terça-feira, 17 de março de 2015

A retórica do crescimento

Manuel Vilaverde Cabral não vê aqui como é que Portugal e a Europa podem entrar num novo ciclo de crescimento económico. Não há “expansões quantitativas” ou planos Juncker que nos valham.

Vilaverde Cabral aponta quatro razões estruturais que impedem os amanhãs do crescimento cantarem: «demografia» (envelhecimento da população, logo uma sociedade menos dinâmica e inovadora); «estado social» (pensões e despesas de saúde a aumentarem galopantemente); «ambientalismo» (as políticas dispendiosas da Europa); «mercado de trabalho» (demasiado regulamentado em comparação com os das economias emergentes). A estes quatro cavaleiros do apocalipse do crescimento, Vilaverde ainda lhe acrescenta a tendência para a austeridade da própria sociedade (uma questão cultural, própria de populações envelhecidas).

Diz Vilaverde que é “isto que ainda não foi entendido pelos economistas da era keynesiana…”. Talvez, digo eu. Mas não tenho dúvida nenhuma de que esta situação seria facilmente entendida pelos economistas clássicos e neoclássicos do século XIX. Mais: estes senhores consideravam as baixas taxas de crescimento a situação normal dos países desenvolvidos – aliás, os “clássicos” Ricardo e Malthus são até conhecidos pelo seu pessimismo. Para estes economistas, taxas de crescimento económico elevadas não sugerem prosperidade, estabilidade ou modernidade; são antes vistas como um sinal de transição de economias atrasadas, sujeitas a transformações aceleradas – à semelhança do que se passa hoje, por exemplo, na China.

As baixas taxas de crescimento económico da maioria dos países europeus (incluindo a Alemanha) verificadas nos últimos anos não nos deviam espantar. É essa a situação normal, tal como nos explicaram os economistas clássicos e neoclássicos há mais de um século.

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