A prática de notas públicas em Portugal contrasta com a prática nos EUA. É proibido revelar as notas dos alunos a outras pessoas e um professor ou uma escola que o faça fica em grandes sarilhos porque se violou a privacidade do aluno. Por exemplo, quando entregamos testes a alunos, normalmente, coloca-se a nota numa página interior para que ninguém a veja ao se entregar. Compreende-se que o sistema português quer controlar o favoritivismo, mas mesmo assim ele existe e nós sabemos que ele existe. A existência de procedimentos que supostamente o eliminam pode ser reconfortante para a alma, mas é apenas isso.
Agora com a chamada lista VIP das Finanças, Portugal discute a privacidade dos cidadãos VIP cuja informação acerca dos seus rendimentos deve estar fechada a sete chaves e só disponível a certas pessoas. Mas isso, para nós, é apenas a ponta do iceberg. Diz o Vítor Lourenço, chefe da Autoridade Tributária, que entretanto se demitiu:
“Eu estou mais preocupado com os contribuintes em geral do que com os VIP, porque imagino que se se passa com os contribuintes VIP, o que não se passará com os contribuintes comuns, porque um funcionário tem a possibilidade, ou a facilidade, de entrar na privacidade de qualquer contribuinte sem qualquer fundamento”, afirmou Vítor Lourenço.Eu concordo com Vítor Lourenço, realmente a privacidade dos VIP, na minha opinião, não tem maior importância do que a privacidade dos não-VIP; muito pelo contrário. Os VIP da política, especialmente os que são pagos com o dinheiro dos contribuintes, deviam facilitar essa informação voluntariamente para promover a claridade na política e para combater a corrupção. Por exemplo, se forem à página de Internet da Casa Branca, encontram o formulário de impostos que o Presidente Obama entregou todos os anos. Como funcionário público VIP ele não tem direito a privacidade nos EUA.
Mas, voltando a Portugal, e nós cidadãos comuns? Parece que os funcionários da Autoridade Tributária abusam dos seus poderes. Será que isso revela falta de treino, falta de bom senso, ou quê? E em que é que a demissão de Vítor Lourenço nos ajuda a construir um sistema melhor do que este que agora diverte os jornalistas? Para mim, um sistema perfeito não é um que guarda a sete chaves a informação de pessoas VIP que podem abusar do sistema, como o que Vítor Lourenço parecia defender. Mas o chefe da Autoridade Tributária não é o responsável pelas leis de privacidade que se criam em Portugal.
Linda, a declaração do Obama!!! Às vezes adoro a América e a ética protestante! Não se arranja o mesmo do nosso PR? E dos deputados e senadores americanos? E dos nossos membros do governos? E dos nossos deputados?
ResponderEliminarRita
Em Portugal, imagino que por razões culturais, a privacidade e o dever de sigilo são muito pouco valorizados. Os funcionários das finanças, dos hospitais, dos bancos, da justiça, e de tantas outras áreas em que se entra em contacto com dados sensíveis que ignoram sistematicamente o seu dever de sigilo e de reserva. Do meu ponto de vista isto também é culpa das administrações e dos seus dirigentes que deveriam ter regulamentos sobre os deveres de sigilo e de reserva, deveriam ser ministradas formações periódicas a todos os funcionários de todos os níveis hierárquicos, e obviamente que deveriam existir sanções para quem não os cumprisse. Mas enfim é muito mais "eficiente" e "produtivo" não se preocuparem com estas minudências.
ResponderEliminarRelativamente ao caso específico da lista VIP, e perante tal estado de coisas, obviamente que não concordo com a criação de desigualdade entre os contribuintes, e penso que a decisão do dirigente efetivamente não foi muito bem ponderada. Contudo, preocupa-me que quem efetivamente procura mudar o estado das coisas, mesmo que de forma demasiado "voluntarista", seja forçado a demitir-se e seja tratado como um proscrito pela comunicação social. Ou seja, continua-se a promover a atitude dos dirigentes público de que o melhor é estar "quietinho" e fazer o menos possível de forma a não entrarem em conflito, nem a tomarem nenhuma decisão errada. Penso que a promoçao desta atitude demasiado passiva nos dirigentes acaba por ser muito prejudicial a longo prazo.
Também penso o mesmo, Rui.
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