quarta-feira, 15 de julho de 2015

Tsipras desafia: “Quem tiver uma solução alternativa que avance e diga qual é”

Este desafio do primeiro.ministro grego é fantástico. Nada como chegar a a uma posição de responsabilidade para se perceber que há muitas alternativas. São é piores. Uma coisa é um esforço para que se faça um debate construtivo na Europa. Outra coisa é a política económica que um pequeno país pode seguir, que está extremamente condicionada pelas restrições externas e pelas restrições orçamentais. Podemos discutir ritmos e pormenores, podemos pedir mais inteligência, mas o que não é razoável é exigir uma política radicalmente diferente.
Lembro-me de em 2012, num debate no Prós e Contras, o Fernando Alexandre ter-se queixado que nunca lhe tinham mostrado alternativas. O seu opositor de debate, um syrizico de que não me lembro o nome retorquiu-lhe que "havia alternativas, mas que não estavam sistematizadas". E andamos nisto há anos.

E, nestes anos, houve muita gente que esteve sistematicamente errada. Assinaram manifestos inoportunos e levianos. Alguns, como Nicolau Santos, até figura de palhaço fizeram. Um deputado do PS defendeu que as pernas dos alemães tremeriam se ameaçássemos não pagar. Viu-se como tremem as pernas.

É natural que quem tantos disparates disse continue a aparecer no debate público. Nem eu desejaria o contrário. Mas, para ganhar credibilidade, seria bom que reconhecesse as tontices que defendeu e dar graças a Deus por ninguém o ter ouvido.

6 comentários:

  1. Caro LA-C,

    O Tsipras arriscou tudo numa perspectiva que tinha da União Europeia e perdeu. Ele não se apercebeu que seria sempre um "outsider" a Bruxelas e que se o seu predecessor não tinha conseguido arrancar um plano melhor aos credores - alguém que estava à frente de uma coligação que representava exactamente as principais correntes ideológicas na Europa -, não ia ser ele a fazê-lo.

    Ele tinha uma hipótese que, aliás, era parte da sua plataforma política: mandar os credores às malvas e aguentar-se à bronca. Provavelmente teria sido pior, mas a verdade é que não sabemos. Como escreveu Nietzche, quando olhamos para o abismo, ele olha de volta para nós.

    Mas nada disto desculpa por um momento o comportamento vergonhoso do resto da união monetária. Porque a questão aqui não é - no meu entender, que vale o que vale - se a Grécia devia pagar ou não, ou sequer se devia ser "punida" ou não. A questão é que a UE (e o FMI) foram responsáveis por um programa de assistência que manifestamente falhou - em (quase) toda a linha. E deveriam ter tido a sagacidade, muito antes do Tsipras, de admitir isso mesmo e redesenhar o programa. Em vez disso, voltam à carga com a defenição "Einsteiniana" de insanidade: repetir (reforçar até) algo que não funcionou na esperança que agora tenham um resultado diferente.

    Entre Merkel (para minha surpresa) e Schaüble (sem surpresa nenhuma), caecus caeco dux.

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    1. Carlos Duarte, o comportamento da UE foi vergonhoso. Pisaram e humilharam um país. Mas este post não era sobre isso. Este post é sobre a qualidade do debate público em Portugal e sobre como há pessoas que em 4 anos não acertam uma e são incapazes de dizerem que se enganaram.

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    2. Eu entrei um pouco (bem, muito) numa tangente, mas o meu ponto era outro: algumas das decisões e posições que as pessoas tomaram partiram do mesmo pressuposto (que agora se verifica errado) que o Syriza partiu: que era possível "dividir" os países do Euro (um pouco entre Norte e Sul) e forçar um compromisso.

      Obviamente que houve imensos disparates (o PS a colar-se ao BE grego? Os alemães a tremerem connosco?), mas houve igualmente pessoas com posições coerentes, concordando-se ou não (o Ferreira do Amaral é um exemplo).

      O que me chateia nisto tudo - e peço desculpa por ser repetitivo, porque passo a vida a escrever isso aqui - é que NENHUM dos lados admite erros ou culpas. E isto tanto cá (com consequências menores), como na Grécia (com consequências graves) como a nível da UE (com consequências potencialmente catastróficas, mas temos de esperar para ver). Uma estrutura política que saiu do pós-guerra baseada em doses enormes de pragmatismo tem vindo a desvirtuar-se em posições pseudo-moralistas e isso sim é o fim da Europa como a conhecemos.

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  2. Meu caro, secundando-o na estultície que aponta, apenas para o corrigir no seguinte:
    Não é dos últimos 4 anos que não acertam, muitos dos citados por enunciação, já nem falo do Nicolau ou do deputado Simas, vai para mais de 20 anos que não acertam uma.
    Se os questionar não dirão que se enganaram, a realidade é que se enganou!!

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    1. Caro LAC, note que o "corrigir" foi aqui empregue com aquele grau de ironia que eu sei que, o meu caro, aprecia e ao qual também, por vezes, recorre.

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  3. Razão tinha o João Pinto prognósticos só no fim do jogo. Também há os que dizem "eu bem dizia", mas que omitem as previsões que erraram por completo o alvo, tipo Marcelo. Há ainda os que jogam tripla, tipo Cavaco, e dizem ao mesmo que há sinais de uma "espiral recessiva" e há progressos, esses acertam sempre.

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