“Não temos a mínima tolerância para
com o assédio sexual no local de trabalho. A definição de assédio sexual inclui
comentários que menosprezem a aparência de uma pessoa e comentários indecentes;
perguntas sobre a actividade sexual de alguém, bem como quaisquer contactos
físicos que violem a dignidade de uma pessoa ou que dêem origem a um ambiente laboral
intimidante, hostil, humilhante ou ofensivo para a pessoa em questão.”
Não, não se trata de nenhuma proposta
do Bloco de Esquerda. Esta regra faz parte do código de conduta de uma das
maiores empresas mundiais de contabilidade e auditoria. À primeira vista, o
objectivo é, admiravelmente, a defesa dos direitos de pessoas inocentes.
Todavia, como explica Alain de Botton ("Alegrias e tristezas do trabalho"), talvez exista uma explicação mais cínica
e menos altruísta para este parágrafo. Talvez a principal preocupação dos autores do texto sejam os interesses da companhia,
e não os de pessoas indefesas.
Botton descreve a aparente
indiferença à beleza de Katie, uma assistente de 22 anos da dita companhia,
cujos calções cinzentos pela altura dos joelhos fazem suspirar os colegas
quando a jovem passa pelos corredores. Os calções de Katie ameaçam subverter
toda a lógica da empresa. Podem trazer à luz uma verdade incómoda: “acharíamos
muito mais interessante ter relações sexuais do que trabalhar”, diz-nos Botton.
Botton reconhece, por isso, a
necessidade de introduzir uma certa ("ultrapassada") repressão sexual nos nossos
códigos de conduta profissional. Esta necessidade tem, todavia, um efeito paradoxal: “O
escritório é para o mundo moderno o que o claustro era para a cristandade
medieval: uma arena casta com uma capacidade sem rival para estimular o desejo
sexual.”
Não por acaso o escritório e o
convento de freiras têm sido um pasto fértil para a imaginação dos pornógrafos,
relembra Botton.
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