quinta-feira, 16 de julho de 2015

Por falar em tingir bigodes...

Ontem, houve uma grande discussão entre mim e um amigo meu por causa da Grécia e da Alemanha. Eu acho que digo que a Alemanha faz parte do problema e ainda não se decidiu a fazer parte da solução. Ele diz que eu odeio alemães e que há uma alta probabilidade de eu atacar algum durante a minha visita a Portugal.

Eu respondo que ele não percebe nada do que eu digo. Ele acha que eu sou engraçada e, assim, à laia de me desmascarar, pergunta se eu conheço algum alemão. Eu digo que tenho uma amiga japonesa que é casada com um alemão. Ele pergunta se eu conheço o marido. Eu digo que não e noto que ele fica quase todo vitorioso; acrescento que também tive uma penpal alemã, mas não funcionou bem. Ele não se convence...

É óbvio que eu não atacaria nenhum alemão que estivesse a gastar dinheiro em Portugal, dado que é exactamente isso que eu quero que eles façam não só em Portugal, como na Grécia--duh!

No meio disto tudo, esqueci-me completamente do Peter, que é o meu cabeleireiro. Hoje tive uma marcação com ele para ir pintar o cabelo, ou "tingir", como diria o Camilo. O Peter gosta muito de mim, chama-me "buddy", porque eu sou descontraída, rio-me muito, e sei conversar sobre a Europa. Ah, o Peter é filho de um italiano e de uma alemã, tem a cidadania alemã, mas já vive nos EUA desde 1983. Disse ao meu buddy Peter que ia a Portugal e ele deu-me um corte de cabelo todo giraço.

Como de costume falámos de cidadanias e passaportes porque ele nunca adoptou a cidadania americana--diz ele que, como está, pode andar em 28 países, não precisa da americana. Depois, quando eu estava a pagar, mostrei-lhe o meu cartão de cidadão português. Ele disse que nunca tinha visto um. Disse que tinha tido um cartão de identidade da Alemanha, mas quando veio viver para os EUA, os alemães obrigaram-no a entregar o cartão. Se ele não está lá para pagar impostos, não tem direito a um cartão, que é para não ir lá usar os serviços de saúde e segurança social. Só o deixam ter o passaporte.

Depois de se tornar residente permanente americano, o Peter passou cinco anos na Alemanha; quando regressou, os EUA obrigaram-no a pagar os impostos mínimos da Segurança Social para os anos todos que esteve fora, cerca de $10.000 de uma vez só. Digam lá se a América e a Alemanha não são países simpáticos? Eu acho que Portugal nem sabia do meu paradeiro durante anos a fio, depois de eu vir para os EUA.

Eu não me importaria se Portugal me desse a opção de eu contribuir um X todos os anos para poder ter acesso a serviços de saúde depois de eu ter 65 ou 70 anos. Por exemplo, só podia receber cuidados depois do 65 ou 70 anos e pagava €600/ano (actualizados anualmente por causa da inflação) durante um mínimo de 20 anos antes da idade em que começaria a receber cuidados e continuaria a pagar depois dessa idade. Se eu morresse antes dessa idade, podiam ficar com o dinheiro. Parece-me uma ideia interessante para diluir os custos fixos de manter o serviço de saúde nacional. E também serviria de incentivo para eu ir para aí gastar a minha reforma. Claro que, depois dos 65, eu também receberia cuidados nos EUA, logo Portugal não assumiria todo o risco da minha saúde.

Quando ao meu rendez-vous com o alemão, nenhum alemão foi magoado no evento; já a minha carteira levou um rombo de $185 mais $35 de gorgeta. Com que então eu odiava alemães?!?

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