Um blogue de tip@s que percebem montes de Economia, Estatística, História, Filosofia, Cinema, Roupa Interior Feminina, Literatura, Laser Alexandrite, Religião, Pontes, Educação, Direito e Constituições. Numa palavra, holísticos.
segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016
My fair lady
Prendam-me no Texas
Frases famosas 44
domingo, 28 de fevereiro de 2016
O argumento de nomeação
Estou desapontada!
- As mulheres pensam em sexo e algumas até pensam muito
- A mulher pode parecer muito inocente, mas o que está dentro da cabeça dela, se calhar, não é...
- As fantasias das mulheres até podem ser mais excitantes do que a pornografia dos homens
- Talvez vos excite usar umas palavrinhas do vernáculo quando estão com @ voss@ parceir@
- Talvez devessem fazer uma coisa tipo discos pedidos, mas com actos sexuais
- Esta coisa do sexo é uma em que, por vezes, nem é fácil falar, nem é fácil fazer
- Haver cumplicidade entre os membros do casal é essencial
- E aquela coisa chata do diálogo também...
No outro dia li uma coisa engraçada no The New York Times, infelizmente não guardei o link. Falava de um casal em que a mulher tinha tido uma relação extra-conjugal onde sexualmente era mais livre do que nas relações que tinha com o marido. Sempre achei uma coisa muito interessante, que as pessoas de quem gostamos mais, ou que gostam mais de nós, por vezes não nos inspiram a confiança de estranhos. Temos medo que pensem mal de nós, não sei bem. Não tenho solução, nem sequer vos posso dizer que sempre tive um bom nível de confiança com todos os parceiros que tive. Fica aqui apenas o apontamento.
Finalmente, não se preocupem, não tenho uma boca assim tão "porca" no dia-a-dia. Frequentemente, tenho de recorrer à Internet (o "bater uma grelada" do outro dia veio da Internet) ou perguntar a amigos porque o meu calão em português é bastante limitado. Não namorei muito aí, nem tinha amigos, na altura, que usassem muito calão -- caramba, nem sequer tinha muitos amigos --, logo não vivi Portugal assim. Mas, às vezes, o calão é uma ferramenta que deve ser usada na escrita. Como diz o Stephen King, no seu fabuloso "On Writing: A Memoir of the Craft", até os escritores têm uma caixa de ferramentas, e eu ando a aprender a escrever logo ainda tenho uma caixa meio-vazia...
A biologia também conta
Entre a ignorância e a ciência
Foram carros, foram motas
Será sempre a subir
Ao cimo de ti
Só para te sentir
Será do alto de mim
Que um corpo só
Exalta o seu fim
As mulheres americanas gostam de carros grandes: SUVs, carrinhas, etc. Nunca achei grande piada a esses carros. Quero um carro confortável, mas que também me dê uma boa experiência a conduzir. Por sorte, em 2005, quando andei à procura de carro, encontrei um carro usado, de 2000, que me agradou muito. Sim, podia ter comprado um carro novinho em folha, que me agradasse, mas carros novos são um péssimo investimento. Um carro é um bem utilitário e perde valor assim que o compramos, logo não acho que valha a pena comprar novo. E depois, ultimamente, têm aparecido por aí uns carros meio-feios, que não me agradam.
Merda d’Artista
O Godwin só costuma dar um ar da sua graça lá para a terceira frase, mas desta vez é irresistível: estava a ouvir este rapazinho, e a lembrar-me das posições sobre a "arte degenerada" na Alemanha nos anos 30. A passagem "dantes é que eles pintavam bem" evoca imediatamente os nazis que trocavam as obras de "arte degenerada" confiscadas por quadros "como deve de ser" - os dos antigos. Também havia os que levavam os produtos do confisco para a sua colecção particular - seria talvez a atracção do abismo (e pergunto-me, maldosa, se este rapazinho não terá uma conserva de Merda d’Artista do Manzoni a servir de pisa-papéis) (sim: suspeito de uma certa fixação fecal, devido às nuances precisas de shit, bullshit e dogshit na sua assertiva adjectivação).
Não que o rapaz seja nazi. Nada disso. Está apenas a incorrer no mesmo erro de olhar para a arte a partir da sua perspectiva limitada, e a negar a possibilidade de outras perspectivas. Além disso, ainda não percebeu que na arte moderna há uma componente meta artística e meta cultural (o objecto de arte como reflexão, descoberta, experiência e provocação da arte e da cultura) e outra à maneira de Rorschach (uma parte importante da obra de arte é aquilo que evoca na pessoa que a contempla). Ironicamente, o rapazinho inscreve-se nas obras que critica, e revitaliza-as: não há provocação sem provocado. E mais não digo, porque não sei.
(A Merda d'Artista do Manzoni, em latinhas numeradas e assinadas, foi vendida ao preço do ouro, e desde então o seu valor tem aumentado exponencialmente. Este fenómeno ilumina com tal crueza e nitidez certas cenas do nosso tempo, que quase se podia dizer que o Manzoni é um Caravaggio contemporâneo...)
sábado, 27 de fevereiro de 2016
Archangel
Cerveja e tremoços
sexta-feira, 26 de fevereiro de 2016
Peak Lindsey
Sen. Lindsey Graham (R-S.C.) is known for telling it like he sees it, but Thursday afternoon, battling a cold that has made his voice hoarse, we may have finally found “Peak Lindsey”.The onetime presidential contender gave a seven-minute diatribe in the Capitol basement, lambasting the Republican presidential frontrunner with enough pejoratives that he confided he was “literally running out of adjectives” to impugn Donald Trump.
Why will Trump lose the general election? “Because he’s just generally a loser as a person and a candidate,” Graham said.
Pressed later about why Trump would lose, Graham raised his voice to make his point: “Why will he lose???? Because he’s ill-suited for the job!!!”
Graham, who endorsed Jeb Bush after dropping out, has not yet backed another candidate in the wake of the ex-governor’s own withdrawal. Graham sheepishly admitted he would endorse Trump if he wins the nomination: “I’ve got a ticket on the Titanic. So I am like on the team that bought a ticket on the Titanic, after we saw the movie. This is what happens if you nominate Trump.”
[...]
“I think he’s going to lose and he’s going to lose badly. And I think all the things that we care about are going to be locked in place,” he said. “So don’t look at me to be the guy who stops [Hillary Clinton] from being president of the United States. You can’t have it both ways. You can’t nominate a nut job and lose, and expect it doesn’t have consequences.”
Asked if he thought Trump would win the nomination, a dejected Graham said, “Yeah, pretty much so.”
Adeus...
Tadinha da Maria
Vem isto a propósito - está-se mesmo a ver! - do cartaz do Bloco de Esquerda. Eu não tenho nada contra o choque. Bom, quando é adjectivo a seguir a rosa, tenho um bocadinho e talvez por isso tenha achado a estética do outdoor horrível. Mas, grafismos e cores à parte, o problema é mesmo o da mensagem. Eu sei que os bloquistas não são propriamente muito ecuménicos, no entanto, a sua devoção não sairia beliscada com alguns conhecimentos básicos. Por exemplo, o de que Deus não faz parte da Sagrada Família. Usando a taxonomia actual, Deus é o pai biológico, José o adoptivo. E há uma mãe envolvida. Portanto, grande tiro ao lado, Bloco de Esquerda.
Mas mais. Este cartaz tem um tom revanchista que não honra a Política, nem a causa que pretende defender. Num assunto em que o debate sério se fez em torno do direito das crianças a serem amadas, aquele-Jesus-num-fundo-fúcsia transforma o tema numa arma de arremesso nem se percebe contra quem. O que me leva a perguntar: porquê esta necessidade de vitória?...
Pela sua saúde
Studies Show That Eating Pussy Prevents Cancer |
"e porque é que se quer tornar alemã?"
Já tenho os papéis, e até já comecei a preenchê-los. O meu problema é a pergunta "porque é que se quer tornar alemã?" É uma pergunta armadilhada, podem crer! Em menos de nada dou comigo a tropeçar para dentro do chorrilho de disparates que me habita. Só me ocorrem respostas como: porque já sou, os meus amigos portugueses até me chamam alemoa. Ou: porque até já perdi amigos no facebook (sim! para que se veja a dimensão da tragédia!) por andar a defender que a Angela Merkel não é nazi como a pintam. Ou: porque sou a única estrangeira da minha família, e é muito triste quando passamos uma fronteira e o meu passaporte dá nas vistas por ser diferente. Ou: porque se for raptada no Jemen o MNE alemão paga mais que o MNE português. Ou: porque é para isso que me pagam (é verdade: uma vez, ali para os lados da terceira cerveja, os meus amigos fizeram um crowd founding, juntei 6 euros!) (de facto, 6,01 euros, porque uma antipática só deu 1 cêntimo, disse que eu estava muito bem como portuguesa, a grande antipática) (e também há a minha sogra, que quer pagar as despesas todas do processo, para haver mais um eleitor que não vota Alternativa para a Alemanha, mas tenho de prometer que também não voto Die Linke) (estou a pensar ir aos Die Linke perguntar se querem cobrir a oferta da minha sogra).
Claro que podia escrever "porque quero participar no sistema democrático do país onde já vivi metade da minha vida, etc. etc." - mas isso seria demasiado prosaico. Coitados dos funcionários públicos alemães, passam a vida a ler as mesmas frases sem graça. Soubesse eu escrever alguma que provocasse uma alegre gargalhada no cinzentismo daquele escritório!
(Soubesse eu fazê-los rir, sem me desgraçar...)
Para um dia que não tenha nada que fazer, já tenho projecto de vida: preencher formulários de modo a alegrar a vida aos funcionários públicos. Reduzo a taxa de depressão nos serviços, o pessoal até vai trabalhar mais cedo na expectativa de encontrar um dos meus formulários, a produtividade aumenta, e com sorte o presidente Gauck ainda me dá uma medalhinha no 3 de Outubro. Embora eu preferisse a do 10 de Junho, porque trago Portugal no coração e é essa a gentil pátria minha amada, e além disso os rissóis da cozinheira da Embaixada de Portugal em Berlim são extraordinários, uma pessoa fica cheia de vontade de prestar serviços de valor à pátria só para merecer um pratinho bem aviado deles.
Soube-me tão bem!
post entre o divã do psicanalista e a mesa do café
Traumatizaram-me. E deve ser por causa deste trauma profundo que estremeço sempre que se diz que os refugiados que não cumprirem as nossas regras devem ser sumariamente recambiados para a terra deles. Que estranho conceito de dignidade humana e de liberdade são os nossos, se apomos permanentemente uma espada de Dâmocles sobre pessoas que estão num terrível estado de dependência e fragilidade? E como será viver permanentemente sob essa ameaça? Atravessas no vermelho - volta para a tua terra! Largas um piropo a desconhecidas - volta para a tua terra! Roubas um telemóvel - volta para a tua terra! És indisciplinado na sala de aulas - volta para a tua terra, e leva a tua família contigo! Andas de bicicleta no passeio - volta para a tua terra! Mandas bocas homofóbicas - volta para a tua terra!
Vamos com calma. Melhor será ficar assente que daqui não sai ninguém, e que as pessoas que precisam da nossa ajuda não são seres humanos de segunda, e muito menos reféns da nossa generosidade. Se queremos que os refugiados se integrem, temos de treinar em conjunto algumas regras básicas: intangibilidade da dignidade humana, igualdade perante a lei. A melhor maneira de ensinar é dar o exemplo.
Surpreende-me a falta de confiança nos seus próprios valores que a Europa tem revelado. Serão eles tão frágeis e abstrusos que uma vaga de imigração correspondente a menos de 1% do total da população os pode pôr em causa e até destruir? Temos tão má impressão dos nossos modelos de vida e de sociedade, que não acreditamos que eles possam ser atraentes para quem vem viver entre nós?
Acredito que, muito pelo contrário, se soubermos ser o que dizemos que somos, os nossos novos concidadãos saberão orientar-se neste quadro. De facto, o maior desafio não é ensinar-lhes os nossos princípios e regras - é nós próprios termos consciência deles, e saber conceder aos recém-chegados a mesma margem de tolerância que concedemos aos nacionais. De certo modo, a crise dos refugiados pode ser uma oportunidade para a Europa tomar consciência de si própria e reencontrar-se consigo.
Recentemente, numa mesa de café, ouvi alemães queixarem-se da "invasão". Naquele tom exaltado de quem tem a coragem de afrontar o politicamente correcto, acusavam a dificuldade de trabalhar nas salas de aulas com alunos que não falam alemão e não respeitam as professoras, a esperteza de alguns refugiados que "chegam cá cheios de exigências", o "só estão interessados no nosso rico dinheirinho", os "inúmeros casos de abusos sexuais, que nenhum jornal se atreve a publicar" - os queixumes habituais, com o habitual refrão de estamos perdidos, vem aí o fim do mundo.
Não entendo: então uma escola com dezenas de professores adultos não é capaz de dizer a um adolescente que ganhe juízo? E qual é a dificuldade de dar a um refugiado aquilo a que ele tem direito, e fazer-lhe ver que há limites legais e processuais para atender os seus desejos e necessidades? O que leva pessoas de uma sociedade - tão avançada e com tanta maturidade democrática como esta - a inventar um papão para poder exibir um medo irracional e infantil?
À mesa do café, respondi que me sinto nos antípodas desses medos, e que o meu problema é outro: é sentir-me egoísta por ter uma casa de férias que quase não é usada quando há tantas pessoas a viver em condições dramáticas. Ou o desconforto perante o número cada vez maior de casas vazias, usadas para especulação. Como é possível brandirmos os valores cristãos e humanitários da herança europeia, e pormos a protecção da propriedade privada acima da ajuda humanitária? Perguntei-lhes: o que impede o Estado de requisitar as casas vazias para alojar refugiados? Desde que as liberte mal sejam realmente necessárias, e faça as obras de recuperação que for preciso, não vejo nisso qualquer inconveniente. Além de ter uma grande vantagem: em vez de se criar guetos de refugiados, as pessoas são distribuídas uniformemente pelas cidades, uma condição sine qua non do sucesso na integração.
Olharam-me incrédulos: eu, como estrangeira, não me devia pôr a dar conselhos aos alemães sobre as regras, a política e a gestão da propriedade privada deles. Olharam-me com ar de "volta para a tua terra!"
(Um divã de psicanalista junto a esta mesa de café seria uma bela medida de saúde pública: os meus amigos tratavam a sua Angst, e eu a minha angústia da rejeição.)
quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016
Uma história grega
Referendo - segundo take
Orçamento do Estado 2016: o regresso ao passado
A contrapartida
Should I stand amid the breakers?
Or should I lie with death my bride?
Ele tem mais de 60 anos, não sei ao certo. É obeso, sabe que devia perder peso, o seu cabelo totalmente branco, as roupas são largas, por vezes sujas, nada que indique o seu verdadeiro estatuto social: é rico, não muito, apenas milionário, mas o suficiente para se dizer que pertence ao 1%. Não é assim tão difícil pertencer ao 1%, nos EUA. É especulador em activos imobiliários, é a contrapartida. Quem compra uma casa nos EUA precisa de uma contrapartida, alguém que assuma o risco, ele é um deles, um dos que assume essa contrapartida de risco, um especulador. Quando alguém não paga a casa, as contrapartidas pagam por eles porque assumem o risco. Aquelas pessoas que os portugueses me dizem ser pessoas horríveis, parasitas dos seres bons que habitam por estas bandas. Eu ouço-vos e vejo a humanidade presa por um fio.
quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016
Contos zen para crianças boas 26
O princípio do fim
Para defender a sua posição, os Republicanos invocam a posição que Joe Biden tinha há quase 24 anos, enquanto Senador quando, em Junho de 1992, sugeriu em entrevista ao WashPost e num discurso no Senado, que o Presidente George H.W. Bush não deveria nomear um substituto para uma demissão voluntária de um Juiz e que deveria deixar isso para quem ganhasse as eleições, que se realizariam no início de Novembro, como normal. Nesse caso, estaríamos a falar de um período de seis meses até que um Presidente novo que ganhasse essas eleições tomasse posse (foi Clinton). Como era uma demissão, a pessoa poderia continuar em funções até a demissão ter efeito, o que é impossível em caso de morte, obviamente. (Contudo, é de notar que o SCOTUS não precisa de nove Juízes para funcionar; nove é o número máximo e é um número simpático porque não permite empates.) No caso do substituto de Antonin Scalia, estamos a falar de um período de 11 meses até poder haver uma nomeação e normalmente leva 67 dias a confirmar um Juiz do Supremo Tribunal de Justiça, logo um período total de 13 meses. Não é muito razoável esperar mais de um ano.
Mas o mais interessante disto tudo é a divisão que se criou entre os Republicanos: o senador Republicano, James Lankford distanciou-se de McConnell, dizendo, "I wouldn't have a problem with that. The President's going to do his job and I'll do mine." Sim, meus amigos, estou orgulhosa de ele ser de Oklahoma -- foi lá que eu vivi primeiro.
como se fosse uma apresentação
A minha amiga contava histórias mirabolantes sobre as famílias que procuram essas escolas. Como a de ter perguntado aos pais de um miúdo com milhentos nomes próprios como é que ele queria ser chamado e os pais, magnânimos: oh, não é preciso complicar, "senhor duque" basta. Infelizmente, contou a minha amiga, descobriu-se que já não havia mais nenhuma vaga.
Em todo o caso: um belo dia, pouco depois da nossa chegada a Berlim, dei comigo no fim de uma reunião de pais a comer pizza em frente a uma duquesa muito simpática, que se chamava Mary e se fazia tratar por tu. Seguiu-se um convite da Mary para um pequeno-almoço na sua casa. Fiz uma bola de Lamego, e fui. À mesa, era a única plebeia. Todas as outras senhoras eram condessas, marquesas, duquesas, sei lá. Também havia uma princesa, e vinha vestida com jeans confortáveis, botas de couro e um camisolão velho e largo cheio de borbotos. Já não se fazem princesas como antigamente, no tempo do Walt Disney. O pequeno-almoço foi óptimo. A bola de Lamego foi muito louvada, anotaram a receita (sou a Catarina de Bragança da Alemanha: daqui a uns séculos o mundo falará da tradição alemã de fazer um pequeno-almoço de amigas com bola de Lamego). Como ia dizendo: foi um pequeno-almoço óptimo, elas iam contando as suas histórias e eu ia descobrindo pelas entrelinhas que a nobreza alemã é como as bruxas espanholas: ninguém acredita nelas, pero que las hay, pero que las hay. Também contei as minhas histórias, imensas coisas interessantíssimas da área da sociologia no tempo de Jesus Cristo, e elas estavam pasmadas, até parecia aquela cena de Jesus no meio dos doutores do templo. Depois não sei que aconteceu, nunca mais devem ter tomado pequeno-almoço, coitadas, porque não recebi nenhum convite.
Voltei a cruzar-me com a Mary no Estádio olímpico, durante a missa do Papa Bento XVI. Calhou de nós, os plebeus, termos convite para os lugares VIP mesmo atrás da Angela Merkel, e os duques estarem no terceiro anel. Às vezes desconfio que Deus é um grande cínico. Ou distraído. Ou republicano.
Anos mais tarde, faz agora algumas semanas, vesti-me confortavelmente e fui com o cão distribuir pela cidade folhetos para um evento dos Portugueses em Berlim. Ao passar pelo consulado tive tanto azar que me cruzei com o novo Embaixador, e mais azar ainda: fomos logo ali apresentados. Ele de uma elegância impecável, no seu sobretudo cognac, e eu feita princesa alemã: camisola larga e cheia de borbotos, jeans velhas, e as minhas botas favoritas, iguaizinhas às da Laura Ingalls. O cão, esse, estava um autêntico príncipe encantado antes de lhe darem o tal beijo. Parecia um cão de sem-abrigo com a trela velha e cheia de emendas, do tempo em que a roía para ir à sua vidinha em vez de esperar por nós (é um rafeiro português independente e cheio de personalidade). Como se não fosse já suficientemente mau, da segunda vez que me cruzei com o Embaixador estava vestida de minhota. Não sei se ele me dará uma terceira oportunidade.
Para o caso de um dia, por sorte, me ser permitido reajustar a imagem perante o novo Embaixador, estou preparada: já comprei uma trela nova para o cão. Numa loja cara e tudo, um luxo. Agora, quando o deixo à porta do supermercado, venho repetidamente espreitar à porta, não vá alguém querer roubar a trela de marca e levar o rafeiro agarrado. Estava capaz de inventar uma nova modalidade de fitness: põe um saco de cebolas no carro das compras, vai à porta do supermercado. Põe dois litros de leite no carro das compras, vai à porta do supermercado. Põe um pacote de arroz no carro das compras, ...
E assim vai a vida, em Berlim. Vai e vem, vai e vem, e a cada coisa pergunta que nome tem.
Nova aquisição
Sobre ela, perguntou-me uma vez a Rita: "Porque é que há uma mulher fabulosa que não faz parte da nossa equipa?"
Costa, o Neoliberal
Concretely insane!
terça-feira, 23 de fevereiro de 2016
Sardinhada
No sofá, estão umas almofadas em verde e vermelho, que eu comprei na Pottery Barn. E o Alfred está sentado num pouf que eu fiz. Encontrei um quadrado do tecido numa loja e gostei tanto dele que o comprei, mas depois, durante anos, não sabia o que fazer com aquilo. Finalmente, lembrei-me de fazer um pouf. As cores são vermelho, azulados, esverdeados, e algum amarelo. O tecido tem crisântemos, o que me recorda do Outono em Portugal; apesar dos crisântemos pequeninos também serem muito usados nos EUA. Depois de arrumar a minha sala, reparei que é um bocado como a bandeira de Portugal, só que este verde não é o tom do da bandeira.
Hoje de manhã estava a pensar que, se os americanos me apanhassem, diriam que eu tinha traído a jura que fiz durante a cerimónia de cidadania, mas depois lembrei-me que o meu quarto está decorado em tons de azul, vermelho, e branco. O azul também não é o tom da bandeira americana. Nada disto foi planeado conscientemente, ou seja, o meu subconsciente tem tendências nacionalistas, mas não sabe bem de que nação gosta mais -- tem dois amores, como o Marco Paulo.
Reportagem 100
segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016
Optimum Currency Areas, Real and Nominal Convergence in the European Union, de João Sousa Andrade e António Portugal Duarte
Perceções dos Consumidores Domésticos acerca das Faturas de Água, de Patrícia Moura e Sá e Rita Martins
Pity Talk
Já vi este filme muitas vezes. António Costa é como aqueles homens casados que andam atrás de mulheres e, para as seduzir, dão-lhes uma "pity talk": "Sexo com a minha mulher é mau, ela não gosta de mim. Se soubesse não me tinha casado, tu é que és a mulher da minha vida. Vou separar-me um destes dias, sou tão infeliz." O PSD é tão mau como uma esposa. Mas tomem lá rosas e perfume, ó PCP e BE, que vocês é que são os grandes amores da sua vida. E um dia destes o Dr. Costa até vos leva para a cama e dá múltiplos orgasmos numa noite só porque convosco é que ele é bom. Depois para lavar a roupa e passar orçamentos rectificativos, lá tem de vir a esposa em socorro...
P.S. O momento mais triste é Portugal ter, mais uma vez, um Primeiro-Ministro que sacrifica os interesses do país para avançar os próprios.
Ainda sou deste tempo...
Referendo - primeiro take
A separação das águas?
domingo, 21 de fevereiro de 2016
Nacionalização e centros de decisão nacional
Tudo a postos!
Eu, que já não sou jovem, parece que não sou querida pelo Dr. Centeno. Não faz mal, também não me dou muito bem com o desemprego, nem com a burocracia e os atrasos dos portugueses. Caraças, se calhar, a julgar pelos insultos que tenho recebido ultimamente na minha língua mãe, até é altamente duvidoso que eu me dê bem com portugueses! Pensava que toda a gente -- de Esquerda e Direita -- sabia o significado de liberdade de expressão, mas não: pensam que é um convite ao insulto, em vez de um convite ao debate de ideias. Devo ter confundido Portugal com os EUA.
Não é por isso que vos escrevo. Tenho boas notícias para o nosso governo: os emigrantes de Angola estão a regressar e eles eram mais de 126.000 em 2014 e como lá também não há liberdade de expressão, são pessoas mais parecidas com os restantes portugueses do que eu. Só para verem como sou má para aí, basta saberem que acho cinemas-restaurantes o máximo, uma clara indicação que estou completamente americanizada e até tenho um passaporte para o provar. Segundo me contam alguns amigos de Esquerda, que destestam o capitalismo, os americanos são péssimas pessoas, começam guerras e tudo -- mais nenhum povo é assim tão mau.
Conheço três dos emigrantes que regressaram de Angola e são todos muito boas pessoas. O que é chato é que as remessas deles vão terminar. Em 2014, foram mais de €240 milhões de euros enviados; em 2013, tinham sido mais de €300 milhões. Mas não há problema porque esta gente toda trabalha, logo podem aumentar o PIB português imediatamente.
É agora que Portugal vai crescer! Afinem o motor do PIB...
A procura
O mel
A primeira vez que ouvi Tidal de Fiona Apple não gostei muito. Até emprestei o CD a um amigo e ele ouvia-o constantemente e dizia-me o quanto gostava do álbum. Pensando no caso agora, não percebo porque é que não lho dei. Ainda bem que não o fiz porque, anos depois, este album cresceu em mim e tem temas que se tornaram alguns dos meus preferidos -- não é raro, às vezes acordar de manhã, e desejar ouvi-los. Assim foi esta semana com "Slow like Honey": a letra sublime, a voz lânguida, e a melodia lenta como o mel convidam ao sonho acordado. Para ouvir só ou em boa companhia; mas mesmo boa mesmo!
sábado, 20 de fevereiro de 2016
Os "lesados" do BES
Tudo mal
sexta-feira, 19 de fevereiro de 2016
Novela 24h
Oh baby, baby...
Being in Vegas for #PieceOfMe is amazing for so many reasons... Especially when you get to meet @HillaryClinton! pic.twitter.com/OMEIKYpLec
— Britney Spears (@britneyspears) February 19, 2016
E a Hillary, como sempre, entre o seu homem e uma mulher...
@JarettSays it gets better!!!!! pic.twitter.com/En0Md1acgp
— Jarett Wieselman (@JarettSays) February 19, 2016
Quem casa com economistas nos EUA
Frases famosas 27
quinta-feira, 18 de fevereiro de 2016
Visita guiada
Papa vs. Trump
Não aprecio grandemente conversas sobre religião, mas uma vez tive uma engraçada com uma menina de 10 anos, em Oklahoma, que me disse que a sua professora de piano não aceitaria crianças da religião judaica. Ela e a sua professora era baptistas. Eu disse que não fazia mal, decerto que não havia muitos meninos judeus em Oklahoma. Ela insistiu, disse que mesmo se houvesse, a professora não aceitaria. Eu perguntei-lhe se ela sabia que Jesus Cristo era judeu. Não sabia, também ainda era muito jovem para saber isto e para lhe ter ocorrido aquela ideia. Fiquei muito incomodada que uma criança tão pequena já tivesse presenciado conversas entre adultos na qual se discriminava pessoas com base na religião.
O melhor já passou...
Se fosse eu, calava-me!
Frases famosas 3
Lei da Atracção (ou da Traição)
As taxas de juro desta dívida até são baixinhas porque os prazos são curtos, logo há menos incerteza, mas se adiámos o empréstimo do FMI e, no entanto, continuamos a ir ao mercado emitir dívida de curto prazo, então vamos usar esse dinheiro exactamente para quê? Só há duas opções: vamos pagar dívida antiga com empréstimos de curto prazo, o que pode ser arriscado se ficarmos sem dinheiro na tesouraria como aconteceu durante o governo Sócrates, ou vamos gastar este dinheiro em despesas correntes, o que não gera crescimento, mas assegura-nos uma dívida crescente.
No entanto, tenhamos fé, que ainda não paga imposto! E não se preocupem, há sempre compradores para a dívida desde que os investidores sejam recompensados pelo risco e taxas de juro altas são necessárias para atrair investidores com mais apetite para risco. A JP Morgan já disse que as yields da dívida portuguesa estão a tornar-se muito atractivas. Isto é uma maneira simpática de nos dizer "Obrigada". Um governo que esperneia e assusta os mercados antes de emitir dívida é tipo o Pai Natal dos credores. O Pai Natal dos contribuintes é que nunca mais aparece...
quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016
Porquê votar no Trump?
Juntemo-nos aos maus...
Da peça do Matt Levine, que mais parece o princípio de um romance:
We've talked a lot about Argentina's sovereign-debt saga, but now that it is perhaps drawing to a close I'd like to tell the story again, from a slightly different perspective. (If you want it from the regular perspective, you know where to go.) This version of the story starts in 1998, when Argentina issued some bonds called floating rate accrual notes. The FRANs were due in 2005, and their floating interest rate was based on the market yields of other, fixed-rate Argentine debt. The idea was that if Argentina's credit deteriorated, holders of these bonds would be compensated in the form of a higher interest rate. This sounds like a sensible enough idea. It was a terrible, terrible idea.
Do editorial de ontem:
Before Argentina’s debt crisis is resolved -- and prospects have been looking better lately -- it’s worth pausing to ask why the stalemate has lasted so long. (More than a decade, but who’s counting?) Preventing these kinds of fiascos will require changing what happens when a government is unable to pay its debts.The protracted impasse in Argentina shows what’s at stake. Increasingly frustrated by Argentina’s refusal to heed court rulings, a U.S. federal judge told its government not to pay creditors who’d agreed to settle unless it also paid the holdouts. He also forced intermediaries to help enforce his ruling.
Não tenho resposta
Nós, humanos, somos máquinas de sobrevivência e, muitas vezes, para sobreviver, o nosso cérebro restringe o acesso a certas memórias. Mas há outros entraves. Quando a vítima vai ao médico em busca de tratamento e, até junto de amigos, admite não estar em pleno controle das suas faculdades e o perpetrador do abuso parece ser uma pessoa que está bem, é afável para com os outros e até para com a vítima à frente de testemunhas, temos logo uma situação na qual um lado está em grande desvantagem relativamente ao outro. E depois temos um sistema ineficiente e, muitas vezes, cheio de falhas. Quantas vítimas em Portugal não padecem, mesmo depois de pedir ajuda ao estado? Esta semana, uma mulher foi detida por suspeita de homicídio dos seus filhos, meses após ter apresentado queixa por maus tratos e abuso sexual dos seus filhos por parte do seu ex-companheiro.
Mas não é o único caso, como já escreveu a Sara aqui: assistimos também à continuação do lamentável caso de Bárbara Guimarães vs. Manuel Carrilho. Não só a Juíza demonstra ser completamente parcial, como humilha a vítima na forma como a trata (ela é Bárbara, ele é Prof. Carrilho) e perguntando-lhe porque não se queixou mais cedo -- a lei portuguesa não estipula em que data deve ser feita a queixa após o início do abuso. Desde que o crime não tenha prescrito, a vítima decide; a Juíza que se preocupe em aplicar a lei e salvaguardar os direitos de todos os envolvidos. E por falar em direitos, até os direitos de Dinis Carrilho, filho do casal, foram comprometidos neste caso, pois o seu testemunho foi tornado público, quando devia ter sido confidencial.
Bem, mas a propósito do post do José Carlos, às vezes pergunto-me o que é que eu faria se estivesse numa situação deste tipo. Nunca consegui achar uma resposta. Quando o nosso cérebro fica tão debilitado devido a abuso, sabe-se lá como é que iremos reagir. Eu, que me acho uma mulher bem-formada e com conhecimento dos meus direitos, com boa auto-estima, e com uma língua afiada q.b., não posso garantir que um dia, caso as circunstâncias o permitam, não serei vítima. É por isso que tenho bastante dificuldade em confiar em homens. E digo homens porque não tenho relações amorosas com mulheres; mas há, obviamente, mulheres que também não merecem confiança.
Frases famosas 42
Outra coisa qualquer
Não há muito tempo li uma reportagem na qual jovens universitárias portuguesas se queixavam da violência dos namorados. E, claro, lá apareceram as piedades do costume para com as pobres raparigas que apanhavam. Como é possível isto acontecer em pleno século XXI? O que leva essas jovens "vítimas" a continuarem a namorar com anormais? Confesso que está para além da minha capacidade de compreensão. E, por favor, não metam o amor nestas histórias. Aqui não há amor, há outra coisa qualquer.
Definições
- Government revenue: receitas dos estado em percentagem do PIB
- General government spending: despesa gerais do estado em percentagem do PIB
- Government gross debt: dívida bruta do estado
Depois interessei-me pelo stock de dívida porque não batia certo com as contas que o Ministério das Finanças apresentou no OE2016. Fui ao Eurostat, que é um horror de navegar, e recolhi a dívida bruta do estado: General government consolidated gross debt. E ainda -- não, não vai sair a Bota Botilde, vai sair a definição de dívida do Banco Mundial: Central government debt, total, mas a base de dados não incluía 1996, nem 2014.
Com isto tudo fiz um boneco. Como podem ver, a despesa anual não parece ser nada do outro mundo comparada com a receita, mas a dívida tem uma ascensão astronómica, o que indica que ou os juros penalizam muito, ou a dívida é contraída à margem do que o estado diz ter gasto. Parece-me que o que se passa é que os governos se comprometem a gastar empurrando despesa para o futuro e ocultando-a das contas presentes, ou seja, vale de muito pouco olhar para o défice para tentar inferir o impacto na dívida.
E depois há a definição de dívida que a OCDE usa e a definição de dívida que a UE usa e a definição de dívida que o Banco Mundial usa. Note-se que a definição da UE parecia ser a que dava um aspecto melhor da coisa, como se as raposas estivessem a guardar o galinheiro.
Olhando para isto, e tendo em conta que a dívida é pelo menos 30% superior ao PIB e a taxa de juro média da dívida excede a taxa de crescimento do PIB, sinceramente não percebo como é que ambos governos PSD/CDS/PP e PS/Geringonça contam em reduzir o stock de dívida, medido em termos de percentagem do PIB, tão cedo. Não percebo a matemática disto.
P.S. Julgo que o problema é eu não ter as definições certas, pois se as variáveis fossem definidas de outra maneira, o problema desapareceria. É como os porcos: com um bocadinho de batôn, não só não são porcos, como têm uma beleza tão resplandecente, que fazem da Sara Sampaio uma gaja completamente banal...