segunda-feira, 18 de abril de 2016

A Cidadania Medíocre

A felicidade é acordar com uma tempestade lá fora. Há trovoada a dar com um pau, avisos de tornado, avisos de cheias, etc. As escolas estão fechadas, a chefinha diz para eu não ir trabalhar. Digo-lhe que tentarei ir mais tarde, ela diz para eu não sair de casa sem ela me dar autorização. Ao menos, a Internet funciona e o resultado deste fim-de-semana do processo de impeachment no Brasil foi como eu previ e como informei a chefinha -- ao menos sirvo para alguma coisa.
Venho ao blogue, e vejo que dizem que tenho discurso fascista e que devia era ficar pela América e votar no Trump. A sério, pessoas? Gostaria que me explicassem que merda vai na vossa cabeça. Que necessidade há de estar sempre a insultar emigrantes só porque a) são emigrantes, e b) têm um discurso diferente do vosso? Isto ao mesmo tempo que, no Portugal à beira-mar plantado, exultam Fernando Pessoa e Camões -- é meus caros, eles também foram emigrantes. Até Eça de Queirós foi emigrante. Quem vive fora de Portugal por uns tempos é emigrante. Aprendam a viver com isso porque é normal. Bem-vindos ao século XXI, mas nós já somos uma nação de emigrantes há mais de 500 anos. Aprendam história e pensem nas implicações do que aprendem. Pensem, pensem, pensem! Deixem de ser umas esponjas de informação já preparada e de má qualidade porque, se têm cabeça, é para pensar.
Vivi quase toda a minha vida de adulta nos EUA e nunca, mas nunca, ouvi um americano dizer a outro para não voltar aos EUA ou para sair do país porque não gostava do discurso dele. Quando os americanos sabem que outro americano viveu fora, a reacção normal é uma de admiração e curiosidade, perguntam se a pessoa gostou, se é muito diferente dos EUA, etc. Em Portugal, há sempre alguém que acha que por nós sairmos de Portugal não merecemos regressar. E vocês, que ficam e gostam de malhar nos emigrantes, merecem usar as poupanças dos emigrantes? Merecem que nós nos esforcemos para dar uma boa impressão do país ao mundo, enquanto o país é governado por pessoas que se orgulham de dar a pior impressão possível?
O Bloco de Esquerda terá o meu apoio se propuser ao Parlamento a criação de um Cartão de Cidadania Medíocre especialmente para vós, os iluminados da Santa Terrinha.

14 comentários:

  1. Rita:
    Sei que este seu post não é para mim, apesar disso, sempre lhe digo que acho muito estranho que se dirija a quem a critica (e tem toda a razão para o fazer, o termo com que foi etiquetada é abjecto e a classificação como fascista absurda) dirigindo-se no plural, a todos nós.
    Cada um é responsável pelo que diz: quem lhe chamou fascista é responsável por isso, eu não.
    Quem a mandou ficar nos EUA é responsável por isso, eu não.
    A minha crítica no post abaixo é bastante diversa da que acabo de referir.
    De início, achava os seus textos frescos, com uma visão de quem está de fora, muito mais iluminada, racional e lúcida.
    Agora acho que se deixou captar pelo maniqueísmo reinante entre nós (e parece que um pouco por todo o mundo), até parece que faz parte de uma das tribos que se digladiam na arena política portuguesa.
    O meu exemplo da criação do Deus e do Diabo, no meu comentário no post abaixo, referia-se, precisamente, a isso, como certamente deve ter compreendido.

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    1. Manuel, tem de dar à Rita o direito de desabafar perante uma parvoíce dessas.

      Já agora, Rita, nestes insultos é comum dizer aos emigrantes que não voltem, mas, quando se dirigem a pessoas que estiveram fora e voltaram, é comum dizer aos que voltaram que não deviam ter voltado.
      Imagino que também haja insultos similares aos que nunca de cá saíram.

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    2. Se esta fosse a primeira vez que eu ouvisse tal coisa, não ligaria; mas é uma coisa que eu ouço constantemente: sou uma portuguesa inferior porque emigrei. E era uma coisa que eu ouvia dizer antes de eu sair de Portugal.

      Luís, é bem-verdade: ninguém nos bate na arte do insulto mútuo. E Portugal empobrece quando cada um puxa para um lado diferente, em vez de todos para o mesmo lado ou, pelo menos, quase todos...

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  2. Não se apoquente, Rita, não se apoquente, menina, que não vale a pena.

    Tal como a Rita, tenho vivido practicamente toda a minha vida adulta fora de Portugal embora não tenha poisado nunca em definitivo em lado nenhum. Por acaso também fiz uma perninha nos EUA, on and off, ao longo de cinco anos. Hoje em dia já practicamente não tenho quaisquer ligações a Portugal, sequer. Comentários como aquele que refere nunca me aqueceram nem arrefeceram e, ostensivamente, olho para eles com aquilo a que aí onde vive se chama "contempt" com toda a carga de desdém que a palavra tem. E acrescento sem qualquer pudor que saí de Portugal não por motivos profissionais dado poder desenvolver a minha actividade em qualquer sítio do mundo conquanto tenha computador, internet e telefone mas sim porque não tenho qualquer identificação com a sociedade e cultura Portuguesas.

    A Rita alcançou uma posição respeitavel e colhe os frutos das suas decisões e do seu trabalho. Ponha-se no seu lugar e olhe de cima para aqueles que estão abaixo de si. Não lhes dê demasiada importância.

    Um abraço amigavel acompanhado de votos de poucas alterações ao seu quotidiano com a tempestade!

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    1. Obrigada -- só há um problema, falta-me o gene da desistência, e devo ter uma duplicação do gene da teimosia. Só isso pode explicar porque é que eu ainda ligo a Portugal. ;-)

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  3. Quem fala assim não é gago, Rita.

    Em Portugal também dominam as trovoadas, os tornados e as intempéries, mas sobretudo do espírito.

    Em tempos, em Inglaterra, tive um colega de trabalho português (do Taveiro, imagina!) que dizia: "Há três tipos de portugueses: emigrantes, retornados e animais domésticos".

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  4. Cara Rita, a traição sempre medrou no coração da mediocridade! O reduto último da traição é a alma do medíocre, há ali um meio de cultura muito próprio!!
    Tais comentários, cara Rita, têm a inestimável virtude de nos avivar a consciência, quando não apenas a memória, acerca da persistência, e existência, dos medíocres, valha sempre isso!!
    Ainda a propósito, há gente que não aprende nem esquece nada. A Rita apontou aqui a geringonça ainda antes de o ser. Ensaiou virtudes e vícios que seriam elementares e vislumbráveis a olho nu!! Coisas imperdoáveis!!

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  5. Cara Rita, o seu post lembra-me uma história que escutei já há uns anos e aqui vou reproduzir.

    Um professor e um aluno estavam lado a lado num final de tarde junto da Torre de Belém.
    Por associação com o local e face ao estado actual do país, o aluno virou-se para o professor e questionou: professor, como é possível que sejamos os descendentes dos homens que partiram há séculos para dar novos mundos ao Mundo e o país actual esteja nesta situação de falência e crise?

    Ao que o professor respondeu: Meu rapaz, não somos os descendentes dos que partiram para dar novos mundos os Mundo, somos os descendentes dos Velhos do Restelo.
    .

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  6. Rita, há gente que não merece este espaço de liberdade. Infelizmente. Também há gente que não merece o pão que come. Mas não generalizemos - estou convencido que constituirão uma minoria. Não aconselho a desprezá-los, mas a ignorá-los. Não merecem mais.

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  7. "iluminados da Santa Terrinha" e, evidentemente, os "Adiantados Mentais"...

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    1. Eu ando sempre quase às escuras--até o candeeiro se avaria...

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    2. Ah, e sou boa para ir buscar a morte!

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    3. Os internautas que lhe chamaram fascista devem saber tão bem o que dizem como as dactilógrafas que, em meados da década de 70, chamaram teclado fascista ao teclado que usavam...

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