sábado, 26 de março de 2016

Uma pouca vergonha

Ontem, o meu filho-cão mais novo, o Chopper, chamou-me à atenção de que o meu jardim está completamente fora de controle. Estas últimas semanas, com a chegada da Primavera, tem sido uma autêntica pouca vergonha por estas bandas. A culpa é dos pássaros, que começaram a acasalar. Andam eles atrás delas e com cada piu-piu e assobio só saem obscenidades tipo "Anda cá, ó passarinha!", "Fodia-te as penas todas, ó passarinha!" Os passarinhos mais recatados, que dizem "Queres fazer amor comigo, minha linda?" não têm hipótese, pois elas escolhem os mais agressivos. Eles montam nelas, puxam-lhes as penas da cabeça com o bico, numa clara demonstração de submissão da pássara, e eu, uma mulher moderna, sinto-me profundamente agredida com estas coisas.

Depois de acasalarem, elas põem ovos, mas os ninhos são construídos só para um, logo quem é que acaba a fazer seca a manter os ovinhos quentes? Elas, claro, porque eles dão à sola em direcção a prados mais verdejantes para ir ter relações sexuais com outras pássaras. Um completo abuso das fêmeas, porque isto, sim, é uma discriminação sexual pura e simplesmente! Numa das árvores do meu jardim, lá está uma pomba, dia e noite, a velar pelo bem-estar dos ovos. E por falar em ovos, foi isso mesmo que o Chopper encontrou -- caiu um ovo do ninho. Depois, quando saí para ir tomar café, encontrei outro ovo partido à frente da minha casa, na driveway. Se calhar isto é sinal de abortos, infanticídios, negligência parental, sei lá.

Daqui a umas semanas, vou encontrar pássaros bebés mortos ou moribundos durante as minhas caminhadas com os meus filhos-cães. No primeiro ano que vim para aqui, fiz uma coisa ilegal e recolhi um passarinho que estava a morrer (é ilegal ter vida selvagem). Estava cheio de formigas e outros bicharocos. O coitado já estava frio, a ser comido vivo, nem esperaram que ele morresse. Os pais tinham dado à sola; por mim, deviam ser ambos esterilizados, pois demonstraram ser completamente irresponsáveis. Até eu mandei o meu filho-cão Alfred à Canine College para ser educado e nós nem somos da mesma espécie. O Chopper já foi educado em casa porque já me senti mais capaz.

Levei o passarinho para casa, limpei-o da bicharada, aqueci-o, e meti-o dentro de um espanador de penas de avestruz. Ao outro dia ainda estava vivo e quentinho antes de eu sair para o trabalho. Quando vim a casa almoçar encontrei-o morto, acho que o calor que senti de manhã era febre pois estava cheio de vermes. Coitadinho do meu Kafka! Ao menos teve uma morte digna e confortável e depois fiz-lhe um enterro de jeito no jardim. Que mais poderia eu fazer?

Só me apetece meter esta passarada toda numa gaiola, de 6 meses a cinco anos, para ver se aprendem a comportar-se como gente civilizada. Infelizmente, tive a brilhante ideia de deixar a minha gaiola na casa de Memphis e não estou para ir comprar outra.

Vocês riem-se, mas quem passa as passas do Algarve aqui no Texas sou eu...


Discriminação sexual de uma pomba

6 comentários:

  1. Os tempos são outros. Antes, os passarões, primeiro ofereciam flores, conquistavam o coração e só depois bicavam na pássara. Eram passarôcs romanticos. É claro que tanto antes como agora, sempre existiram passaralhos que picavam várias pássaras. Mas era diferente, havia respeito, consideração e amor. Agora tudo gira em torno do mediatismo e a passarinha passou a interesse periférico ou, simplesmente sem nenhum interesse.

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  2. As passas do Algarve das pássaras do Texas, portanto.

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    1. Estão passados... Será de erva ou alguma droga sintética?
      Do Espírito Santo? Do Milenuim?
      Ou do Santander?
      De certo do Banco de Portugal!

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  3. Aposto que foi um passarão que viu a sua passarinha a ser trucidada por um jovem macho e deu-lhe uma sova de caixão para a cova. piu piu

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