quarta-feira, 1 de julho de 2015

Quem é que se vê grego?

No próximo Domingo, os gregos são convidados a dizer se querem ou não aceitar o acordo que lhes foi proposto pelos credores. Varoufakis diz que o plebescito não é sobre a permanência no euro. E, de facto, não será essa a pergunta escrita, mas diferentes respostas têm diferentes implicações. E a rejeição de um acordo dificilmente resultará num final que não seja o regresso da Grécia a uma moeda própria. Uma que o Governo helénico possa estar a imprimir noite e dia, em notas de triliões como no Zimbabwe, por exemplo, para pagar os mais de 2 mil milhões que gasta mensalmente em vencimentos e pensões. Nesse sentido, aquilo que no Domingo não será decididamente objecto de pergunta é a austeridade. Porque a austeridade não se define através daquilo que se recebe, mas sim daquilo que se consegue comprar com o que se recebe. Os últimos dias devem ter ajudado a clarificar ideias. E o exercício não é de imaginação, é de memória: basta recordar os casos da Argentina ou da Venezuela, por exemplo.

Na verdade, o único modo de os gregos escaparem a anos difíceis é conseguirem convencer os seus parceiros da zona euro a perdoarem-lhes a dívida e a continuarem a financiar-lhes o nível de vida sem reivindicações. Uma ideia que deveria ser referendada junto dos alemães; e dos finlandeses, austríacos, espanhóis e portugueses, já agora. Sim, porque desde 2012, aquando do haircut, que a dívida grega é quase toda institucional. Ou seja, em caso de incumprimento, são os contribuintes dos países da zona euro quem fica sem o dinheiro. Portanto, pergunte-se-lhes se se querem ver gregos. A bem da democracia. [Já agora, os "malvados" mercados também são feitos de pessoas; não foi só o BES que arruinou poupanças de uma vida, há quem tenha ficado sem elas por as ter convertido em títulos helénicos.]

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