sábado, 7 de março de 2015

O esplendor da vulgaridade

Esta entrada do Bruno Alves n’O Insurgente é velhaca. Começa por elogiar o artigo da Fernanda Câncio no DN, onde ela faz “uma louvável análise das incongruências entre o retrato que Passos Coelho faz do seu passado e a realidade do seu percurso”. Acrescenta até que o “próprio artigo é um invulgar trabalho de jornalismo, pois é raro em Portugal investigarem-se seriamente estas questões.” Ou seja, parece-me que o Bruno Alves está a dizer que vale a pena investigar a sério as suspeitas de ilegalidades no financiamento de campanhas eleitorais levantadas neste artigo de Fernanda Câncio. 

De seguida, pede a Fernanda Câncio que investigue José Sócrates e que, apesar de “ter tido uma relação com José Sócrates”, não perca “ a vontade de revelar a verdade”. Fico pasmado a ler isto. Se Bruno Alves acha mesmo que Câncio teve uma relação com Sócrates, então é absurdo achar que ela deva investigar o quer que seja. Por outro lado, se Bruno Alves está mesmo convencido que Câncio tem algo a dizer sobre as “viagens pagas pelo dinheiro que [Sócrates] canalizava através do ‘amigo’ Carlos Santos Silva”, devia apelar que as fosse contar ao ministério público, não que fosse falar aos jornais. 

Entendam-me, considero que José Sócrates foi um péssimo primeiro-ministro. Sobre a probabilidade de ele ser inocente, penso o mesmo que a maioria das pessoas. Mas o homem está preso, a aguardar acusação e julgamento. Não chega? É preciso fazer insinuações reles sobre uma senhora que sempre preservou a sua privacidade? Qual é a ideia? Que a senhora nunca mais escreva nada na vida?

Só para terminar. É essa a defesa que se vai passar a fazer de Passos Coelho? Dizer que não desviou milhões de euros? Não têm o homem em melhor conta?

8 comentários:

  1. Tendo em conta o que se conhece, parece-me perfeitamente plausível que PPC seja o PM (ou sério candidato a PM) mais honesto das últimas décadas.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. E o que é que isso tem a ver com o meu texto?

      Eliminar
    2. Com a substância, não tem muito. Mas julgo que tem com a achega final.

      "Não desviou milhões de euros", ou nas palavras do próprio "não usei o cargo para enriquecer", a ser verdade, já é tê-lo em muito boa conta. Infelizmente.

      Eliminar
    3. Portanto o slogan dos apoiantes de PPC vai ser "Rouba, mas rouba como um remediado e não à grande e à francesa"?

      Eliminar
  2. Concordo contigo: discutem-se coisas irrelevantes, fazem-se insinuações, e o mais importante fica por fazer. Agora anda o povo a fazer petições: umas para apoiar a demissão do primeiro ministro; outras para apoiar o primeiro ministro. O que é que isto tem a ver com a gestão de Portugal? Ainda se fizessem uma petição para obrigar toda a gente que quer governar Portugal a demonstrar que é uma pessoa que respeita a lei e a fiscalidade do país ainda se compreende. Agora estas medidas avulsas só nos fazem perder tempo porque não resolvem nada a médio e longo prazos.

    ResponderEliminar
  3. Concordo contigo: discutem-se coisas irrelevantes, fazem-se insinuações, e o mais importante fica por fazer. Agora anda o povo a fazer petições: umas para apoiar a demissão do primeiro ministro; outras para apoiar o primeiro ministro. O que é que isto tem a ver com a gestão de Portugal? Ainda se fizessem uma petição para obrigar toda a gente que quer governar Portugal a demonstrar que é uma pessoa que respeita a lei e a fiscalidade do país ainda se compreende. Agora estas medidas avulsas só nos fazem perder tempo porque não resolvem nada a médio e longo prazos.

    ResponderEliminar
  4. "elogiar o artigo da Fernanda Câncio no DN" !
    E o burro sou eu?
    O que tem um atraso num pagamento, ou na entrega de uma declaração, a ver com fraude fiscal qualificada, corrupção e branqueamento de capitais

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Lufra:
      Nada, se tivesse sido um atraso de pagamento.
      Mas foi uma fuga ao pagamento, coisa bem diferente.
      Depois de toda a trapalhada da Tecnoforma, depois desta trapalhada ainda mal explicada (quem foi que lhe pagou, quanto e como lhe pagou), depois de saber que devia a quantia e não a ter pago, mas se ter armado em sério logo que saiu nos jornais, indo pagar mesmo já não sendo obrigado a fazê-lo, os indefectíveis continuam de pedra e cal.
      Como se a qualidade de vigarista se medisse pela dimensão da vigarice.
      Ouça e veja aqui, sei que não lhe causará incómodo, mesmo assim vale a pena ouvir e ver:
      Um fardo para os portugueses:
      http://youtu.be/tL2AupgSmgk
      Bem prega Frei Tomás, fazei (façamos) o que ele diz e não o que ele faz.

      Eliminar

Não são permitidos comentários anónimos.