quarta-feira, 6 de janeiro de 2016

O privilégio de não se saber privilegiado


Eu estava a gostar do artigo. É um testemunho pessoal e estes testemunhos são importantes. Qualquer dia darei o meu. Mas não é que acaba o artigo a dizer que foi tratado como um doente comum? Diz mesmo que “Em nenhum momento solicitei ou obtive nenhum privilégio: jamais me atreveria a solicitar qualquer favor, nem o teria aceite, se me tivesse sido espontaneamente oferecido.”

Até pode ser verdade que tenha recebido o tratamento de qualquer outro doente comum. Mas, sinceramente, dizer que foi tratado como doente comum no mesmo artigo em que diz que foi acolhido pela “Senhora Directora do Hospital, Drª Maria Celeste Sim-Sim, que foi de uma inexcedível amabilidade”, que não só de interessou pela sua saúde como “se disponibilizou para o que fosse necessário”, é um pouco ridículo. Não há outra forma de o dizer.

Ou está mesmo convencido de que os directores dos hospitais portugueses recebem e acolhem os doentes comuns à chegada ao hospital? Se está convencido de que isso é o tratamento comum então é muito provável que considere o SNS o melhor do mundo.

4 comentários:

  1. Este articulista faz parte do lote que não leio, só por engano (e não é que uma vez, precisamente por engano, constatei que ele tinha escrito um excelente artigo, já não sei sobre quê?). Mas em abono da verdade, ele diz aqui "nunca detectei, em relação a mim ou a qualquer outro doente, nenhum comportamento menos solícito por parte de nenhum profissional de saúde" e, por muito tonto que seja (e eu acho que é), havia de dar pela diferença de tratamento entre ele e os "colegas".

    Fora isso devo dizer que tenho usado muito mais o SNS nestes últimos 4 anos que em qualquer outra época da minha vida (e, sobretudo, estou muito mais rodeada de gente que o usa porque vivo muito menos rodeada de funcionários públicos do que dantes), e estou agradavelmente surpreendida. Ainda por cima, tendo feito exactamente a mesma fractura com 4 anos de distância, adoro dizer aos meus amigos anti-passistas ferozes, só para os chatear, que o SNS melhorou muito nestes últimos 4 anos (segundo a minha amostra única, é a pura verdade!).

    ResponderEliminar
  2. Não diria ridículo, caro LAC, mas, certamente, padece de um manifesto excesso de boa fé. O que os antigos designavam por ingenuidade!!

    ResponderEliminar
  3. O Portocarrero exagerou, mas o SNS tem melhorado bastante e não piorou durante o último governo. Quem diz o contrário, ou não sabe o que diz, ou tem outros interesses.

    ResponderEliminar
  4. Oportuno e muito bem observado, quando uma pessoa está mesmo doente e a precisar de auxílio não se importa nada de ser tratado preferencialmente, é muito melhor do que ser ignorado. O senhor padre não foi sincero mas também não é para estranhar.

    ResponderEliminar

Não são permitidos comentários anónimos.