sábado, 12 de março de 2016

Se você não for, ela fica

Este é o grande slogan da manifestação marcada para amanhã, 13 de março, no Brasil. Uma manifestação pelo impeachment de Dilma, a prisão de Lula, a queda do governo, etc. Há uma petição de 30 milhões de assinaturas no Facebook. A direita brasileira saiu do armário há apenas dois anos. Até essa altura parecia que não havia direita no Brasil. Basta atentar nos nomes dos cerca de 30 partidos que estão no parlamento: dois terços têm designações como trabalhista, social-democrata, socialista, esquerda, etc.
A ditadura militar acabou em 1985 e hoje muitos brasileiros na casa dos trinta anos perderam os complexos e já não se importam que lhes chamem “coxinhas”. Em contrapartida, chamam “bolivaristas” aos esquerdistas e alguns até já se atrevem a pedir o regresso dos militares para repor a ordem – o que  não deixa de arrepiar os mais velhos  que ainda têm memória da brutalidade da ditadura militar de 1964 a 1985. Enfim, a direita mostrou finalmente a cara e às vezes não é uma coisa bonita de se ver. Há, sem dúvidas, semelhanças com a realidade portuguesa, mas os níveis de radicalismo são maiores no Brasil.
O resultado é uma sociedade polarizada, dividida ao meio, como nunca se tinha visto. Neste momento, há no Brasil dois grandes partidos: o “PTismo” e o “anti-PTismo”. O PT vai perder as próximas eleições, sejam elas quando forem. Isso hoje parece evidente. Tudo joga contra o PT, a começar pela performance da economia brasileira - por exemplo, o PIB caiu 3,8% em 2015.
O problema é o day-after. O “anti-PTismo” é uma miscelânea, sem programa, sem ponta de lógica ou coerência, que agrupa liberais, fascistas, movimentos conservadores e homofóbicos. A queda inevitável do PT pode gerar o caos total.
Ao mesmo tempo, é curioso ver o amadorismo da direita, ou melhor, dos movimentos “anti-PTismo” na organização dos protestos. A direita não está habituada a usar a rua. Só assim se compreende, por exemplo, que marquem manifestações com meses de antecedência ou que promovam protestos ridículos como bater nos tachos e panelas nas varandas à hora do noticiário nacional. Se fosse ao contrário, a esquerda a querer deitar abaixo um governo de direita, as manifestações seriam quase de certeza diárias. Por isso, há quem chame aos direitistas “patos no asfalto”: saíram do armário, mas têm a desenvoltura e o à vontade dos patos que, habituados à água, se vêem de repente a caminhar no asfalto.

2 comentários:

  1. Concordo consigo, JCA, quem é contra o PT, o melhor serviço que prestaria ao Brasil seria organizar um proposta séria e consistente a levar a eleições. O governo eleito praticamente, ainda não teve oportunidade de começar a governar. E já teve um ministro das finanças ortodoxo que até um partido direita teria dificuldade em apresentar. O Brasil é tão rico que mal precisa de governo. Só precisa de estabilidade política e previsibilidade jurídica. O período das férias do Congresso e do Senado coincide com a melhoria dos indicadores económicos.

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    1. Tem razão, os brasileiros costumam dizer que o que vale é que os políticos dormem - é nesse momento que as coisas que interessam se fazem.

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