terça-feira, 14 de julho de 2015

Falta de profissionalismo

Eu não tenho paciência para falta de profissionalismo e, nesse aspecto, prefiro viver nos EUA do que em Portugal. Eu sei que há maus profissionais nos EUA e bons profissionais em Portugal, mas há certas coisas que não devem acontecer nos EUA e, quando acontecem, há consequências. Quando somos mal-tratados por uma companhia nos EUA, como eu fui pela NOS em Portugal, tenho a opção de processar a companhia e os potenciais ganhos compensam o incómodo. Em Portugal isso não existe. Quem processar uma companhia, mesmo tendo razão e ganhando o processo, pode não ser totalmente compensado por todo o incómodo.

A nível pessoal, há uma coisa que se faz em Portugal que é muito estúpida, mas que já me aconteceu várias vezes. Quando não gostam do que eu digo, dizem que eu estou bêbada ou ando enfiada no vinho. Por vezes, dizem a coisa a brincar; outras vezes é mesmo para insultar. A última vez que me aconteceu foi hoje. Como eu afirmei que a estratégia da Alemanha pode ser óptima, mesmo destruindo a Grécia, alguém, que eu respeitava profissionalmente, diz-me "Rita, deixa o vinho e volta aos iogurtes." Que refutem as minhas ideias com argumentos minimamente lógicos, eu aceito. Que sugiram que eu estou embriagada num espaço público--o Facebook--, onde há um rastro do que é dito, é uma ofensa séria à minha reputação profissional.

Vocês podem achar que eu estou a exagerar, mas não estou. Os clientes para quem eu trabalho incluem companhias e indivíduos que exigem um certo nível de reputação. Por exemplo, os meus clientes passados incluem uma das maiores companhias da Arábia Saudita, uma das maiores companhias petrolíferas do mundo, uma multinacional japonesa, etc. Sugerir sequer que eu estou embriagada, quando estou a discutir um assunto de forma séria, afecta a minha pessoa--é difamação--e afecta a reputação das companhias para quem eu trabalho. Eu compreendo que em Portugal, um país pequeno, não se tenha noção da escala das coisas, mas eu não trabalho em Portugal. Eu trabalho na economia global.

Depois, há a questão de género. Eu sou mulher; é difícil para uma mulher conseguir singrar no mundo dos negócios. Um homem que se embriaga é um garanhão; uma mulher que se embriaga é uma vadia incompetente. O universo dos profissionais onde eu trabalho tem cerca de 100 pessoas nos EUA--sim, só há para aí 100 pessoas que fazem o que eu faço num país de mais de 300 milhões. A maior parte são homens, eu sou uma das poucas mulheres. Uma piada que para um homem é inofensiva, para uma mulher pode destruir a carreira. Até literalmente porque eu sou uma Carreira.

Não digam que eu não tenho sentido de humor. Eu tenho muito sentido de humor; mas também tenho muita noção das consequências das coisas. Há coisas que não são engraçadas; são estúpidas.

Adenda: Isto não é dirigido a uma pessoa em particular. É apenas o culminar de vários episódios que me aconteceram.

4 comentários:

  1. Cara Rita,

    Pois, o tecto de vidro continua bem no sítio e não quebra assim com duas coisas (deve ser laminado).

    Em relação aos comentários estúpidos, tem toda a razão mas há outra coisa: se um cliente a valoriza profissionalmente, não é por um comentário de manifesto mau gosto de um terceiro que o deixará de fazer. Se o deixa, então o problema é outro.

    Finalmente, e só a conheço deste blog, a imagem que passa - mesmo no meio de alguns posts mais... informais - é de alguém com imensa competência no que faz. Parto do princípio que o mesmo se manifeste no trabalho que faz e tenho a certeza que a opinião será generalizada por quem a lê.

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  2. Infelizmente, em Portugal há muito hábito de usar a velha técnica de desqualificar o interlocutor no meio de uma discussão. É ignorante, é estúpido, é bêbado ou está a soldo de interesses (esta é mais usada pela esquerda radical). É triste, de facto.

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    1. Não é só "à esquerda". Tenho sido acusado por gente do meu partido (CDS) de ser "socialista" - que é o "insulto supremo". Ou, melhor ainda, de defender algumas das minhas posições por estar na "mama do estado" ou "ser funcionário público".

      Azar daqueles que NÃO estou na mama do Estado: sou aquilo que gostam de chamar de "empresário" (detesto o termo) e NÃO trabalho por opção com o sector público. Mais, do Estado a única coisa que recebi foi os serviços públicos abertos a todos os cidadãos - até o meu doutoramento não foi financiado directamente pela FCT (tive uma BIC por uns tempos, depois uma Marie Curie e alguns fundos próprios do meu laboratório).

      O ponto é este: as pessoas quando não conseguem defender os argumentos, atacam quem os coloca. É uma espécia de ad hominem marialva.

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