domingo, 8 de novembro de 2015

Testabilidade

Quando eu andava no décimo ano, aprendi os princípios de lógica nas aulas de matemática. A minha professora era uma estagiária muito simpática, mas um pouco tímida. Tinha uma voz mais para o grave, a pele era ebúrnea, com as faces rosadas. Era surpreendente tal alvura, pois os seus cabelos eram castanhos escuros encaracolados.

Lembro-me de ela explicar a matéria, mas eu tinha dificuldade em perceber as aplicações práticas daquilo. Uma das regras era a negação da implicação: "se A implica B, então não B implica não A." Mais tarde, quando vim estudar para os EUA, a negação da implicação aparecia muitas vezes no que eu estudava e o seu poder impressionou-me. É uma maneira muito fácil de ver a validade dos argumentos de alguém.

Kevin Currier, o meu professor de Microeconomia II, uma vez disse uma coisa óbvia na aula, mas que até então me tinha passado completamente ao lado. Dizia ele que, frequentemente era impossível testar a teoria directamente em economia, mas que podíamos testar as hipóteses derivadas das implicações da teoria.

Se as hipóteses das implicações fossem rejeitadas, então também podíamos rejeitar a teoria. Já não rejeitar implicações, permite-nos concluir que ainda não era desta que rejeitávamos a teoria, ou seja, que havia suporte empírico para a manter. A análise estática comparativa é uma técnica que permite derivar hipóteses testáveis e que é muito do agrado do Dr. Currier. Num livro sobre o tópico que ele escreveu, deu o seguinte exemplo:

Comparative Statics Analysis in Economics, Kevin M. Currier

Se um governo de esquerda se materializar, iremos, mais uma vez, ter oportunidade de testar muitas teorias. Mas julgo que aceitar as conclusões é que vai ser mais complicado...

2 comentários:

  1. Duas coisas:

    1) se A implicar B, se obtivermos B não aprendemos NADA sobre A. Como indica, se obtivermos o contrário de B, então podemos assumir que A é falso, mas apenas existe criação de informação neste caso.

    2) o principal problema é que estamos a testar simultâneamente com o resultado o próprio modelo/relação (A implica B). Se acreditarmos no modelo, então sabendo ~B podemos concluir ~A. No entanto existem vários níveis de imprecisão possível: sobre a medição de B, sobre a valoração de A e sobre a validade da implicação. Logo, "aceitar as conclusões" não será necessariamente neutro.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Aceitar as conclusões implica ter noção do limite do conhecimento; não me parece que implique eliminar a dúvida. O que eu acho estranho é que se repudiem as conclusões completamente, como se a realidade fosse completamente negável.

      Eliminar

Não são permitidos comentários anónimos.