Nesta excelente entrada, a Sara Pitola diz que leva a sério o seu preenchimento da quota
feminina neste blogue. É um assunto sempre muito debatido, devem as quotas ser
impostas ou não?
No ano passado,
depois de algumas conversas com uma amiga (feminista), a verdade é que me fui tornando
um activista da causa feminista e a considerar a hipótese de fazer parte de um
movimento nesse sentido. Talvez por isso tenha ficado mais alerta. E houve um
dia em que reparei que este blogue com sete
co-autores não tinha uma mulher. E, verdadeiramente, pareceu-me absurdo.
Por essa altura,
decidi convidar 4 mulheres para fazerem parte do blogue. A Sandra Maximiano, a
Sara Pitola, a Vera Gouveia Barros (que por motivos profissionais teve de
abandonar o blogue) e a Rita Carreira. Diga-se de passagem que eu já tinha
pensado convidar cada uma delas antes. Apenas não o tinha feito porque pensava
que não estariam interessadas. Mesmo assim, senti-me um pouco envergonhado ao
convidá-las por atacado. Ainda por cima, a Sara Pitola reagiu logo a
perguntar-me se eu a estava a convidar para preencher a quota feminina. Fiquei
sem saber o que responder.
Quase em
simultâneo, e apenas por coincidência, fui convidado a escrever na Maria Capaz.
E fui convidado precisamente para preencher a quota masculina dessa plataforma
feminina/feminista.
Tudo isto das
quotas pode parecer a muitos um pouco absurdo. Mas a verdade é que alguns dos
melhores artigos da Maria Capaz foram escritos por homens (incluindo o meu, diga-se). No caso deste blogue, permitam-me, mais uma vez, a falta de modéstia,
a diferença foi fabulosa. Ganhou uma vivacidade, poder de choque e uma
qualidade que não tinha graças às novas autoras.
Talvez um dia,
quando as empresas forem pressionadas a ter mais mulheres em lugares de topo, percebam
isto mesmo. Só têm a ganhar. Não porque as mulheres sejam melhores do que os
homens, mas, simplesmente, porque, ao considerarem a possibilidade de recrutar mulheres
para lugares de topo, verão duplicada a sua base de recrutamento. E, obviamente,
o melhor de entre 100 homens não poderá ser melhor do que a melhor pessoa de entre 200.
Um bom Dia da Mulher
para todas e para todos. Mas, em especial, para a minha mulher, que já percebeu
que tem um tecto de vidro invisível para quebrar, e para as minhas duas filhas.
Uma vez fiz parte dum júri, melhor dizendo, fui assessora dum júri constituído só por homens: corrigi provas escritas e fiz perguntas nas orais de acordo com as minhas capacidades linguísticas, mas só eles tinham direito de voto. Para meu grande espanto constatei que quando eu fazia uma pergunta a um homem era frequente que ele respondesse duma forma para mim inesperada, quando os meus colegas faziam uma pergunta a uma mulher, acontecia muitas vezes o mesmo: a resposta delas, que me parecia perfeitamente razoável, era visivelmente muito surpreendente para eles. Tornou-se-me evidente (por isto e por outras coisas que não tinham a ver com género) que os "grupos" tendem a seleccionar quem seja semelhante a eles. Não é por mal, nem é de propósito, mas pura e simplesmente quem seja diferente corre um altíssimo risco de não ser entendido nas suas respostas. Logo aí decidi que, se eu mandasse, os júris da minha instituição teriam de ser obrigatoriamente constituídos por homens e mulheres. E desde então olhei para as quotas com outros olhos.
ResponderEliminarEu concordo com quase todo o texto, embora incline-me para ser contra quotas legais, sobretudo em empresas.
ResponderEliminarA argumentação que, na maior parte das organizações, devem estar presentes mulheres não acho que seja uma questão de igualdade apenas, acho que valoriza a própria organização ou instituição. Sinto isso nas organizações ou grupos de trabalho que pertenço.
Já não sei se as entradas via quotas voluntárias (como fez neste blogue) ou forçadas (ex: Parlamento) tenham o mesmo efeito. E, a meu ver, tem ser necessariamente positivo para quebrar uma liberdade de escolha (seja esta boa ou má). É diferente as pessoas aperceberem-se desta questão e mudarem voluntariamente ou só o fazerem por ser lei (como várias listas políticas com sequência MMF.MMF.MMF). Depois há efeitos caricatos, como aquando da implementação da lei da paridade no parlamento que impunha 33% nas listas, mas não no parlamento, acabando este por na eleição em 2009 (primeira vez com a lei activa) ver-se menos uma mulher deputada eleita face ao anterior mandato.
Há sempre um pequeno ditador a querer mandar na casa dos outros.
ResponderEliminarNo mundo há muitas empresas, as que selecionar as pessoas certas tenderão a dominar.
Provavelmente algumas empresas selecionam mulheres para muitos lugares de topo, se for esse o melhor caminho essas empresas dominarão, se não for tenderão a ser dominadas.
A economia é a lei da selva.
Podia explicar mais umas coisas mas a ideia do estado impor quem manda ou deixa de mandar numa empresa privada parece-me uma profunda parvoíce. Estes politicamente corretos irão ficar muito caros.
OCNI
OCNI,
EliminarApesar das minhas reservas quanto a este tipo de lei, esse argumento não me parece o melhor.
A ideia das quotas não é querer fazer as empresas tomar decisões melhores individualmente (na visão da empresa), mas obrigar a sociedade a organizar-se de forma a que essas melhores decisões não tenham discriminações.
Colocando o assunto em prática. Se eu acreditar que as mulheres não estão a ser mais recrutadas para as administrações porque há um estigma no mundo dos negócios sobre este género ou porque têm mais responsabilidades em casa (ex: cuidar dos filhos), posso considerar isto uma discriminação e achar que a melhor decisão da empresa é ter em conta essa mesma discriminação.
Com quotas, poderá acontecer não só aceitação como (não sei se acredito nisso na prática) mudança de comportamentos sociais como a família. Dado que a quota é obrigatória para todas as empresas, a sociedade têm-se adaptar necessariamente e isso deixaria de constituir uma desvantagem para quem tem mulheres nos mais altos cargos.
Na verdade, é um bocado igual à situação de homem e mulher terem o mesmo período após nascimento de filhos ou quem ache mesmo que este período devia ser obrigatoriamente usado pelos homens. Porque só obrigando forçarão as empresas a não encarar esta situação como uma desvantagem.
As sociedades concorrem entre si, assim como as empresas.
ResponderEliminarAs empresas europeias não estão isoladas.
Se esta legislação prepotente for negativa (e podia explicar porque acho que vai ter efeitos negativos) então as empresas europeias perdem para as outras.
OCNI
O seu pensamento baseia-se em que este ajustamento micro levará a menor produtividade das empresas. Isto é, se a sociedade não discriminasse as mulheres (quer por preconceito, por tarefas que têm usualmente de fazer, etc...) e apenas pela sua produtividade em iguais circunstâncias de oportunidade para administração de empresas isso resultasse em menor produtividade.
EliminarLogo, a seu ver, o problema não é nenhum preconceito, mas uma natural falta de talento na generalidade das mulheres para esses cargos. (nota: porque generalizando, o homem e a mulher são diferentes, até podia ser defensável, mas suspeito que não será nada disso que ocorre neste tipo de cargos em específico)
É que se não for isso, poderá apenas a acontecer eventualmente (não necessariamente) durante o período de ajustamento. No tempo em que as mulheres entrarem por necessidade legal, mas ainda tiverem de despender mais tempo com tarefas de outro género ou por necessidade de adaptação. Vamos supor que sim. A médio-longo prazo, tudo se equilibraria entre o real valor das mulheres contratadas vs os homens que já lá estavam com mais experiência nesta área. Agora, teria assim tanto impacto esta medida em organizações de dimensão razoável e hierarquizadas?
Qual o impacto negativo disto na competitividade internacional? Ufa, até parece que defendo as quotas.
Dito isto, não gosto de quotas, dai a minha resistência. Acho que, no final de tudo, uma empresa privada deve ter o direito de escolher a administração como quiser, porque até podem haver boas razões para tal... não vejo nenhuma, mas não estou lá nem tenho de ser eu decidir se é boa ou má.