segunda-feira, 23 de março de 2015

O porquê dos cofres cheios

Temos os cofres cheios de dinheiro emprestado. Isso é uma boa notícia porque quer dizer que temos crédito. Mas é também o reconhecimento do medo que o governo tem do futuro.

Se temos os cofres cheios de dinheiro emprestado, quer dizer que pagamos juros por esse dinheiro. Ainda por cima, na verdade, o dinheiro não está num cofre. Está depositado. O problema é que está depositado a taxas negativas. Ou seja, nós pagamos o juro pelo empréstimo que pedidos e pagamos juro pelo depósito que fazemos.

Esta gestão financeira seria um autêntico disparate não fora o seu principal objectivo: precaver futuras flutuações de taxas de juro e evitar situações em que não nos consigamos financiar. Ou seja, a ministra ao anunciar que temos os cofres cheios de dinheiro emprestado o que nos está a dizer é que não tem fé nas nossas capacidades de financiamento futuras.

Nas suas declarações, a ministra reconhece isto mesmo:
temos cofres cheios para poder dizer tranquilamente que se alguma coisa acontecer à nossa volta que perturbe o funcionamento do mercado, nós podemos estar tranquilamente durante um período prolongado sem precisar de ir ao mercado, satisfazendo todos os nossos compromissos.
Eu não percebo muito de política, mas parece-me que era nisto que a oposição devia pegar.

8 comentários:

  1. Caro LA-C,

    Parece-me que o motivo é óbvio. Se a Grécia sair do Euro, queiramos ou não nós somos os gajos a seguir. E se formos lá vão as taxas de juro e afins - não apreciando os senhores, a pergunta foi colocada por muita gente e é evidente: se temos taxas assim tão baixas e somos aquela maravilha das finanças e economia, porque é que a S&P mantém o rating?

    O problema aqui - e é onde discordo da Sr.ª Ministra - é que nos encontrarmos na situação neo-helénica, não é o dinheiro que temos no BCE que nos vai salvar de nada. Mais, da maneira que o Euro anda, não seria mais adequado apostar noutra moeda de reserva, sei lá, o Dólar?

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  2. Se houver um "Grexit" isso é culpa de Portugal? Ou seria culpa de Portugal se não se precavesse?

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    1. Se existir um Grexit a culpa de Portugal dependerá das acções tomadas por Portugal, não será? Se apresentar posições que levem ao Grexit, partilhará das culpas pelo mesmo, se apresentar posições que tentem evitá-lo, não partilhará dessas culpas.

      Em relação a precaver-se, como afirma o LA-C, pode-se imaginar que os “cofres cheios” são na realidade um mecanismo de seguro/precaução. Porém qualquer mecanismo de seguro deve ser analisado em termos de custo beneficio (obviamente ex ante: não quer dizer que se o risco não ocorrer qualquer prémio pago seja injustificado, mas o valor de prémio versus vantagem deve ser justificado de acordo com as percepções de risco na altura da tomada da decisão). E o prémio que está a ser pago é o diferencial entre as taxas que estamos a pagar (adicionado do custo de reter o dinheiro) e o valor que pagariamos se amortizassemos diretamente a divida. Em termos politicos, seria conveniente que essas decisões fossem tomadas pelo orgão proprio (que seria provavelmente a AR e não o executivo).

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  3. Se a nossa Exma. Ministra das Finanças acha que estamos em tão bons lençóis que até nos manda multiplicar, eu gostaria de saber para quando é que ela agendou a redução da carga fiscal vergonhosa que atrasa o país.

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  4. A Oposição não tem ponta por onde se lhe pegue. Estar precavido não é pessimismo. É estar precavido. A redução da canga fiscal e a melhoria da nossa vida serão factos progressivos e não dependem de apetites políticos, mas da sustentabilidade que ofereçam. Essa sustentabilidade periga sempre que Costa anuncia uma despesa nova, se for eleito.

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  5. Quando se vai às compras, por vezes, o vendedor procura convencer o comprador a pagar, não a pronto pagamento, mas sim a prestações... leia-se... um banco deveria ganhar alguns juros com aquela compra.
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    Uma ministra das finanças falou em 'cofres cheios'... e qual foi a reacção de certas marionetas: "a ministra está a ter uma atitude fascista!"
    Quer dizer, na óptica de certas marionetas, (como alguns ditadores tinham os 'cofres cheios') uma pessoa que queira ter uma 'reserva', e que queira fazer poucos empréstimos (pagando juros baixos por eles), é um fascista.
    Na óptica de certas marionetas, não ter uma 'reserva', andar a fazer constantemente empréstimos (pagando juros altos por eles), e andar constantemente de renegociação em renegociação da dívida, é que é uma coisa de democrata!!!



    ANEXO:
    Por muitos mestres-em-economia que existam por aí... quem paga não pode deixar de ter uma palavra a dizer!!!
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    Ora, de facto, foram mestres anti-austeridade [com o silêncio cúmplice de (muitos outros) mestres/elite-em-economia] que enfiaram ao contribuinte autoestradas 'olha lá vem um', estádios de futebol vazios, nacionalização do BPN, etc, etc, etc...
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    -» Votar em políticos não é (não pode ser) passar um cheque em branco... isto é, ou seja, os políticos e os lobbys pró-despesa/endividamento poderão discutir à vontade a utilização de dinheiros públicos... só que depois... a 'coisa' terá que passar pelo crivo de quem paga (vulgo contribuinte).
    ---> Leia-se: deve existir o DIREITO AO VETO de quem paga!!!
    [ver blog 'fim-da-cidadania-infantil']
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    P.S.
    Carlos Costa disse: «O Banco de Portugal acobardar-se teria custado muito ao país».
    Se utilizou a expressão 'acobardar' é porque o Banco de Portugal foi alvo de pressões/ameaças!...
    É muito importante que os políticos (funcinários do estado) não-corruptos se sintam apoiados pelos contribuintes... e, como é óbvio, o 'Direito ao Veto do contribuinte'... será uma forma de os contribuintes apoiarem os políticos (funcionários do Estado) não-corruptos face àqueles que se consideram 'donos disto tudo'.

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  6. Não percebi, caro LAC! Verdadeiramente, não percebi nada deste seu apelo à pega!! Sei que o caro LAC aprecia empregar a ironia fina. Mas desta a coisa é finíssima. Demasiado fina para o meu pobre entendimento!! Estas matérias da fé, como devoto que sou, interessam-me sobremaneira! Que mistérios!?
    Cordialmente, Justiniano

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  7. Ora qualquer pessoa sabe que banco empresta dinheiro consoante as garantias.
    Uma montanha de dinheiro enterrada na Suíça é uma enorme garantia.
    Se Portugal dispusesse desse pé de meia na pneumonia de 2009 teria recorrido a Troika?

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