quarta-feira, 16 de março de 2016

Querem brincar comigo?

Brinquei com bonecas até aos 16 ou 17 anos. Era uma actividade muito gratificante porque eu inventava roupa para elas e depois fazia a roupa costurando, tricotando, até acho que fiz crochet. Hoje percebo que brincar com bonecas era um escape criativo muito mais do que uma manifestação de feminilidade. E, nesse aspecto, as bonecas oferecem muito mais vantagens do que, por exemplo, construir coisas em madeira ou metal -- estou a falar em fazer as coisas mesmo: inventar, planear, arranjar materiais, aprender técnicas diferentes, executar, etc., não em comprar peças que se montam. Uma amiga minha também gostava de costura quando era criança, talvez por influência da avó materna que era costureira; agora é cirurgiã plástica e costuma dizer, a brincar, que tendo uma avó costureira, a cirurgia plástica era um percurso completamente lógico para ela.

A semana passada surgiu um projecto novo no trabalho, para o qual tive de pedir ajuda a alguém na USDA para arranjar os dados, que já tenho, como já vos tinha dito. Tenho 19 ficheiros, mas só preciso de três colunas num conjunto de mais de 100, e cada ficheiro tem mais de 17000 observações (linhas). Vou escrever uma programa em R para importar os dados, tratá-los, agregá-los, e analisá-los. O programa terá uma porção que irá funcionar como uma macro, pois o tratamento de cada ficheiro será o mesmo. O meu processo de trabalho é semelhante ao que eu usava para fazer roupa para as bonecas: já passei algumas horas a imaginar a coisa e tenho ideia do que aquilo irá ser no fim, mas preciso de partir o programa em pedaços, tentar construir cada um para que funcionem conjuntamente e o produto final seja eficiente no todo e produza o tipo de análise desejado.

Quando era mais nova, brinquei com outras coisas. Uma das primeiras actividades que me lembro foi cuidar de um pedaço de terra que a minha avó me deu, onde eu semeava coisas como alface e salsa -- talvez venha daí o meu gosto pela agricultura, mas eu só fui para agricultura profissionalmente porque me interessava por problemas ambientais. No entanto, a agricultura americana é uma das áreas em economia onde há uma tradição de análise de dados muito antiga, pois foi uma das primeiras áreas onde se fez recolha, análise, e publicação de dados. É uma área muito dominada por homens, mas nunca senti que tivesse sido discriminada pessoalmente.

Na escola primária coleccionei cromos de jogadores de futebol e, depois, para trocar cromos com os rapazes (não havia muitas raparigas a fazer estas colecções), brincava ao bafo. Em casa, com os meus vizinhos rapazes, fazia fisgas para apanhar pássaros: era preciso um pedaço de borracha da câmara de ar de uma bicicleta e um pedaço de um galho de uma árvore em forma de Y. Antes dos 10 anos, pedi ao meu pai para me dar um martelo e uma serra pequenina e hoje sei martelar um prego melhor do que muitos homens -- até o meu sogro ficou impressionado. A casca dos pinheiros era esculpida com um canivete para fazer barcos que se punham a flutuar no tanque da roupa. Tenho na minha mão esquerda uma cicatriz de um corte de canivete, com mais de 7 cm, de quando estava a tentar descascar um galho e perdi o controle da ferramenta. Oops...

Acho que quem me conhece reconhece que sou feminina, mas não tenho só traços femininos em termos de personalidade. Beneficiei muito de ter sido exposta a brincadeiras muito diferentes. No trabalho, acho muito vantajoso ser mulher porque dá-me uma outra sensibilidade para trabalhar com outras pessoas, mas a forma como eu trabalho tem características masculinas e femininas. Acima de tudo, gostaria de ser definida como uma pessoa competente, independentemente do meu género. Trabalho para uma pessoa com quem já tinha trabalhado antes. Quando entrevistei para o emprego, perguntei porque é que me queriam a mim, pois havia outros colegas que podiam ter sido convidados. A minha chefe disse-me que no outro emprego, eu entrava numa sala cheia de homens e não me deixava intimidar: "defendia o meu território bem".

Há pessoas que vêem na minha personalidade traços mais masculinos. Há uns anos, um homem disse-me que eu era arrogante como um homem e depois perguntou-me se eu queria ter sexo com ele. Recebo muitas propostas de sexo espontâneas; mas, sinceramente, se isso é a forma como os homens julgam que devem seduzir uma mulher como eu, acho que temos que os educar melhor. Se calhar, até deviam brincar um bocadinho mais com bonecas ou ler mais romances e poesia.

5 comentários:

  1. Comecei a brincar com bonecas, por volta dos 14/15 anos. É uma actividade muito gratificante porque eu invento formas de lhes tirar a roupa. Estou a falar em fazer as coisas mesmo: inventar, planear, arranjar maneiras, aprender técnicas diferentes, executar, etc., não em comprar peças que se montam!

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    1. Bartolomeu, espero que as suas bonecas não sejam mudas. Agora até os meus peluches falam...

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    2. Peluches a pilhas... presumo.
      Talvez seja possível troca-los pelo Ken...

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  2. O Teixeira dos Santos é uma boneca de trapos que vai avaliar o risco da gestão da C.G.D mas neste caso não fará uma operação plástica mas sim uma vasecotomia

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