Nos anos 1930, Getúlio Vargas
iniciou uma política económica que ficaria conhecida como industrialização por
substituição de importações (ISI). O desenvolvimento seria o resultado da
aplicação da ISI através do planeamento estatal. O Estado era o principal actor
e o mercado era relegado para um papel secundário no processo de
desenvolvimento.
A partir dos anos 50, este
modelo estendeu-se a toda a América Latina, mas com resultados muito
desiguais. Por exemplo, revelou-se um desastre na Argentina, que o adoptou a
partir de meados dos anos 1940 com Perón. A Argentina, entre os cinco países
mais ricos do mundo em termos de rendimento per capita nos anos 1930, ver-se-ia ultrapassada
pelo seu rival Brasil, que passou a ser a maior potência da América Latina,
sobretudo a partir dos anos 1950. De facto, a ISI funcionou no Brasil até ao início
dos anos 1980, alcançando taxas de crescimento impressionantes com Juscelino
Kubitschek (6% ano, na segunda metade dos anos 1950) e na ditadura militar (8%,
entre 1967-1973). No início dos anos 1980, este modelo estava esgotado. A
inflação atingiu níveis astronómicos e décadas de intervencionismo estatal
levaram a uma dívida pública estratosférica.
Getúlio
Vargas e a ditadura militar são considerados de direita no Brasil, mas essa
classificação não radica com certeza na sua política económica. Ninguém de
esquerda a contestou. Bem pelo contrário. A seguir a 1985, os primeiros tempos
da democracia caracterizaram-se por um enorme caos. Ninguém queria reformas. A
esquerda, os tecnocratas nacionalistas, os sindicatos, a comunidade empresarial
todos as rejeitavam e todos pediam a protecção do Estado.
Fernando Henrique Cardoso, um
socialista (para muitos, um ex-marxista), foi o maior estadista brasileiro do
século XX. Em meados dos anos 1990, começou a desmantelar o Estado populista e
proteccionista, fundado por Getúlio Vargas em 1930, construído pelos seus
herdeiros e expandido pelos militares. Foi o homem que conduziu o Brasil no
caminho da abertura e da liberalização económica. A título de exemplo, quando
chegou ao poder, 19 das maiores 20 empresas brasileiras eram estatais.
O grande mérito de Lula nos seus
primeiros tempos foi ter-se mantido na rota traçada pelo seu antecessor, indo contra
a ideologia dominante do PT, que, na verdade, se revia na política económica
protecionista e intervencionista da ditadura militar – e que, como relembra Rodrigo Mendes Pereira, o governo de Dilma tentou recuperar.
Lula tirou 40 milhões de
brasileiros da pobreza, rezam as crónicas. Sim, é verdade, muitos pobres passaram
a ter “geladeira” e televisão. Mas nada disso teria sido possível sem a visão e
o talento de Henrique Cardoso, esse sim, o grande herói brasileiro
contemporâneo. Já agora, convém acrescentar um pormenor. Socorrendo-me daquele
famoso provérbio chinês, Lula deu peixe aos pobres brasileiros, mas não os
ensinou a pescar. Não lhes deu sequer uma cana, uma vez que, por exemplo, o
sistema de saúde e de transportes públicos continuam a ser uma vergonha.
Que raio de conversa. Porque é que Lula é culpado pela situação do sistema de saúde e de transportes e FHC não. Entregou-os em pior estado do que como os recebeu? Além de que o sistema privado de saúde é muitíssimo bom. E o sistema de transportes também não é mau. O aéreo é moderníssimo. O viário é muito bom. O hidroviário de mercadorias é o possível. O ferroviário de mercadorias e o portuário estão em expansão. Possui uma moderna linha de transporte de etanol por oleoduto. Falta-lhe o ferroviário de passageiros cujo relevo acidentado e instável nas regiões mais povoadas torna difícil construir.
ResponderEliminarNG, repare que até elogiei bastante o Lula (tento não ser sectário, embora nem sempre o consiga), acho é que não se dá o devido valor ao Fernando Henrique Cardoso, que não podia fazer tudo ao mesmo tempo. O Lula podia ter feito mais em termos de saúde e transportes, teve condições para isso, é a minha opinião, mas respeito a sua, até porque já percebi que fala com conhecimento de causa da realidade brasileira.
EliminarDe acordo, José. Lula e FHS foram dois grandes estadistas. E acho que Dilma também teria sido se, a juntar à baixa do ciclo de preço das commodities, os seus governos não fossem alvo de sabotagem constante, quer pela oposição, quer pelos aliados, quer pela ala ultra-progressista do PT.
Eliminar"O viário é muito bom." Com esta não esperava eu. Razoável, vai que não vai. Bom, apenas nalguns sítios (Estados). Muito bom, é mais do que exagero.
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