sábado, 12 de novembro de 2016

Para ver se entendo

Manifestar a indignação na rua (nos EUA e no resto do mundo, agora e noutras alturas) com ocupação de praças, destruição de montras, vandalismo contra carros, desejos da morte dos velhos, comparações com Hitler, ataques à polícia, tentativas de invadir o parlamento, pedidos de demissão dos governantes, é justo e legítimo.
Manifestar o descontentamento através do voto é indigno e inaceitável.

(Disclaimer para evitar suposições e equívocos: se eu fosse americano não teria votado Donald Trump.)

3 comentários:

  1. Caro Nuno Amaral Jerónimo, este seu post abre-me a porta a falar aqui no DdD sobre algo que já manifestei em correspondência privada com várias pessoas, Americanos na sua maioria mas não só. Devo salientar, note, que apreciei sobre-maneira a mordacidade fina do seu escrito. BRAVÔ!

    Vejo com um sorriso de superioridade (assumidamente isto) a forma como muita gente vem reagindo aos resultados das eleições Americanas. Não é, de resto, a primeira vez que isto sucede. Ora vejamos; eu que tenho uma certa fama (errada mas é irrelevante para o caso) de fascista entre Portugueses sempre soube aceitar resultados de eleições livres. Mesmo em países onde não concordo com a bondade do regime democrático para o seu governo aceito-os. Isto porque eu concordar ou não com a democracia nesses países é irrelevante para a realidade sendo esta que o regime é efectivamente democrático portanto é com ele que tem que viver-se e com esse pano de fundo que tem que construir-se o raciocínio. Sempre fui defensor que as sociedades devem, colectivamente, colher os frutos, bons ou maus, das escolhas que fazem. Ao longo da vida, evidentemente, já estive no lado perdedor um ror de vezes. Muitas mais que do lado vencedor, como pode imaginar. Que remédio tive senão engolir e aceitar com boa cara. E, parece-me, é esta a essência do regime democrático. Se há democracia tem que haver também, evidentemente, respeito democrático pelos resultados das eleições. Mas isto sou eu, um tenebroso fascista aqui a pensar alto.

    Em contrapartida, e isto não é um exclusivo destas eleições Americanas!, os «verdadeiros democratas», aqueles que andam sempre com a democracia na boca, os brigadistas sempre prontos a apontar o dedo ao mais ínfimo ponto que encaram como desvio da democracia, esses que tão convecidamente se acham tão grandes e tão superiores ainda não pararam de vociferar, insultar, enfim, em geral, ainda não pararam de destilar o despeito que sentem. Tem-se visto isto em jornais de meio mundo, políticos (Jean-Claude Juncker tem sido uma rematada vergonha neste aspecto), por essa internet fora, enfim, por todo o lado e mais algum. Repito, despeito! E porque o sentem? Porque na realidade não são democratas! Não são! Não têm verdadeiro espírito democrata nem têm interiorizados em si, já nem digo a democracia, mas tão somente o como viver em democracia. São incapazes de entender que respeito democrático tem dois sentidos. Acham-se imbuídos do direito divino a mandar sendo os oponentes meros apêndices a quem consentem a existência apenas para fazer de conta. Mas ao primeiro revés cai-lhes a máscara e, impotentes que são para mudar os resultados mas também sem as ferramentas mentais para aceitar a vitória do adversário político não hesitam em insultar gratuitamente, vociferar e até mesmo, em partir para a violência como temos visto e descreve no primeiro parágrafo do seu escrito.

    A Alemanha de Leste também era, em teoria, um estado multi-partidário. Dava-se a curiosíssima coincidência de todos os partidos estarem unidos no SED mas, realmente, havia uns quantos partidos com existência legal. Os democratas - de nome e pouco mais que de pacotilha dos tempos actuais - ainda não chegaram à eficiência de Walther Ulbricht e do SED. Mas que estão a seguir o mesmo caminho, lá isso...

    É o que se oferece dizer a um fascista (pffff...) que respeita os resultados democráticos. E que respeitaria mesmo que fossem os opostos como respeitou muitos e muitos no passado.

    HUMPF!

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  2. Muito bom post. Penso que este é mais um efeito da falta de isenção da imprensa não só a europeia mas também a americana para com o presidente eleito Trump. Distúrbios que em qualquer outra situação seriam caracterizados como ataques à democracia inaceitáveis são desculpabilizados ou até tratados do ponto de vista jornalístico como consequências justas pela eleição do Trump.

    No fundo para mim tudo isto é um abre-olhos para a falta de qualidade e isenção do jornalismo actual que não se coíbe de tentar influenciar de forma cada vez mais intrusivas e menos discretas.

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  3. Não sei se concordo contigo, dado que o voto popular não demonstrou descontentamento. Há uns estados lá pelo meio que estão descontentes, mas a maioria dos americanos não estão. Várias vezes, ouvi pessoas desejar que o Obama continuasse a governar. As pessoas manifestam-se porque acham injusto que o Colégio Eleitoral ignore o voto popular.

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