No outro dia, cheguei a casa e não havia electricidade. Telefonei à companhia e eu, distraída como sou, tinha enviado o pagamento do gás à companhia e de electricidade, e o de electricidade à companhia de gás. Claro que era fim de verão e o ar condicionado estava ligado, logo pagar a electricidade era muito mais importante e caro do que o gás. Auto-insultei-me para ver se me emendava: dizia eu "Rita, não sejas estúpida, podias ter matado os cães com calor." Não resultou muito bem, pois distraí-me outra vez: como tinha crédito com a companhia do gás, durante uns meses não era preciso enviar dinheiro e depois esqueci-me de reactivar o pagamento a tempo e horas. É verdade, gosto de subsidiar a América com as minhas distracções.
Decidi enviar um pagamento automático à companhia do gás todos os meses e já tinha pedido à companhia de electricidade para retirarem automaticamente o pagamento da minha conta bancária. Por uns meses vou safar-me, até decidir mudar de casa e ter de mudar tudo outra vez. Estatisticamente falando, mudo de casa em média cada 18 meses; o meu máximo é cinco anos na mesma casa e o mínimo é seis meses. Preciso mesmo de atinar, porque há um custo associado a mudar frequentemente. Se não acreditam, perguntem aos gregos: mudaram de governo a torto e a direito e, em troca de tanta mudança, conseguiram exactamente o quê? Ou seja, o nosso Primeiro Ministro tem a minha simpatia na área das distracções; já o discurso de moralidade perfeita, não aprecio.
No Público, diz-se que António Costa, que provavelmente irá ser o nosso próximo Primeiro Ministro, diz que Pedro Passos Coelho abusou da imunidade política por causa das dívidas à Segurança Social. Dá a ideia que Passos Coelho devia à Segurança Social e, para não pagar, decidiu tornar-se Primeiro Ministro e assim ficar imune. Isto parece um enredo digno de Hollywood--demonstra muita imaginação em tentar perceber a análise custo-benefício que passou na cabeça de Pedro Passos Coelho. E é surpreendente! Sim, é surpreendente que haja tanta imaginação para peripécias políticas, mas para se governar Portugal não há imaginação nenhuma.
Manuel Alegre ainda sugere que é necessário pedir a demissão ao Primeiro Ministro. Não percebi a lógica. Expliquem-me então qual o benefício de nós dizermos ao mundo que o Primeiro Ministro se vai demitir, por ser distraído e ter falta de dinheiro, quando o seu mandato está próximo do fim? Não seria menos destrutivo para a imagem de Portugal dizer que gostaríamos que Pedro Passos Coelho não concorresse nas próximas eleições?
E já agora, que tal começar uma tradição em que, quem quer ser Primeiro Ministro de Portugal, mostra toda a sua papelada dos rendimentos e impostos dos últimos cinco ou dez anos, e tudo é analisado até ao mais ínfimo detalhe? Não acham boa ideia, Manuel Alegre e António Costa?
A tragédia é uma tradição grega, não a queiram fazer portuguesa. Nós até temos fados bem-dispostos...
Penso que António Costa referia-se, na questão da imunidade, ao facto de PPC não querer responder às perguntas.
ResponderEliminarSobre os pedidos de demissão (que não vêm apenas de Manuel Alegre): 'touché', pensei exactamente isso a cada pedido de demissão que leio. É que ganha-se 2/3 meses. Se ele demitir-se, só haveria eleições lá para Junho... ou quiçá mais, porque tinha de haver margem para o PSD eleger novo líder.
O PPC não responder às perguntas acerca deste assunto está no mesmo campo do AC não querer fazer públicas as contas da sua administração da CML. A moralidade destas pessoas que governaram, governam, e querem governar Portugal deixa muito a desejar. Nós merecemos um bocadinho mais de respeito, até porque já foram pedidos muitos sacrifícios aos portugueses.
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