sexta-feira, 19 de junho de 2015

Da utilidade dos actos falhados

Segundo Freud, existe um “acto falhado” quando dizemos ou fazemos coisas que tentámos recalcar, ou seja, que tentámos empurrar para o inconsciente, mas que, às vezes, inopinadamente, emergem. É uma expressão involuntária de sinceridade. Freud dá um exemplo. Um empregado ia brindar ao seu chefe, que não era muito popular, era aquilo a que se pode chamar um sacana. O empregado levantou-se, elevou o copo solenemente e disse: «Convido-vos a arrotarem pelo nosso chefe».
É, por vezes, cómico assistir aos actos falhados dos nossos políticos, as tais expressões involuntárias de sinceridade. Passos Coelho, na Assembleia da República, riu-se a bandeiras despregadas de Paulo Portas quando um deputado comunista gozava com “o partido dos contribuintes”; recentemente, chamou várias vezes ao CDS/PP “o partido da oposição” e elevou Dias Loureiro a modelo a seguir para quem quiser singrar na vida, etc. António Costa, perante uma plateia de chineses, elogiou os progressos de Portugal desde 2011 e saudou, com entusiasmo, a vitória do Syriza nas eleições gregas em Janeiro.
Para saber o que lhes vai realmente na cabeça, é útil estarmos atentos aos actos falhados dos políticos. Nesses momentos, aproximamo-nos mais da verdade.

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