sexta-feira, 6 de março de 2015

Governação bárbara...

De vez em quando, as pessoas gostam de me recordar que, aos olhos dos romanos, nós, os lusitanos, éramos vistos da seguinte forma:
"Há nos confins da Ibéria um povo que, nem se governa, nem se deixa governar."

Caius Julius Caesar (100-44 AC)

Querem estas pessoas dizer-me que somos um caso perdido: não éramos civilizados antes, e decerto que não o somos agora, nem o seremos no futuro. Os romanos, esses sim, eram civilizados. Lembram-se de nas aulas de história aprenderem que quem não era romano, era considerado um bárbaro?

Para forçar os bárbaros dos lusitanos a submeter-se aos romanos--os tais civilizados--, os romanos subornaram três dos lusitanos para matar o seu líder, Viriato, em 139 AC. Viriato tinha enviado os três para negociar uma paz com o General Servílio Cipião, que tinha substituído Fábio Máximo Servilliano, o qual Viriato derrotou, numa batalha onde pereceram 3000 Romanos, em 140 AC. Servilliano suplicou pela sua vida a Viriato e este acedeu.

Depois do assassínio de Viriato, os três lusitanos traidores foram a Roma para receber a sua recompensa e os romanos mataram-nos em praça pública porque, sendo civilizados, não pagavam a traidores.

Eu ponho-me a pensar que não quero ser civilizada, mas também não sou traidora; mas bárbara parece-me não só muito bem, como adequado, pois assim posso continuar a dizer barbaridades...

1 comentário:

  1. Muito bom. O Henrique Raposo chama a este fatalismo, a narrativa queirosiana e é realmente típico das nossas elites ter este tipo de conversa que arrasa qualquer tipo de conversa inteligente.

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