quinta-feira, 19 de novembro de 2015

Deslocado da realidade

Esta semana Cavaco Silva fez uma grande revelação que passou despercebida a muita gente. Ouviu-se o que ele disse, mas não se teve noção das implicações do que ele disse. Em vez disso chamam-lhe "deslocado da realidade", o que me leva a entender que muita gente que está em Portugal confunde Portugal com a realidade. A realidade é muito maior do que Portugal e, como realmente se seguiu uma política onde Portugal depende de outras realidades através de dívida, é bom que alguém em Portugal repare na realidade maior que não é Portugal.

Quando Cavaco Silva disse que "Pior que governo de gestão foi executivo de gestão socialista" revelou que tinha noção do mal que o governo socialista tinha feito ao país. Na altura em que esse governo socialista se demitiu, Portugal já estava isolado dos mercados financeiros há meses, logo perguntemo-nos porque é que Cavaco Silva não o demitiu, pois isso não teria tido efeito nenhum nos mercados.

José Sócrates, na altura, insistia que Portugal era viável, os mercados é que estavam deslocados da realidade por não verem a viabilidade de Portugal para além da dívida. Alguns meses depois de Sócrates se demitir descobrimos que ele nem sequer tinha noção de quanto dinheiro havia no tesouro. Esta semana Cavaco Silva disse "Nem quero vos dizer qual era o montante que o Tesouro português tinha em cofre em 2011 (...) de tão exígua que ela era". Acham mesmo que na altura Cavaco não sabia? Eu acho mal é que ele não divulgue a dimensão do desastre em que o governo Sócrates meteu a República, mas isso sou eu que gosto de saber exactamente com que linhas me coso.

Ele sabia e sabia também que José Sócrates não sabia. E sabia também que se demitisse o governo de José Sócrates, todos o iriam acusar de retribuição política por causa de Jorge Sampaio ter dissolvido o parlamento e demitido um governo PSD com maioria. A consequência provável de Cavaco Silva dissolver o parlamento seria ir-se a eleições e José Sócrates voltar a ganhar porque muito boa gente achava que Portugal estava a ser vítima dos mercados financeiros e Sócrates era uma vítima dos mercados e ainda por cima de Cavaco. E depois que fazer? Continuaríamos numa situação má e sem dinheiro.

Agora a história repete-se, mas em condições mais favoráveis: neste momento, dado que assegurámos que o rating da dívida portuguesa está acima de lixo e que Portugal tem dinheiro suficiente em caixa, não é necessário preocuparmo-nos muito com os mercados. Temos de dar a impressão que não somos completamente malucos--não se preocupem, só é necessário dar a impressão--, mas não é um bocadinho de instabilidade política que porá em causa o financiamento imediato da República. Disse Cavaco Silva: "felizmente esta crise política ocorre em condições muito mais favoráveis do que aquelas que se verificaram na última crise política que foi em 2011" e "o Tesouro português tem hoje uma almofada financeira de dimensão substancial".

António Costa acha que a pior solução é um governo de gestão. Esta é a pior solução para Costa, mas não é a pior solução para Portugal. E Cavaco Silva sabe isso. Cavaco Silva fala com António Costa, ele sabe que Costa é Sócrates versão 2.0--essa é a realidade em que Cavaco Silva já opera. Só que desta vez, talvez não seja necessário submeter Portugal à desgraça para que os portugueses tenham noção da incompetência de António Costa. Talvez uns meses de governo de gestão sejam suficientes. E talvez, entretanto, os socialistas cheguem à realidade de que, mais uma vez, têm um louco à frente do partido.

10 comentários:

  1. Esta mulher é um estrondo.Parece que nunca se engana e raramente tem duvidas.
    Quem lhe disse a ele que Costa é um Socrates nº 2
    Adivinhou. A defesa do Governo de Passos só o faz porque esta a milhares de km de distancia.

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    1. Não é que eu goste do governo de Pedro Passos Coelho; mas desgosto mais dos outros. Obrigada por ter reparado que eu sou mulher; realmente, ter uma vagina afecta a qualidade da argumentação. Experimente, agora já há cirurgias para isso.

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    2. "esta a milhares de km de distancia."

      E você também está, daí a ausência de acentos nas suas frases. Ou então não sabe escrever.

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  2. Rita, pergunto-me se nessa ideia de que é melhor a gestão que a alternativa se considera a noção que o governo - o executivo - está limitado (em gestão) mas a assembleia da república não está... e é um bocado arriscado assumir que existe menos probabilidade da esquerda se vitimizar (com sucesso) se nao for nomeado o governo PS

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    1. Bem, Cavaco acha que, se ele sobreviveu, outros também podem sobreviver. Se António Costa for para o governo, há o risco de ele usar a almofada financeira para "comprar" as próximas eleições. Não parece haver uma solução perfeita.

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    2. No governo de gestão de Cavaco, durante a maior parte do tempo a assembleia, ou estava dissolvida, ou de férias. No fundo, isto é mais um exemplo da excecionalidade que é um governo ser demitido mas não acontecer nada (nem um novo governo, nem novas eleições - ao contrário do que se passou em 87)

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  3. Este comentário foi removido pelo autor.

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  4. Hoje, 19/Nov. é o "Dia Internacional dos Homens". Por isso, o Costa que se defenda da Rita :-)

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