quinta-feira, 14 de abril de 2016

E se as mulheres não querem?

Escreveu o Manuel Silva num comentário a um post do LA-C: “vivemos ainda num mundo em que, sendo, grosso modo, metade da população masculina e outra metade feminina, basta ver quem comanda as mais variadas instituições, sejam do poder político, sejam da economia (empresas). Como os críticos da política de discriminação positiva das mulheres não ousam afirmar que estas sejam, nem menos inteligentes, nem tenham qualificações académicas e profissionais inferiores, como justificar a sua ainda grande exclusão dos lugares do topo?”

Boa pergunta. Nestas discussões, ninguém costuma considerar a hipótese de a maioria das mulheres não ter simplesmente grande vontade em ocupar os “lugares de topo”. Não acho esta hipótese disparatada de todo.

Por exemplo, compreendo muito bem que muitas das mulheres não tenham a menor aspiração em ser líderes partidárias. Andar durante anos a bajular e a aturar chefes e caciques locais, ter comportamentos sectários e facciosos, tipo carneiros, não é propriamente uma carreira muito atractiva para pessoas inteligentes, com espírito livre e crítico. Se isto diz alguma coisa sobre as mulheres, talvez seja que a maioria tem mais juízo do que os homens.

Outro dado curioso. Há muitos anos que há mais raparigas (mais de 60%) do que rapazes no ensino superior. Todavia, a maioria das associações académicas e dos cargos de chefia continuam a ser ocupados por rapazes. O que é que impede as estudantes de disputarem estes cargos, se ainda por cima estão em maioria? Onde é que está aqui a discriminação? Talvez a resposta seja simples: as raparigas não disputam e não ocupam esses cargos porque não querem.

13 comentários:

  1. Eu detesto liderar coisas e nunca me ofereço, mas quando lidero costuma correr bem. Só só lidero quando me pedem para liderar, até porque prefiro o trabalho de bastidores. Sou muito preguiçosa para me voluntariar...

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  2. "Todavia, a maioria das associações académicas e dos cargos de chefia continuam a ser ocupados por rapazes."

    Há duas semanas fui a uma reunião do reitor com os presidentes de Escola da UMinho. Não sou presidente, mas estava a representar o presidente da minha Escola. Nesse reunião estavam 8 escolas. Eram 4 gajos e 4 gajas.
    O departamento de economia da minha escola tem uma directora. O dept de gestão, idem. O de ciência política é gajo. Os 2 núcleos de investigação da EEG, ambos impecáveis, são liderados por 1 homem e 1 mulher.
    Talvez não tenhas razão, Zé Carlos. É, simplesmente, preciso tempo para inverter séculos de enviesamentos. É tão mais fácil não termos de abrir as portas porque já estão abertas.

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    1. Estava a referir-me apenas a cargos de chefia ao nível das associações académicas de estudantes. E também podia falar nas juventudes partidárias, onde se forjam os actuais líderes partidários. Nestes casos concretos, não vejo motivos para se falar em discriminação do sexo feminino. E compreendo muito bem essa eventual falta de "vontade de poder", porque eu também não a tenho.

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  3. Eu há muito que me ocorre outra ideia, que semanticamente também pode ser descrita como "E se as mulheres não querem?", mas diferente em conteúdo da do José Carlos Alexandre: não "e se as mulheres não querem liderar?" mas sim "e se as mulheres não querem ser lideradas por outras mulheres?" (o que levará que parte das mulheres em funções de destaque usem o seu poder para bloquear a ascensão de outras mulheres, levando no final a uma escassez de mulheres nesses cargos).

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  4. O comentário acima é do Miguel Madeira, que se confundiu no perfil.

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  5. Os malabarismos que certas pessoas usam para iludir a realidade.
    No caso o José Carlos Alexandre e o sujeito que usa o «nick name» Bloco de Esquerda-Portimão.
    Se acham que o terreno das lideranças vos permite esses malabarismos para iludirem a realidade, responda-me porque razão as mulheres, de uma maneira esmagadora, ganham menos do que os homens ao desempenharem as mesmas tarefas.
    Isto é exacto, está confirmado quantitativamente em muitos documentos credíveis de várias entidades que estudam este assunto.

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    1. Manuel Silva, eu respondo-lhe: porque, por norma, são (ou são percepcionadas, que vai dar ao mesmo) negocialmente mais fracas (têm menos tendência para pedir aumentos), mais estáveis (têm menos probabilidade de trocarem de emprego) mas mais absentistas (mesmo descontado o risco de gravidez - e sim, "risco", porque é assim que as empresas as vêm - em caso de crise doméstica com os filhos, têm mais tendência para responderem vs. os pais). O resultado é que, de facto, "valem" menos para uma empresa que um homem.

      É esta situação a correcta? Não. Mas o problema não está só ou primariamente nas empresas. Está na estrutura social (e mesmo legal) que privilegia estas situações. Enquanto contratar uma mulher for um risco maior para uma empresa ou enquanto uma mulher for vista como um empregado mais "dócil", a situação não muda.

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  6. A hipótese que eu aventei é perfeitamente compatível com as mulheres ganharem menos - se há mulheres que são perseguidas no trabalho por outras mulheres, e se os homens não forem por regra sujeitos a perseguições similares, é natural que algumas mulheres (as vitimas de perseguição) acabem ganhando menos.

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  7. Um problema desta discussão é que, perante a constatação que há poucas mulheres no grupo A (p.ex., cargos de chefia), a polémica costuma ser entre duas supostas explicações:

    1 - os homens do grupo A dificultam a entrada de mulheres
    2 - as mulheres não querem pertencer ao grupo A

    deixando de lado outras explicações, como:

    3 - as poucas mulheres do grupo A bloqueiam a entrada de mais mulheres
    4 - os homens do grupo B impedem as mulheres do grupo B de participarem no grupo A (ou seja, uma barreira mais muro de Berlim - limitando a saída - do que centro de detenção de Calais - limitando a entrada)

    Uma ideia que me ocorre é que, num contexto profissional, barreiras 1 e 3 levariam a que as mulheres tivessem salários mais baixos; já barreiras 2 e 4 poderiam (talvez, dependendo de muitos fatores) levar a salários mais altos para as mulheres.

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    1. Miguel, as tuas hipóteses fazem sentido e até já escrevi um post sobre isso: http://destrezadasduvidas.blogspot.pt/2016/01/quando-discriminacao-mora-ao-lado.html#comments

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  8. Arrisco 2 especulações: a maior parte dos espectadores de um concerto do Justin Bieber são pessoas com menos de 30 anos e a maior parte dos frequentadores do Bingo do Belenenses são pessoas com mais de 40.
    Será que, em qualquer dos casos, existirá algum tipo de descriminação no acesso?

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    1. Carlos:
      Arrisco uma 3.ª hipótese.
      E se falássemos a sério de coisas sérias?
      Os fait-divers devem ficar para as revistas cor-de-rosa, não acha?

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  9. "E se as mulheres não querem?"

    - Eu segui durante algum tempo uma discussão destas sobre lugares de administração no Reino Unido. Um dos seus resultados foi que uma associação patronal recomendou aos seus associados que ponderassem quotas para mulheres nas suas empresas.

    Depois, durante a discussão desta última recomendação algumas mulheres fizeram saber que, em geral, o seu interesse dependeria da possibilidade de serem realizadas certas alterações nas empresas, não nelas mesmas, antes no peso que tinham nelas as actividades extra-empresariais. Que não haja equívocos – nada tinha a ver com sexo.

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