma mudança do nome das coisas.

Palavras

Abri um livro sobre teu corpo
E dele colhi as palavras,
Que depositei no teu rosto
Em forma de beijos que te dava.

Pela noite dentro li-te
E escrevi as minhas mágoas
Nas páginas que me ofereceste,
No teu corpo cheio de fráguas.

Ao amanhecer adormeci,
Num sono profundo e justo.
Sonhei seres parte de mim:
A semente do meu fruto.

Estabilizar a estrutura orgânica do Governo: uma boa proposta do Programa Eleitoral do PS

A falta de consensos entre os chamados partidos do ‘arco da governação’ em relação às reformas é uma debilidade da nossa democracia e um obstáculo ao desenvolvimento de Portugal. Um consenso que não deveria ser muito difícil de alcançar, e do qual resultariam ganhos significativos para a eficácia da governação, diz respeito à estrutura orgânica do Governo, isto é, à definição do número e âmbito de acção dos Ministérios. O programa do PS ontem divulgado dá um passo nesse sentido – ver secção 2.1.
De facto, a mudança da orgânica, que acontece frequentemente com mudanças de Governo e muitas vezes numa mesma legislatura, tem custos muito elevados – os serviços centrais de suporte, que deviam ser um garante de estabilidade na governação, limitando a instabilidade que decorre dos ciclos políticos, são fortemente afectados por essas alterações, podendo dali resultar a extinção, fusão ou criação de novos serviços -, pondo muitas vezes em causa a continuidade das políticas. 
Por outro lado, na preparação das equipas ministeriais, é importante que os ‘ministros-sombra’ possam conhecer e preparar-se para as áreas que irão tutelar: por exemplo, não é a mesma coisa tutelar a Economia com ou sem o Emprego. 
Com uma orgânica governativa estabilizada os programas de Governo e os seus resultados seriam também mais facilmente escrutináveis.
A ênfase que o programa do PS coloca nas Obras Públicas sugere (ou não!) que poderiam surgir algumas dificuldades num acordo a estabelecer com o PSD e CDS na definição do lugar a ocupar por essa pasta na orgânica do Governo. Se nas últimas décadas, apesar de todos os erros que foram cometidos, e pelos quais ainda pagaremos por muito tempo, se pode ter justificado a existência de um Ministério das Obras Públicas, a reintrodução desse Ministério na orgânica do Governo apenas contribuiria para abrir novamente espaço na mesa do orçamento às empresas de construção civil. Seria um sinal errado sobre o contributo que o Estado deverá ter no crescimento da economia portuguesa.

A NOS desistiu

Antes de mais, tenho de vos dizer que agradeço a todos os que leram a minha história, a partilharam, e me deram conselhos e apoio.

A NOS desistiu de me assediar na terça-feira, 19 de Maio. Demorou exactamente 12 dias desde que eu soube que eles diziam que eu lhes devia dinheiro até eu receber um telefonema a dizer que já não devia nada. Entre essas duas datas, quase toda a gente com quem eu falei achava que o caso iria ser uma grande chatice de resolver e iria provavelmente envolver advogados, tribunal, e alguma despesa.

Quando eu mostrei surpresa por estar envolvida num caso tão parvo, alguns dos meus amigos ficaram surpreendidos da minha surpresa. Senti-me uma bocado como a Dorothy n'O Feiticeiro de Oz: "I've a feeling we're not in Kansas anymore!", mas como dizemos na companhia onde eu trabalho, "It is what it is!" As coisas são como são e não como nós queremos que elas sejam, logo cabia a mim identificar oportunidades na situação onde me encontrava. E, nesse aspecto, a informação que todos vós me destes e que a NOS me deu foram essenciais para eu delinear uma estratégia de defesa e contra-ataque.

Uma coisa acerca de mim: eu não gosto de conflito, mas eu adoro adversidade. Uma vez, uma pessoa para quem eu trabalhei ficou muito surpreendido comigo e disse-me "You thrive in adversity!" Pois é, isto deu-me uma grande dose de adrenalina. Até vos confesso que uma parte de mim teria tido grande prazer de ver esta companhia explicar o meu caso a um juiz.

Gestão de Informação
Pelo que vocês me disseram, usar os métodos convencionais para lutar contra estas companhias não nos protege emocionalmente nem financeiramente. Muitas pessoas acabam por perder imenso tempo, dinheiro, e paciência para corrigir uma situação que deveria ser trivial e que não deveria ser conflituosa, mas sim de cooperação entre a companhia e a vítima. Para além disso, ser inocente das acusações ou ser culpado é completamente irrelevante na forma como somos tratados pela companhia. Fiquei também a saber que o estado português tem pouco ou nenhum interesse em corrigir e/ou minimizar a perversidade destas situações.

O que é que eu aprendi da NOS? Eu aprendi que a companhia não trata as pessoas com respeito, tenta intimidar e assustar para que as pessoas paguem só para se ver livres deles, e há violações da lei portuguesa e abusos no uso da justiça. A NOS está tão convencida que pode fazer o que quer e lhe apetece que chega ao cúmulo de ser incompetente em documentos oficiais e na comunicação com a vítima. Alguns exemplos: enviam-me uma carta com uma data de 30/4/2014 em Maio de 2015 para uma dívida que prescreve ao fim de seis meses e ainda por cima ameaçam penhora; quando eu falo com eles ao telefone, invertem o ónus da prova e mentem acerca da informação que já receberam; e recusam-se a apresentar provas que substanciem a sua causa.

Como é que eu interpreto a informação?

  • Não acredito que o processo de penhora se dê tão rapidamente em Portugal, nem percebo como é que os tribunais aceitam que as companhias metam processos deste tipo em tribunal. A prescrição ao fim de seis meses serve para aligeirar o número de processos em tribunal, mas as companhias não só continuam a iniciar processos legítimos, como iniciam muito processos frívolos para os quais não têm sequer provas suficientes para os ganhar--vocês contaram-me alguns destes casos. Isto diz-me que o sistema de justiça falha com uma probabilidade muito alta e compensa este tipo de comportamento para estas empresas.

    Usando métodos estatísticos, seria muito fácil para o estado meter estas companhias na ordem, bastava ver coisas como o número de desistências dos processos, o número de processos iniciados, o número de queixas contra estas companhias, etc. Também seria muito fácil exigir que companhias como a NOS submetessem os dados relevantes dos casos: por exemplo, as datas relevantes, contratos, etc. e permitir aos clientes acusados ir a tribunal e mostrar os seus documentos. Se o cliente conseguisse apresentar documentos que anulassem a contenção da companhia, então o caso seria imediatamente anulado sem haver necessidade de se arrastar ou de se dar em tribunal e a companhia pagava os custos por ter iniciado um processo frívolo.

  • A NOS e outras companhias semelhantes exploram falhas de mercado. Uma das falhas é obviamente poder de mercado: estas companhias conseguem manipular o sistema, pois têm acesso a recursos ilimitados para perseguir um cliente, mas o cliente tem acesso a recursos bastante limitados para se defender, pois contratar um advogado e deixar o caso arrastar-se gasta não só dinheiro, como tempo durante o expediente de trabalho. Nos EUA, a figura de "class action lawsuits" serve para controlar esta falha; no entanto, também há processos frívolos de ambas as partes (privados e empresas), logo o risco não é completamente eliminado.

    Outra falha muito evidente é a de assimetria de informação: a NOS tem advogados que conhecem bem o sistema e as suas falhas, mas a maior parte dos clientes não sabe os seus direitos, nem sequer como o sistema funciona. Para além disso, é a NOS que detém as "provas" e ao recusar-se a apresentá-las ao cliente está a garantir que tem uma vantagem do ponto de vista da informação. Muitas vezes, o cliente nem sequer sabe a que se refere a dívida.

  • Sendo assim, o meu caso estava perdido à partida, logo tudo o que eu fizesse só me iria beneficiar. Esperar que o sistema funcionasse e tentar resolvê-lo por vias convencionais seria dispendioso. Como a NOS agiu de forma muito conflituosa e maluca, eu decidi que não tinha nada a perder agindo de forma ainda mais maluca. E mais: decidi que escalar a minha acção e demonstrar o nível da minha maluqueira rapidamente no início só me iria dar uma vantagem, pois eles não saberiam o que eu iria fazer a seguir e o meu comportamento apresentava um risco para a companhia. No entanto, reparem uma coisa: obviamente, eu sou um bocado maluca (OK, talvez muito, quando eu estou inspirada), mas não sou criminosa e tudo o que eu fiz e planeava fazer estavam dentro dos limites da lei, o que é muito mais do que a NOS faz. Aliás, eu cheguei a ir ler a Constituição da República Portuguesa para me inspirar.
  • Outra coisa que eu decidi foi que eu não ia lutar isto só com a NOS, eu ia lutar com o sistema. Se a NOS fosse uma companhia competente, eu nunca teria tido este caso de fraude porque eles teriam feito a verificação dos documentos e da legitimidade da conta. Como eles são incompetentes e não têm nada a perder com casos frívolos, não apanharam a fraude a tempo de a evitar. E depois nem sequer queriam verificar que tinham sido negligentes. Dei oportunidade à NOS de se enterrar e de mais uma vez demonstrar a sua incompetência, o que eles fizeram brilhantemente; decidi lutar isto nas redes sociais e com o próprio estado com as armas que a própria NOS me deu.
  • Ao contrário da maioria dos portugueses, eu tenho um grande trunfo: como eu sou americana posso, em último recurso, fazer um chinfrim internacional. Isto é engraçado porque os americanos não se importam de mostrar o pior da América se é isso que tem de ser feito para efectivar mudança. É a tal filosofia: "the buck stops here", ou seja, isto daqui não passa. (Eu não cheguei a dizer à NOS que eu era americana. Talvez eles tenham lido os comentários ao meu post inicial, não faço ideia.)

    Em Portugal, as pessoas andam sempre muito preocupadas em mostrar o melhor de Portugal ao exterior, mesmo que isso signifique sacrifícios e continuação de um sistema corrupto. Mas esta lógica não se aplica ao futebol, como já devem ter reparado: quando o Benfica é campeão, vale a pensa fazer chinfrim e correr o risco dessa má imagem ser noticiada no estrangeiro. Parece-me que a alocação de recursos chinfrinísticos em Portugal é sub-óptima.

No próximo post vou dar-vos a linha temporal do meu caso.

quarta-feira, 20 de maio de 2015

Cancioneiro popular-arrevesado

Canto a Pátria por amor
No tempo do milho-rei.
Com mil homens esbarrei
Em terras de trovador,
Ledo ar fora-da-lei.

Se a vida nos permite,
Não há por que hesitar.
Ao meter os pés num bar
Se vires boa peça ri-te.
Será quem te há-de buscar.

Certo estimado doutor
À minha roda dançou
Procurando por quem sou.
Trocei, fingindo pavor,
Quando Apolo me abraçou.

Vem de dentro um arrepio
Quando entro na catedral.
Que sinto a força do Mal
E o calor se torna frio.
Moço quero, não sei qual.

Vejo um, terra de Glória,
Cara bela e corpo alto.
Aproximo-me de um salto,
E aqui começa a história
Duma queca no planalto.

Apesar de outra cobiça,
Finjo ser sem fazer frete
A da canção, a Rosete.
Sigo pr'a cavalariça,
Vou brincar ao mete-mete.

Não acabou dita noite
Sem que três vezes viesse
O orgasmo – que finesse
Mais uma sessão de açoite
E o rapaz feito num S.

Ah! Bendita terra fria
Que o corpo me estremeceu.
Bendito homem o seu,
De glande rija e macia,
E o tempo que ma deu.

(Versos apócrifos de apoio à campanha de natalidade das quartas-feiras)

Gays de Portugal, estou aqui!

Tenho andado a acompanhar a discussão dos dadores de sangue e sinto, acima de tudo, uma grande incredulidade pelo tipo de argumentos que se usam. Como tenho andado com a cabeça meio-ocupada com outras questões que NOS dizem respeito (não resisti ao trocadilho), nem pensei em escrever sobre isso, mas ontem o NAJ, o nosso guru de sociologia, encostou-me à parede e pediu a minha opinião. Eu acho que, neste caso, se discute o sexo dos anjos e proferem-se muitas "certezas" que são extremamente incertas. E eu fico com medo, acima de tudo, tenho medo que pessoas em sítios de responsabilidade tão grande digam as coisas que dizem.

Quando se faz um design de um instrumento de inquérito, há certas coisas que devem ser tomadas em conta e que são:

  • a definição da população de interesse
  • a definição dos grupos de interesse dentro da população
  • a forma como vamos retirar a amostra da população
  • a forma como vamos assegurar que os grupos de interesse da amostra sejam representativos da presença dos grupos de interesse na população
  • a possibilidade para erros na selecção da amostra (quadro de amostragem), nomeadamente: indivíduos que estão ausentes, mas que deviam ser incluídos; indivíduos que aparecem mais do que uma vez; indivíduos estranhos, isto é, que não deviam fazer parte da amostra; e indivíduos que aparecem em grupos ou clusters.

Pensando nestas coisas e na forma como se tem discutido o problema dos dadores de sangue, há várias perguntas que aparecem na minha cabeça. A primeira óbvia é que quem doa sangue auto-selecciona-se, logo as estatísticas que se tem do inquérito português não são muito fiáveis. Estar a inferir do inquérito para a população em geral é estatisticamente incorrecto. Ou seja, esses números que andam por aí a apregoar aos sete ventos têm pouca credibilidade.

Como se tem insistido em considerar dois grupos de dadores: os homossexuais e os heterossexuais, outra pergunta que aparece na minha cabeça é o que é uma pessoa homossexual. Se um extra-terrestre estivesse a passar férias em Portugal, ficaria com a impressão que um homossexual é uma pessoa que se identifica como homossexual quando dá sangue. Então quer dizer que não há homossexuais que dão sangue, mas que quando respondem ao inquérito dizem que são heterossexuais? Qual a prevalência desse caso? Eu aposto que há homossexuais no grupo de heterossexuais. E será que, ao proibir-se que os homossexuais dêem sangue, não estamos a criar um incentivo perverso para mais pessoas homossexuais manterem a sua preferência sexual secreta e continuarem a dar sangue, identificando-se como heterossexual?

Quando me dizem que a prevalência de HIV é maior em homossexuais eu não fico espantada por duas razões óbvias:

  • Este grupo de pessoas, por ser muito perseguido historicamente, durante muito tempo teve comportamentos sexuais em que tinham vários parceiros sexuais em vez de desenvolverem relações estáveis, as relações estáveis são mais comuns em heterossexuais. A natureza do "acasalamento" é responsável pela disseminação mais rápida de HIV em África do que na Europa e na América do Norte. Os africanos têm redes de parceiros sexuais; já nos outros sítios, normalmente têm-se parceiros sexuais de forma linear: tem-se sexo com a pessoa com quem mantemos uma relação amorosa, depois as coisas azedam e procuramos outra. Mas agora o casamento gay é quase uma realidade, logo deve aumentar o número de relações estáveis entre gays.
  • Devido a progresso tecnológico, os seropositivos conseguem sobreviver mais tempo e muitos nem chegam a desenvolver o SIDA. Muitas das pessoas que foram contaminadas no passado eram homossexuais.

Mas isto leva-me a outro ponto, a questão dos dados históricos serem representativos da situação actual ou poderem ser usados para ter confiança no futuro. Ainda ninguém me apresentou provas de que o HIV actualmente se espalha mais rapidamente entre homossexuais do que entre heterossexuais. Durante as minhas conversas com o Nuno, houve duas coisas que ele comentou que eu achei pertinentes:

  1. Uma é que as pessoas de idade mais avançada estão a ter mais sexo desprotegido com muitos mais parceiros (sexo em rede) e as doenças sexualmente transmissíveis estão a aumentar nesse grupo. Isso já eu sabia que acontecia nos EUA. Pelo que eu leio, os mais velhos são também pessoas que normalmente são mais altruístas e isso leva-me a suspeitar que provavelmente doem mais sangue.
  2. A geração actual de jovens vê o sexo como uma actividade recreativa, ou seja, isto leva-me a crer que o sexo nessa camada etária é em rede e não em forma linear. Vocês não ouviram a letra da canção "Às Vezes", dos D.A.M.A.?
    Eu não digo a ninguém, que me queres e preferes
    Aos outros que tu tens
    [...]
    Eu quero e faço por isso e tu queres um compromisso
    E eu sou mais de improviso e tu só queres ficar bem
    E ficas doida comigo porque tens noção do perigo
    Mas eu não se se consigo dar-te tudo o que tenho
    Sabes que te quero embora seja às vezes
    Tento ser sincero, só que, tu não me entendes
    Não tenho culpa, mas não sinto o que tu sentes
    Hoje ficas cá em casa, uma vez não são vezes

Ou seja, se as pessoas responsáveis pelo Instituto de Sangue Português pensam que ao eliminar os homossexuais controlam os custos e o risco, eu sugiro que repensem a natureza do problema.

P.S. E agora o título deste post: Eu tenho vários amigos homossexuais nos EUA--os gays gostam muito de mim. Eu até tenho um amigo que nasceu no Azerbaijão e outro que é dinamarquês, que são gay. Mas eu só conheço pessoalmente uma mulher lésbica em Portugal e, há 25 anos, um dos fulanos no meu círculo de amigos dava a impressão que era gay, mas não se assumia. Agora uma amiga minha disse-me que ele já é gay assumido. De resto, os gays portugueses ainda não me encontraram ou eu ainda não os encontrei, o que eu acho muito estranho porque eu conheço muita gente em Portugal.

Adenda: O guru da sociologia decidiu encostar-me à parede outra vez. Pois, eu não conhecer gays portugueses em abundância não é indicativo de nada--quer dizer, é indicativo que nem o NAJ, especialista em humor, apanha 100% do meu sentido de humor. Mas não deixa de ser curioso que os gays portugueses andem tão escondidos no dia-a-dia; eu nem os encontro no Facebook. Há uns anónimos no Tumblr, que eu encontro de vez em quando, mas por serem anónimos estão escondidos. Isto leva-me a ser muito reticente acerca de coisas onde é pedido que as pessoas se auto-identifiquem como gay em Portugal. Ah, diz o NAJ que o meu texto perde com a minha piada--este gajo não larga o osso. Irra...

Humor luso-americano...

Ele vive em Nova Iorque; ela vive em Houston.
Ele está em Portugal; ela queria estar em Portugal.
Eles conversam assim:

Sê filosófica filha. Não penses nisso

Susan Nolen-Hoeksema (1959-2013) dedicou grande parte da sua vida a estudar a depressão, que afecta muito mais as mulheres do que os homens. Depois de milhares de estudos empíricos, Nolen-Hoeksema chegou à sua teoria da ruminação e depressão. Ruminação é a propensão das mulheres a pensarem de mais nos problemas e a pensarem neles não para procurar soluções, mas para se lembrarem daquilo que as atormenta. Segundo a autora, são estes pensamentos insistentes e esta forma de lidar com os problemas que estarão por detrás da depressão e ansiedade femininas.

No seu livro “Mulheres que pensam de mais: como se libertar de pensamentos excessivos e recuperar a sua vida”, escrito para leigos, Nolen-Hoeksema expõe a sua teoria. Basicamente, como relembrava José Cutileiro há tempos no “Expresso”, é necessário seguir a máxima que Isaiah Berlin um dia ouviu numa conversa entre duas mulheres num autocarro: “Sê filosófica filha. Não penses nisso.”

terça-feira, 19 de maio de 2015

Uma pessoa pode fazer a diferença...

Este Outono, celebrar-se-ão os 50 anos de uma fome que não chegou a acontecer. Ver artigo na Bloomberg.

From whatever data he could assemble, Brown projected a deficit of at least 10 million tons of grain below the Indian government’s official demand estimate of 95 million tons. Previously India had never imported more than 4 million tons a year. If Brown's calculations were correct, feeding the nation would require a huge mobilization.

[...]

A 10,000-mile bucket brigade

The USDA tapped logistics specialists who had served in the Army Quartermaster Corps in World War II. They leased an Esso supertanker longer than a football field, the Manhattan, and anchored it in the Bay of Bengal to act as a floating harbor, because India's ports were insufficient to handle so vast a scale of imports.

Trains delivered U.S. Midwestern wheat to ships awaiting them in Galveston, Texas, and New Orleans. About two ships a day left for India, more than 600 in all, according to Brown’s 2013 memoir, Breaking New Ground. They docked to the Manhattan and emptied their grain into it. Thirty-foot boats called dhows then filled up with grain and carried it up the Ganges. About one-fifth of the U.S. wheat harvest in 1965 was shipped to South Asia. India produced only 77 million tons of grain, 18 million tons below the official demand projections.

"It was the largest movement of grain between two countries in history," Brown said. "We managed to get the grain in there and avoid the famine, but time became everything in that effort."

O furacão Rita

A época de tempestades tropicais no Atlântico abre a 1 de Junho. Em 2005, a época foi muito activa, com 28 tempestades. Não só se usaram todos os nomes das tempestades do alfabeto normal, como se usaram seis do alfabeto grego. Talvez se recordem que, nesse ano, houve um furacão Rita, que se tornou numa tempestade de categoria 5, a máxima. Eu tinha consultado a lista de nomes dos ciclones tropicais no Atlântico alguns anos antes e vi que o meu nome estava na lista para 2005, mas nunca pensei que chegasse à letra R. Afinal chegou.

O furacão Rita despejou muita chuva sobre a minha cidade preferida, Nova Orleães, e causou muitos danos. A tempestade foi tão forte que os seus vestígios chegaram ao Noroeste do Arkansas, onde eu morava, e eu saí à rua para que a chuva da Rita me molhasse. Como podem ver pela imagem abaixo, o furacão Rita é caracterizado por um olho (é o buraco no meio da tempestade) muito bem organizado.

O olho de um furacão é um local muito calmo, mas as paredes do olho do furacão são o sítio mais perigoso na tempestade porque é onde os ventos são mais fortes e onde se formam muitos tornados. Antes de se compreender como os furacões funcionavam, muitas pessoas saíam dos seus abrigos ao passar o olho da tempestade, que é calmo, porque pensavam que a tempestade tinha passado. Nessa altura não havia imagens satélite, nem sequer se sabia onde andava o olho da tempestade. E assim muitos pereceram, pois pensavam que estavam a salvo no olho da tempestade, mas ainda faltava o resto--e o resto incluía a parede da tempestade outra vez.

Más companhias

Gustave Le Bon (1841-1931) era um dos autores de cabeceira de Salazar. Na sua “Psicologia das multidões”, de 1895, escreveu o “psicólogo social” francês:

“Entre as características especiais das multidões, há muitas, como a impulsividade, a irritabilidade, a incapacidade de raciocinar, a ausência de julgamento e espírito crítico, o exagero de sentimentos, e outras ainda, que observamos igualmente em seres pertencendo a outras formas inferiores de evolução, tais como a mulher, o selvagem e a criança.” 

Mais coisa menos coisa, o que Le Bon diz sobre as multidões continua válido. Mas não é isso que agora me interessa. Reparem, a mulher é uma das “formas inferiores de evolução”, estando ao nível de um selvagem ou de uma criança, porque é incapaz de raciocinar, é impulsiva, irascível, etc. Estas ideias de Le Bon não eram nenhuma extravagância para a época, mas se calhar ajudam a explicar a cabecinha arrevesada do ditador de Santa Comba.

Um negócio perverso

Alexandre Homem Cristo chama aqui a atenção para um problema que merecia ser mais discutido na nossa sociedade: o negócio das explicações. Antes de mais, este negócio é um sintoma claro do falhanço das escolas. Evidencia um desfasamento “entre o trabalho dos professores, o desenho dos currículos e a elaboração dos exames.” Pior ainda: “exibe um sistema pouco disponível (por falta de tempo, recursos ou vontade) para apoiar alunos que, manifestando dificuldades, vão ficando para trás.” 

Por exemplo, até que ponto a melhoria, nos últimos anos, do desempenho dos alunos portugueses (especialmente na matemática) nos célebres testes PISA se deve aos progressos da escola pública, como alguns insinuam? Não, o mais provável é isto reflectir, sobretudo, os crescentes esforços dos pais, que ajudam directamente os filhos ou então pagam dezenas ou centenas de euros por mês em explicações.

Estamos perante uma aberração e Nuno Crato, infelizmente, nada fez para alterar este estado de coisas. Mas culpar o ministro não chega. Temos também de ser mais exigentes "com as escolas, professores e directores", que muitas vezes desistem dos alunos com mais dificuldades e os deixam ao Deus dará.

A importância e a falta de informação para a decisão: reflexões sobre a minha experiência no Governo

No Ministério da Administração Interna (MAI), como em todos os ministérios, existe uma multiplicidade de sistemas de informação, alguns bastante sofisticados, como acontece, por exemplo, com os sistemas de informação de gestão de recursos humanos da GNR e da PSP. No entanto, esses sistemas foram na sua maioria desenvolvidos para responder às necessidades de gestão corrente dos serviços e são ainda muito incipientes no que diz respeito à disponibilização de instrumentos de gestão. Para além disso, de uma forma geral, os vários sistemas de informação não comunicam entre si, dificultando assim a congregação de informação/indicadores numa plataforma única e uma visão global da realidade dos ministérios. A existência de informação fiável, em tempo útil e com uma perspectiva histórica é essencial para a tomada de decisão informada, sendo por isso uma condição necessária para a reforma do Estado.  
Eu, que fiz uma transição de pasta dentro do mesmo Governo, levei ainda assim uns meses a conhecer a realidade do MAI. De facto, aquando da minha entrada no Governo, em abril 2013, não existia no MAI um sistema de recolha de informação e indicadores que permitissem, na minha perspectiva, fazer uma avaliação de muitos dos assuntos que tínhamos sobre a mesa, quase todos lá colocados pela troica. De forma a poder fazer uma avaliação devidamente fundamentada dos problemas, o meu gabinete bombardeava os serviços com pedidos de informação. Uma queixa recorrente dos serviços do MAI aos muitos pedidos de informação era que nós nunca pedíamos a informação no formato que eles tinham disponível. A razão para essa diferença de formato resultava de os serviços e os decisores políticos terem necessariamente ângulos de visão diferentes sobre a mesma informação.
O Sistema de Informação de Gestão do MAI (SIGMAI), em funcionamento desde o início de 2015, disponibiliza aos gabinetes ministeriais e aos dirigentes dos serviços indicadores sobre contratação pública e recursos humanos, estando em fase de conclusão o módulo do orçamento do MAI, incluindo a análise mensal da execução orçamental, e em fase de preparação o módulo das instalações operacionais das forças de segurança. Com o SIGMAI em funcionamento, a transição entre gabinetes será mais suave, a aprendizagem mais rápida e as decisões políticas poderão ser melhor fundamentadas.
O SIGMAI está a ser desenvolvido com recursos próprios da área tecnológica da Secretaria Geral, aproveitando os vários sistemas de informação existentes, e evitando assim as soluções globais com custos de milhões de euros, que tantas vezes têm sido a opção sem, dada a complexidade da informação a tratar, alcançarem os objectivos definidos.  
A construção do SIGMAI não pode ser desligada do processo de alteração orgânica dos serviços centrais de suporte do MAI que descrevi no poste anterior. A criação de um serviço central único de interface entre os decisores políticos e os serviços operacionais permitiu centralizar na Secretaria Geral o reporte, pelos vários serviços, da informação necessária à construção dos indicadores de apoio à decisão e a sua disponibilização aos decisores políticos. Cabe à Secretaria Geral manter e proporcionar o desenvolvimento deste importante sistema de informação de gestão, e dá-lo a conhecer aos novos membros do Governo. Dada a qualidade dos seus dirigentes, estou certo que alcançará mais esse importante objectivo.