Quando eu vi a vaca a chorar, lembrei-me dos meus cães, mas foi ainda pior do que isso, porque os meus cães não choram assim: esta vaca chorava como se de uma pessoa se tratasse. E eu pensei que não me estava a apetecer comer mais carne. E depois pensei "É pá, os hambúrgueres do Bernie's Burger Bus são tão bons e a porcaria do restaurante é mesmo aqui perto. Até dá para eu lá ir a pé. E há carne no frigorífico da minha casa, não pode ser desperdiçada. Há bacon, há carne de bisonte moída para fazer chili ou molho de esparguete." Mas a imagem da vaquinha a chorar é forte. Tenho de me esforçar, decidi...
Hoje de manhã quando fui passear os meus cães, vi que os meus vizinhos tinham deitado um candeeiro fora. A parte de metal estava boa e não era feio de todo, logo eu levei para casa para ver se funcionava e, sim, estava perfeito. Comecei a pensar que podia comprar um quebra-luz de conchas de capiz. Notem que eu comprei um candeeiro de conchas de capiz na sexta-feira da Pottery Barn, mas é branco e acho que não vai ser o ideal para a minha sala, mas ficaria bem no meu quarto. E ter conchas no meu quarto calha sempre bem. Estava eu a sonhar com quebra-luzes que capiz e lembrei-me que a Pier One vende uns. E a Pier One, que fica na Rice Village, fica mesmo ao pé da Victoria's Secret. Ah! E eu tinha uns vales de desconto da Victoria's Secret. Hmmm, isto tudo a alinhar-se, que bom...
Saí de casa um bocadinho antes da hora de almoço, pois assim o pessoal ainda estava na igreja, logo haveria menos movimento e mais sítio onde estacionar. Cheguei ao meu destino e comecei a pensar no almoço. Tantas opções! Havia o Croissant Brioche onde eu me farto de ir, mas não é um restaurante a sério e lá há mil folhas e aquilo é uma tentação... Também havia o Le Peep, onde eu ainda não fui e que tem comida francesa, e eu comecei a pensar num bom croque Madame. Quando eu vivia em Oklahoma City costumava ir ao La Baguette, cujos proprietários são franceses, para o brunch ao domingo e eles tinham uns croque Madames divinais! Só que o croque Madame tem carninha e a imagem da vaquinha a chorar apareceu no meu pensamento. Ok, então decidi ir ao Shiva que é indiano e tem comida vegetariana. Almocei o bufete e, sim, escolhi tudo vegetariano. Muito bom, era saboroso e nenhuma vaquinha chorou dentro de uma carrinha.
Fui ao Pier One e os quebra-luz de capiz estavam em muito mau estado, com muitas conchas partidas. Pensei então que talvez no Cost Plus World Market estivesse em stock, mas isso era noutra parte da cidade. Fui à Victoria's Secret prestar os meus respeitos à roupa interior feminina e é claro que vim de lá aviada com um sutiã de renda, porque agora ando com a pancada dos sutiãs de renda sem forro. E tinha de comprar calcinhas que combinassem, e as calcinhas estavam em promoção--compre duas, leve quatro--e eu tinha um cupão para uma calcinha grátis, então já tenho mais uma semana de trabalho disponível em calcinhas. Quer dizer, é seguro afirmar que neste momento tenho lingerie suficiente para não ter de lavar roupa interior por pelo menos dois meses. Nunca se sabe quando chega o fim-do-mundo e eu vivo numa zona de furacões, logo tenho de estar preparada. E depois há os axiomas de preferência de Von Neumann-Morgenstern: mais lingerie é sempre preferível a menos lingerie, especialmente porque eu tenho as curvas certas!
Abandonei a Rice Village e fui à caça do capiz no World Market, e digam lá se não é conveniente, mas lá também vendem produtos da Castelbel. Comprei um sabonete e três loções made in Portugal, of course, o quebra-luz de capiz, chá Mango Ceylon da Republic of Tea (é um dos chás mais saborosos e eu adoro chá), salmão fumado, e dois chouriços tipo espanhol.
Depois vim para casa para tentar descobrir como é que eu vou afixar o quebra-luz, que é de pendurar no tecto, ao candeeiro. Percebi que tenho mesmo de comprar um conversor ou adaptador, logo dei um pulo ao Lowe's mas não tinha lá nada que me ajudasse. De saída parei para cheirar os cravos, que eram as flores preferidas da minha avó, e agarrei num vaso deles e fui comprar. No regresso a casa, na rádio estavam a falar da importância de nós brincarmos uns com os outros, de nos rirmos, e do papel que isso tem para estimular a imaginação, criar laços de empatia e confiança, etc. "Olha, porreiro!", pensei eu. "Eu já pratico estas coisas e nem sabia que estava na vanguarda da ciência!"
Quando cheguei a casa plantei os cravos num vaso. E foi nessa altura que eu me dei conta que tinha comprado chouriços e não tinha pensado na vaquinha a chorar. Ah, sou uma grande idiota! Que vegetariana falhada que eu sou, nem sequer uma tarde sobrevivi. E desatei a rir à gargalhada...
Sem comentários:
Enviar um comentário
Não são permitidos comentários anónimos.