quarta-feira, 2 de março de 2016

Centeno na Bloomberg

"Euro-area finance ministers on Feb. 11 told Portugal to make plans for additional budget measures in case it runs into trouble meeting its targets. Centeno reiterated on Tuesday that Portugal won’t need to adopt those measures. If necessary, the government’s “preferred course” is to make a shift from direct to indirect taxes, he said."

Fonte: Bloomberg

O contribuinte português deve ter os bolsos muito cheios ou sem fundo. Diz o nosso ilustre Ministro das Finanças, Mário Centeno, à Bloomberg que se a coisa der para o torto, os impostos indirectos aumentam, mas os directos serão reduzidos. Percebem? A solução em Portugal é sempre aumentar impostos, mesmo quando se reduzem outros. Nunca há uma alma que se lembre de reduzir a despesa ou a dívida para não se ter de pagar tantos juros. Parece que o truque do crescimento é mesmo redistribuição de rendimentos num país onde se ganha mal ou aumentar a dívida pública. A propósito, aquele negócio do Banif foi deveras genial -- o estado pediu €1,8 mil milhões emprestado ao Santander para recapitalizar o Banif para assim o poder vender ao Santander. Que retorno é que esse empréstimo terá para o contribuinte português? Nenhum, só aumentará a dívida pública.

Acho que os nossos ilustres governantes ainda não perceberam que podem mudar o posicionamento das cadeiras do convés do navio, até podem consultar um especialista de Feng Shui para assegurar que só energia positiva invade o Titanic que é a República Portuguesa, mas o problema não é a falta de energia positiva; o problema é que o iceberg da dívida pública afunda o país através de juros que crescem a taxas mais altas do que a economia, numa economia onde a dívida está bem acima dos 100% do PIB. E num mundo onde o dinheiro está a fugir da Europa a sete pés e a entrar nos EUA a torto e direito brincamos com o fogo, ou seja, é natural que a coisa expluda outra vez daqui a dois ou três anos e Portugal não estará posicionado para absorver outro choque. (Afinal foi assim que se alimentou a bolha imobiliária de 2008: as poupanças do mundo à procura dos retornos e da segurança da economia americana.)

Talvez seja esse o desejo de Mário Centeno: uma economia mundial à beira de depressões de 10 em 10 anos não aguenta grandes juros e, eventualmente, os países terão de renegociar um corte nas dívidas públicas ou uma mutualização da dívida pública europeia.

"Portugal won’t call for a debt renegotiation process, Centeno said. “This needs to be arranged at the European level, with a European framework, and not specifically targeting our case or other special cases.”"

Fonte: Bloomberg

1 comentário:

  1. A mutualização da dívida pública "europeia" é um nado-morto: os alemães nunca concordarão com tal coisa (no que eu concordo plenamente, mas o que eu disso penso, pouco importa).

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