sexta-feira, 18 de março de 2016

O wonk-in-chief Paul

Hoje, o Paul Ryan, que é o Speaker of the House of Representatives da maioria Republicana falou para criticar o Donald Trump. O Paul Ryan é o feiticeiro matemático ("math wiz", "wonk-in-chief") do Partido Republicano que ainda acredita no trickle down economics e em mais cortes de impostos, mesmo quando o défice e a dívida estão altos e os impostos estão a mínimos históricos. Quando lhe pedem para explicar a lógica dos seus argumentos matemáticos responde "It's a little bit wonky", que se traduz em "Não consigo explicar de forma a que você entenda, capisce?".

Já vos tinha dito antes que ele havia dito que Donald Trump não representava o espírito do GOP, mas parece que há uma discordância em algum sítio porque, de todos os candidatos Republicanos, o Trump é o que apela a mais Republicanos, logo ou o Paul Ryan e os seus colegas não conhecem os apoiantes do seu partido, ou os apoiantes do partido não conhecem o partido em que votam. Eleitores ou políticos ignorantes -- não há realmente nada de novo debaixo do sol. E depois de dizer isto, Paul Ryan voltou a calar-se e não tem interferido abertamente na coisa até agora.

Para quem se diz matemático, a estratégia do Paul foi um bocado arriscada. Suponho que ele pensasse que o Trump iria levar com ele a "minoria de malucos" que apoiavam o GOP e as pessoas mais razoáveis ficariam e seriam muito cordiais e compreensivas enquanto escolhiam um candidato alternativo. Afinal, descobrimos, para horror do mundo civilizado, que esta "minoria de malucos" não é assim tão pequena. O Partido Republicano não tinha nenhum candidato forte, talvez o potencial Bush III, mas dado o legado de Bush II, teria sido uma tarefa difícil confiar noutro Bush. Não havendo um candidato forte, presumiu-se que a melhor estratégia seria ter muitos candidatos a digladiarem-se uns aos outros para assim um sair vitorioso e forte para concorrer contra o candidato Democrata.

Costuma-se dizer, "dividir para conquistar", e foi isso que aconteceu: ao ter tantos candidatos, o partido dividiu demasiado o eleitorado, cada candidato canibalizou os outros em termos de doações financeiras para apoiar a sua campanha e de tempo de antena (a propósito,another one bites the dust!, o Marco Rubio saiu da corrida). E depois aparece o Donald Trump que durante vários anos teve um programa de TV em que pôs toda a gente nos EUA a dizer "You're fired!". É o que aconteceu nas eleições presidenciais portuguesas: ninguém tinha hipótese contra Marcelo Rebelo de Sousa, porque havia demasiados candidatos contra ele a dividirem o eleitorado entre si.

Mesmo que o GOP se livre de Trump, os seus apoiantes irão ficar muito chateados porque Trump é o candidato mais forte. E malucos chateados são imprevisíveis. Se Trump ficar, será a ruína do GOP com o eleitorado moderado. Ou seja, o GOP escolheu uma estratégia de alto risco e agora não tem mão nela. Gestão de risco é mesmo uma chatice, mesmo para quem é um wonk-in-chief...

3 comentários:

  1. Há uma diferença entre o apoio eleitoral de Donald Trump e o de Marcelo Rebelo de Sousa: este último teve 52% dos votos, o que significa que não ganhou devido à divisão entre os seus opositores; já Donald Trump tem, até agora, 37% dos votos, ou seja, cerca de dois terços dos votantes nas primárias republicanas não votaram nele tendo, ele sim, beneficiado da divisão entre os seus opositores.

    Mas a complacência dos republicanos "mainstream" durante tempo demasiado para com Trump não ficou, em minha opinião, a dever-se ao tipo de cálculos que enuncias, mas sim, à crença de que o bilionário novaiorquino seria um fenómeno passageiro que rebentaria com as primeiras primárias, como outros no passado (e.g. Herman Cain em 2008).

    Quanto a Paul Ryan ser um adepto do "trickle-down economics", só posso dizer que ele, "together with Democratic Senator Patty Murray, negotiated the Bipartisan Budget Act of 2013". Será que os Dems também já se converteram ao "trickle-down"?

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Isso não impede que os meus "cálculos" estejam correctos. Acho que os Republicanos presumiram que, tendo forte competição entre eles, preparariam melhor o seu candidato para uma corrida contra os Democratas. Nesse sentido, como anunciaram logo que Trump não era desejável, estavam essencialmente a dizer aos outros candidatos que teriam de ultrapassar o obstáculo Trump. Mas o problema é que nenhum dos outros estava muito bem preparado. Por exemplo, o próprio staff de Ben Carson chegou a dizer que ele não conseguia aprender nada de política externa. O Bush mostrou grandes deficiências nos debates. Qual o benefício de ter candidatos assim tão fracos?

      Os Republicanos não têm muitas pessoas reconhecidas a nível nacional que inspirem grande confiança. Quando têm, fazem más escolhas para Vice-Presidente, como foi o caso de McCain. Colin Powell seria uma boa opção, mas foi queimado. Acho que John Boehner nunca demonstrou querer candidatar-se, mas teria sido uma opção que agradaria o centro, não fora o Tea Party fazer-lhe a vida negra. Acho que, neste momento, quem teria melhor credibilidade seria Paul Ryan. A propósito, o próprio Boehner disse isso.

      Eliminar
  2. Já agora (leitura recomendada):

    http://www.latimes.com/opinion/op-ed/la-oe-0316-mcmanus-trump-rubio-florida-20160316-column.html

    ResponderEliminar

Não são permitidos comentários anónimos.