sexta-feira, 1 de janeiro de 2016

Da competência...

No último dia de 2015, o Jornal de Notícias diz-nos que, no Instituto de Emprego, se deu o seguinte:
"A "dissolução do Conselho Diretivo" e "a cessação das comissões de serviço" dos delegados e subdelegados foi esta quinta-feira confirmada ao JN pelo Ministério do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social. Justifica a decisão com a nova orientação do PS assente na promoção do emprego e no combate à precariedade.
[...]
A direção cessante tem sido alvo de contestação por parte do Bloco de Esquerda (um dos partidos que garante maioria parlamentar ao Governo) precisamente devido aos recibos verdes. O deputado José Soeiro entregou, anteontem, uma pergunta dirigida a Vieira da Silva, denunciando o recurso a falsos recibos verdes no concurso que a direção do IEFP lançou para docentes e formadores na rede de centros de emprego e formação profissional. O procedimento de seleção foi aberto segunda-feira para 2016-2018. Há quase 900 vagas."

Fonte: JN.pt, 31/12/2015

A notícia tem piada porque diz que é uma imposição do Bloco de Esquerda, mas estas pessoas foram afastadas porque não são capazes de implementar o programa do PS. Note-se que, quando o PS foi para o governo, em Março de 2005, recebeu uma economia com uma taxa de desemprego de 8,5%; quando saiu do governo, a taxa de desemprego era de 12,3% (Junho de 2011). É apenas um aumento de 45%, isto apesar de ter aumentado a escolaridade mínima obrigatória, investido bastante dinheiro em formação, da economia europeia estar em expansão, e de ter afundado o país em gastos públicos. Mas ninguém dentro do PS se insurgiu contra este completo falhanço.

Esclareçam-me: exactamente, desde quando é que a competência de uma pessoa está dependente do partido que está no poder? Que fidelidade partidária é que o PS, PSD, CDS, etc. exigem aos subdelegados regionais do Ministério do Emprego, por exemplo? Devo eu presumir que estes funcionários públicos recebem instruções para obedecer às chefias apenas quando o partido a governar corresponde ao partido a que pertencem e desobedecer quando o partido a governar não corresponde ao partido a que pertencem? Foi exactamente isso que acabaram de me informar com esta decisão e pessoas que trabalham assim são claramente incompetentes.

Já agora, expliquem-me também quanto é que este sistema de definição de competência técnica custa ao meu bolso em termos de impostos. Sim, porque andar a empregar e desempregar pessoas ao ritmo de mudanças de governo custa dinheiro aos contribuintes. Não sei se repararam, mas Portugal muda de governo em média de dois em dois anos, desde 1974. Há algum país desenvolvido onde se mude de governo com tanta frequência? Será que mudar de estratégia de dois em dois anos produz alguma coisa de jeito? Esperem, não respondam porque ainda mal saímos da última bancarrota.

4 comentários:

  1. A politização é um mal generalizado em muitos lugares do funcionalismo público e dos famosos "institutos" (criados para poder pagar-se aos seus quadros fora das tabelas da função publica - por "fora", entenda-se "acima"). São os famosos "jobs for the boys", expressão popularizada em Portugal pelo antigo Presidente da Câmara de Matosinhos, Narciso Miranda, quando um governo da sua cor não estava, aparentemente, a dar jobs a boys suficientes.

    Presumo que os agora demitidos fossem, eles também, boys (e girls, certamente).

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  2. Disse o nosso actual primeiro-ministro que, em 2016, vai dar prioridade à transparência. É bom que o faça. Entretanto, alguém do seu governo, ou ele mesmo, decidiu esconder as nomeações que estão a fazer em grande quantidade, diferente do que fazia o governo anterior, como aqui se denuncia: http://oinsurgente.org/2015/12/30/as-nomeacoes-do-governo/

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  3. Este "Conselho Diretivo" e os tais delegados e subdelegados já estavam nos cargos entre 2005 e 2011?

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    1. Miguel Madeira, parece que o actual Ministro do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social também estava em funções semelhantes entre 2005 e 2009, logo vais dizer-me que desta vez é que vai ser? Vai rodear-se de pessoas muito mais competentes e conseguir melhores resultados, estando a economia muito mais fragilizada agora do que estava em 2005? Quanto queres apostar?

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