quarta-feira, 9 de março de 2016

Inúteis

Nos EUA, o Presidente Clinton foi gozado por ter pseudo-sexo na Sala Oval; John Edwards um candidato presidencial Democrata foi humilhado por ter uma amante enquanto a sua esposa lutava contra o cancro; Eliot Spitzer, governador do estado de Nova Iorque, demitiu-se e foi nacionalmente ridicularizado por se ter envolvido num escândalo de prostituição; em 1990, Donald Trump envolveu-se num escândalo sexual com Marla Maples, mas ela diz que ele foi o melhor sexo que ela teve; Trump também já foi acusado de violação várias vezes; Clarence Thomas, juiz do Supremo Tribunal foi acusado de assédio sexual durante a sua confirmação; Anthony Weiner, um recém-eleito Congressista admitiu enviar photos do seu sexo através de telemóvel; Gary Condit, Congressista, envolveu-se sexualmente com uma estagiária que desapareceu e veio a descobrir-se que foi assassinada por um homem de ascendência latina; Newt Gingrich, ao mesmo tempo que liderava o processo de impeachment de Bill Clinton por causa do escândalo sexual com Monica Lewinsky, envolveu-se sexualmente com uma estagiária; etc.

Curiosidades: há uma página na Wikipédia dedicada a escândalos sexuais de políticos americanos ao nível do governo federal.

Mas no velho continente, também se encontram destas coisas. O Principe Carlos foi gozado por ter dito a Camilla Parker-Bowles que queria ser o seu tampão -- ambos eram casados com outras pessoas. A Princesa Diana também teve os seus casos expostos na comunicação social. Os presidentes franceses são notórios por manter amantes com conhecimento de toda a gente. François Hollande até fez um filho recentemente fora do matrimónio durante a sua presidência, mas não foi o primeiro presidente a ter filhos ilegítimos.

Na comunicação social portuguesa, os homens são uns santinhos. O único caso que me ocorre é o de Francisco Sá-Carneiro com Snu Abecassis. O "Professor" Manuel Maria Carrilho, que se comporta de forma lamentável em público, não é tão arrastado pela lama como a sua esposa, Bárbara Guimarães. Supostamente, ela é a vítima, ele é o agressor, mas ela é que tem a sua reputação manchada. E depois há o caso do nosso Engenheiro Sócrates e a necessidade de invadir a privacidade da Fernanda Câncio para prazer dos idiotas que se deleitam com esse tipo de coisas. Repare-se que, no caso da Bárbara e da Fernanda, nem sequer houve escândalo sexual.

Conversei no outro dia com um amigo meu de Lisboa, que me dizia que nos gabinetes ministeriais, Câmaras, empresas públicas, etc., era comum os homens darem emprego às suas amantes, envolverem-se com funcionárias, etc. Mas nada disto aparece na comunicação social portuguesa.

Está na hora de virar a página, meus amores. Deixem de ser inúteis, caros jornalistas: arrasem os homens!

10 comentários:

  1. Rita, considero que a posição portuguesa (que é, aliás, a francesa) é superior ao pseudo-moralisto norte-americano. As vidas pessoais e públicas (políticas, neste caso) das pessoas devem ser separadas: o facto de um político ser um péssimo marido (desde que não cometa crime) é irrelevante para o seu desempenho como político.

    Obviamente que há excepções: se o político arrasta a sua vida pessoal para efeitos políticos (Manuel Maria Carrilho é um exemplo), depois não se pode queixar quando a situação se vira ao contrário. De igual forma se um político abusa do seu poder para favorecer quem lhe é próximo (casos de nepotismo), idem. Finalmente, se um político tem um discurso em temas morais mas se comporta de forma diferente na sua esfera privada, também é lícito que tal venha à baila (existe alguma tradição em políticos que querem criminalizar actos homossexuais serem eles próprios praticantes dos mesmos).

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    1. Dar empregos a amantes na função pública não pertence à esfera privada, envolver-se com colegas também acho muito má prática, especialmente se estiverem na cadeia hierárquica da pessoa.

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    2. Carlos Duarte,
      tenho andado a pensar nisso que diz.
      No caso de um político andar a trazer a vida pessoal para o espaço público, para tirar dividendos políticos, gostaria que a sociedade o criticasse fortemente, e traçasse a fronteira. Mas deixar acontecer, alimentar a curiosidade, e depois, quando as coisas correm mal, baixar ao nível dele argumentando que foi ele quem começou, isso não é comportamento de gente madura e com princípios éticos.
      Também me ponho a questão do direito à imagem: se alguma figura pública revela voluntariamente alguma da sua intimidade em imagens controladas, nas quais dá uma imagem positiva de si, isso autoriza-nos a ir coscuvilhar toda a sua vida privada?

      Sobre as pessoas que têm um discurso moral diferente da sua prática privada: gosto muito da ideia "olha para o que eu digo, e não para o que eu faço". O que me interessa é discutir as ideias em si, e não os pés da barro de quem fala.

      Há muitos anos houve um político alemão que sugeriu internar toda a gente com HIV num campo. Ouvi dizer que esse simpático senhor recorria a serviços de prostitutos. Não sei se é verdade ou não, mas para o caso não interessa. A ideia em si era tão absurda, que não era preciso dizer "olha quem fala!" para a rebater.

      Já o nepotismo, é um caso claro de crime. Não há aqui vida privada nenhuma para defender.

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    3. Helena,

      O caso Carrilho é exemplar sobre a mistura das esferas públicas e privadas. Durante a campanha à Câmara de Lisboa (que perdeu, mas isso é outra história) ele aproveitou-se de estar casado com Bárbara Guimarães para se auto-publicitar. Não se tratava de "esconder a mulher", mas de ser minimamente discreto, que nunca foi. Ora essa notariedade voltou-se contra o mesmo quando dos problemas recentes e, em parte por causa disso, não pode vir alegar um respeito pela vida privada (ainda mais quando foi o próprio que veio, mais uma vez, trazer isso para público).

      Quanto às imagens controladas, não dá direito a vasculhar a vida privada, mas dá o direito de investigar essas imagens. Se o político se apresenta como tendo um casamento feliz mas na realidade vive separado, há um dever jornalístico de expôr o caso - não pelo angulo de "interesse/coscuvilhice" mas sim para não compactuar com uma imagem falsa.

      No discurso, o exemplo que deu não se aplica (salvo considerar que HIV=homossexualidade). Mas aplicar-se-ia em casos como o do ex-Inspector-Geral da ASAE que veio a público atirar-se (com razão, aliás) ao fumo em espaços fechados e dizer que iriam ser intransigentes nesse aspecto e depois foi apanhado a fumar no Casino do Estoril numa passagem de ano.

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    4. Rita, esse é um exemplo de nepotismo e é crime. Quanto a envolver-se pessoalmente, é um péssimo princípio, mas não é ilegal - os próprios é que deveriam tomar as devidas ilações.

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    5. Carlos Duarte,
      A minha questão sobre a mistura das esferas pública e privada são duas ;)
      - O facto de alguém usar a sua vida privada para ganhar pontos na vida pública autoriza-nos a devassar a sua vida privada contra a sua vontade? Penso que não.
      - Se é o Carrilho que traz a vida privada para público, isso autoriza-nos a participar activamente na devassa da vida privada da Bárbara Guimarães?

      Quer dizer: num mundo perfeito, os media podiam combinar entre si limites de decência. Mesmo que os sujeitos não os conheçam, os media podiam respeitar limites auto-impostos.
      Custa-me usar o argumento "ele é que começou, por isso eu posso".

      Quanto às imagens controladas: é preciso vasculhar até ao fim? Todos sabemos que os divórcios raramente são processos dignificantes. Será do interesse do público ficar a conhecer todos os pormenores de um divórcio concreto (nomeadamente as declarações de um filho criança)? As figuras públicas (mesmo as que não se souberam dar ao respeito) não têm direito a um espaço de privacidade?

      Tem razão, o meu exemplo sobre o político que queria encerrar os seropositivos não era muito bom. Só servia para nos rirmos dele.
      O seu exemplo do Inspector Geral da ASAE também não nos leva muito longe. O facto de ele não respeitar as regras que impõe a todos não belisca sequer a força das regras.
      Já agora, e por curiosidade: que lhe aconteceu a ele, na sequência disso?

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  2. Eu preferia que ninguém arrasasse ninguém.
    Em nome da decência.
    (Não sabia essa do Gingrich, mas acredito e não me admiro: afinal de contas, o processo que tinha em mãos deve dar um tesão do caraças aos perversos)
    (A propósito, há um livro muito curioso da Françoise Dolto, "l'Évangile au risque de la Psychanalyse" no qual ela fala do episódio da mulher adúltera, focando a atenção naquele bando de coscuvilheiros muito interessados em saber o que se passa na cama alheia, e pensando que são os defensores da moral)

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    1. Pois, eu preferia que ninguém fosse arrasado, mas se é para andar a falar na vida alheia, então junte-se o útil ao agradável, e fale-se nos casos em que se faz favores a amantes usando dinheiros públicos.

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    2. Ou à esposa, ou ao sobrinho.

      Há tempos o parlamento bávaro (em cujos serviços pululavam membros da família dos deputados) fez uma lei que impede empregar pessoas até ao - salvo erro - quarto grau de parentesco.

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  3. Há ainda outro aspecto. Os que agora revelam a sua condição de lixo, ao publicitar pormenores da intimidade de José Sócrates com mulheres, são os mesmos que já sabiamos que eram lixo, ao divulgar insinuações sobre as suas amizades masculianase e com isso pretender obter dividendos políticos. Quem embarca em merdas destas também é lixo.

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