quarta-feira, 23 de março de 2016

Re: Silêncio ensurdecedor

Vítimas de ataques terroristas na Europa Ocidental
(Fonte: Max Roser, twitter)
Esta entrada anterior do Zé Carlos toca em pontos muito importantes. Em particular, considero insolúvel a contradição interna que é em nome do princípio da igualdade defendermos a abertura das fronteiras a culturas (e religiões) que não respeitam esse princípio. Apesar de tudo, penso que a entrada do Zé Carlos não tem em consideração dois aspectos que me parecem importantes: 
  1. As principais vítimas dos atentados terroristas perpetrados por fundamentalistas islâmicos por este mundo fora são muçulmanas. O facto de apenas se noticiarem as vítimas ocidentais não altera esta realidade objectiva. Quando se tem isto em consideração, parece menos óbvio que os muçulmanos sintam necessidade de manifestarem o seu desacordo com o terrorismo islâmico: são as suas principais vítimas.
  2. Mesmo que nos restrinjamos às vítimas do mundo ocidental, a verdade é que numa perspectiva de mais longo prazo podemos ver que o terrorismo nestas terras não é um exclusivo islâmico.

5 comentários:

  1. "Em particular, considero insolúvel a contradição interna que é em nome do princípio da igualdade defendermos a abertura das fronteiras a culturas (e religiões) que não respeitam esse princípio."

    A mim parece-me um problema similar à questão das democracias permitirem ideologias anti-democráticas, e eu aplicaria-lhe a mesma solução - distinguir entre ideias e atos (fazer a apologia da decapitação dos infiéis, pode ser; decapitá-los efetivamente já não - admito que há zonas cinzentas).

    De qualquer maneira, não nos podemos esquecer que a contaminação cultural funciona para os dois lados; por exemplo, a imigração islâmica para a Europa provavelmente diminui a igualdade entre homens e mulheres na Europa, mas por outro lado possivelmente aumenta a igualdade entre homens e mulheres entre os imigrantes.

    "a verdade é que numa perspectiva de mais longo prazo podemos ver que o terrorismo nestas terras não é um exclusivo islâmico."

    No entanto, o terrorismo islâmico tem uma peculiaridade que não sendo totalmente exclusiva dele (sobretudo os neofascistas italianos, e creio que os lealistas da Irlanda do Norte, também o usaram algumas vezes) distingue-o bastante do clássico terrorismo made in Europa: a bomba a explodir no meio da multidão.

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  2. É. A melhor maneira de avaliar o risco de um atentado terrorista executado por fundamentalistas islâmicos, por exemplo, em Nova York, em 10 de Setembro de 2001, teria sido observar as estatísticas de atentados realizados por muçulmanos, nos EUA, desde a independência.

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  3. Tem razão no primeiro ponto, o fundamentalismo islâmico tem (também) que eliminar a oposição interna.
    Quanto ao segundo ponto, bravo. A expressão "Culpar a vítima" significa alguma coisa para si? Ou o facto de a inveja sentida pela ideologia marxista-leninista que motivava o IRA, a Action Directe, o Rotte Armee Faktion (spelling?), a ETA e outros grupos semelhantes, financiados directamente pela União Soviética se poder comparar à inveja sentida pelos actuais terroristas de inspiração islâmica serve de justificação para dizer que a civilização ocidental merece ser atacada por bárbaros ideológicamente motivados?

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  4. "Quando se tem isto em consideração, parece menos óbvio que os muçulmanos sintam necessidade de manifestarem o seu desacordo com o terrorismo islâmico: são as suas principais vítimas."
    Qué???

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  5. Não sei dizer nada sobre o fundamentalismo islâmico que faz tantas vítimas em países muçulmanos. Mas tenho a íntima convicção de que, nestes ataques na Europa, a religião funciona muito mais como rastilho do que motivação profunda. Tudo o que tenho leio aponta para que estes (últimos) terroristas sejam pequenos ou médios delinquentes, com uma prática religiosa ou muito recente ou muito superficial, em que as relações com os pares foram a principal força agregadora. Miúdos(?) "alienados" da sociedade em que cresceram, que lhes dá o básico e lhes suscita desejos inatingíveis. Masl, muito mal acomparado, fazem-me lembrar os idiotas que se dedicam a grafitar comboios em movimento.
    O que me faz esperar que este surto se extinga por si. Sobretudo depois de atacarem tão perto da base, duvido muito que continuem a gozar do mesmo apoio em Mollenbeek, Schaerbeek, Midi, Laeken. Espero.

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