quinta-feira, 28 de abril de 2016

Critérios de avaliação do governo PS

Citado no Expresso, o PM António Costa referiu que mais importante do que o Orçamento, é o Plano Nacional de Reformas pois são necessárias uma "contenção responsável da despesa" e "uma gestão prudente da receita", que promoverão um "processo tranquilo" de consolidação orçamental. O que António Costa disse não faz absolutamente nenhum sentido, pois se há uma consolidação orçamental tranquila esta será evidente no Orçamento; se não é, então não há processo de ajustamento nenhum da economia, há o que os anglo-saxónicos chamam de "wishful thinking".

Sabemos de antemão que o foco deste governo era desacelerar a amortização da dívida, de forma a que a economia não sofresse tanto e isto iria permitir um crescimento da economia superior ao que era planeado pela PàF. A implicação lógica é que o crescimento adicional seria financiado por dívida: ficaríamos mais endividados durante mais tempo, mas cresceríamos mais. Uma medida de sucesso do governo PS é, então, uma taxa de crescimento do PIB superior à que a PàF obteve em 2015, ou seja, 1,5%, e uma dívida pública, medida em percentagem do PIB, que terá de ser igual ou inferior à que se obteve em 2015, 129%, pois isto significaria que o governo teria uma alocação de recursos que resultaria num retorno superior a apenas amortizar a dívida, como preferia a PàF.

O PS tem apenas de melhorar a actuação do PSD/CDS de 2015, não é necessário que tenha os resultados que a PàF previu, pois essas previsões estão erradas. Todas as previsões dos governos portugueses são erradas e o erro é sempre da mesma natureza: demasiado optimismo. Seria injusto exigir que o PS tivesse de ter uma actuação que sabemos a priori que a PàF não teria. Mas, para além das medidas mencionadas acima, há outros critérios de sucesso que podemos, e devemos, usar para avaliar o PS e estes têm a ver com o tamanho do erro das previsões e informam também da competência e das boas intenções do governo.

Antes de prosseguir, é necessário um enquadramento histórico e alguma informação de suporte para quem não está familiarizado com modelos económicos e análise de dados. Uma das premissas quando se produz previsões quantitativas é de que os dados do passado contêm informação que é relevante para o futuro. Os dados contêm dois tipos de informação: uma componente aleatória que é impossível de prever -- esta componente é o erro -- e uma componente com poder explicativo (não é aleatória). Quando um modelo é mal construído, parte da componente com poder explicativo fica nos erros e estes não são completamente aleatórios (não vou distinguir entre erro e resíduo para não confundir as pessoas, quero apenas que compreendam a intuição do que nós fazemos quando analisamos dados). O objectivo de alguém que produz previsões é extrair o máximo de informação com poder explicativo dos dados e reduzir o erro. Há várias técnicas para o fazer e associadas a elas estão boas práticas que garantem que o analista não contamina a análise com os seus preconceitos.

Em 2011, a economia portuguesa entrou em colapso, que resultou no acordo com a Troika. Os credores exigiram que o governo levasse a cabo uma mudança de estratégia, mais focada no mercado externo e menos dependente do consumo e gastos públicos financiados a dívida. A crise da dívida pública também afectou a confiança dos agentes económicos, especialmente dos consumidores. Apesar do impacto negativo, houve uma redução das importações o que contribuiu para um melhor saldo da balança comercial, que afecta positivamente o PIB. O maior foco em exportações também produziu resultados, mas mais lentamente porque demora mais tempo a conseguir penetrar no mercado externo. Os efeitos positivos da estratégia do governo PSD/CDS não ocorreram imediatamente.

Quando acontece um choque grave na economia, como o que aconteceu em Portugal em 2011, surgem vários problemas pois é muito raro ter bons dados -- eventos deste tipo ocorrem na cauda da distribuição probabilística, o que quer dizer que são eventos com um impacto grande, mas com uma probabilidade baixa de acontecerem: são raros. Já não havia uma intervenção do FMI desde a década de 80 e, nessa altura, havia moeda própria, controlava-se a própria política monetária, e não se estava sujeito a uma união monetária, etc., logo 2011 foi completamente inovador em termos de choque.

É normal que os agentes económicos mudem o seu comportamento quando reagem a choques, o que pode invalidar as previsões de modelos baseados em dados passados. Se o choque é temporário e não tem um efeito persistente na economia, eventualmente os agentes revertem a comportamentos do passado, e o efeito desse choque nas previsões é um erro maior; se o choque produz efeitos permanentes, diz-se que há uma mudança estrutural no comportamento dos agentes e os modelos anteriores ficam obsoletos e têm de ser ajustados -- quer dizer que, nesse caso, o erro para além de ser maior, passa a conter alguma informação com poder explicativo que tem de ser extraída. Aqui vale a pena referir a crítica de Robert Lucas, que defende que os modelos econométricos ficam obsoletos sempre que há uma mudança de política económica na economia.

As previsões feitas pelo governo PSD/CDS foram extremamente optimistas, mas como a economia portuguesa nunca tinha tido um choque daqueles, nem seguido uma estratégia como a imposta pela Troika desde a entrada no euro, havia pouca informação para ancorar as previsões -- os erros do PSD/CDS ocorreram porque não havia informação nos dados e porque, como todos os governos, são demasiado optimistas. A capacidade de produzir boas previsões estava completamente comprometida e seria de esperar que os erros desse governo fossem bastante grandes, até porque no início descobriu-se que a própria integridade dos dados era duvidosa pois havia muita informação relevante que tinha sido escondida através de contabilidade nacional criativa. Entretanto, os dados foram corrigidos.

Mas pensemos no que acontece aos dados à medida que a economia recuperou deste choque anormal: os dados começaram a reflectir o comportamento da economia na cauda da distribuição, ou seja, há mais informação com poder explicativo nos dados e é mais fácil fazer previsões porque temos uma amostra mais rica. O comportamento das pessoas também normalizou e já não estão em estado de choque. E há outra razão pela qual é mais fácil fazer previsões: quando o PS formou governo e delineou a sua política económica, deu prioridade a anular as mudanças feitas pelo governo PSD/CDS e a regressar à economia que existia antes da Troika. Essa economia está representada nos dados, ou seja, o governo PS não está a trabalhar com choques inovadores, logo tem obrigação de fazer previsões que tenham erros comparativamente mais pequenos do que os erros das previsões do governo PSD/CDS.

28 comentários:

  1. Respostas
    1. Subscrevo a observação da Isabel.

      Mal li este artigo voltei ao princípio para recolher algumas notas, que agora partilho:

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      "o erro é sempre da mesma natureza: demasiado optimismo"

      " critérios de sucesso que podemos, e devemos, usar para avaliar"

      "uma componente aleatória que é impossível de prever"

      "uma componente com poder explicativo (não é aleatória)"

      "não vou distinguir entre erro e resíduo para não confundir as pessoas"

      "compreendam a intuição do que nós fazemos quando analisamos dados"

      "O objectivo de alguém que produz previsões é extrair o máximo de informação com poder explicativo dos dados e reduzir o erro"

      "práticas que garantem que o analista não contamina a análise com os seus preconceitos"

      "na cauda da distribuição probabilística, o que quer dizer que são eventos com um impacto grande, mas com uma probabilidade baixa de acontecerem: são raros"

      "Se o choque é temporário e não tem um efeito persistente na economia, eventualmente os agentes revertem a comportamentos do passado, e o efeito desse choque nas previsões é um erro maior"

      "se o choque produz efeitos permanentes, diz-se que há uma mudança estrutural no comportamento dos agentes e os modelos anteriores ficam obsoletos e têm de ser ajustados - quer dizer que, nesse caso, o erro para além de ser maior, passa a conter alguma informação com poder explicativo que tem de ser extraída. Aqui vale a pena referir a crítica de Robert Lucas, que defende que os modelos econométricos ficam obsoletos sempre que há uma mudança de política económica na economia."

      "extremamente optimistas, mas como a economia portuguesa nunca tinha tido um choque daqueles, nem seguido uma estratégia como a imposta, havia pouca informação para ancorar as previsões"

      "A capacidade de produzir boas previsões estava completamente comprometida e seria de esperar que os erros fossem bastante grandes"

      "os dados começaram a reflectir o comportamento da economia na cauda da distribuição, ou seja, há mais informação com poder explicativo nos dados e é mais fácil fazer previsões"

      "O comportamento das pessoas também normalizou e já não estão em estado de choque"

      "regressar à economia que existia antes da Troika. Essa economia está representada nos dados, ou seja, o governo não está a trabalhar com choques inovadores, logo tem obrigação de fazer previsões que tenham erros comparativamente mais pequenos"

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  2. Uma medida de sucesso do governo PS é, então, uma taxa de crescimento do PIB superior à que a PàF obteve em 2015, ou seja, 1,5%, e uma dívida pública, medida em percentagem do PIB, que terá de ser igual ou inferior à que se obteve em 2015, 129%, pois isto significaria que o governo teria uma alocação de recursos que resultaria num retorno superior a apenas amortizar a dívida, como preferia a PàF.

    Note-se que embora desejasse um tal comportamento, e seja uma condição suficiente, não é de todo garantido que seja uma condição necessária. Isto porque a taxa de crescimento estava a desacelerar já durante os últimos tempos do governo da coligação. Só se assumirmos (coisa que sinceramente me custa a fazer) que um governo (qualquer) tem instrumentos capazes de definir (e não simplesmente influenciar) o comportamento da taxa de crescimento da economia, é que seria possível fazer essa análise.

    Pessoalmente, tenho muitas dúvidas nesse tipo de análises diretas, suponho que o mais que consigo fazer é uma análise de eficiência estilo análise input-outputs e benchmarking com situações semelhantes. E sim, isso não permite ter na maior parte dos casos critérios “sharp” sobre a qualidade / comportamento dos agentes.

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    1. A PàF governou desde as eleições até à tomada de posse de António Costa e não houve nenhuma avaliação do crescimento do PIB para esse governo. A taxa de crescimento do PIB durante o governo PSD/CDS foi -4,03, -1,13, 0,91, e 1,46, desde 2012 a 2015. Não vejo nenhuma justificação lógica para que uma economia como a portuguesa, quando bem gerida, não consiga crescer a 1,5% ao ano. É uma taxa perfeitamente razoável.

      Tenho aversão à mediocridade e acho que os portugueses toleram muita mediocridade. O governo PS tem de ter uma actuação igual ou melhor do que o PSD/CDS. Se não consegue, não devia ter tirado a PàF do governo. Governar um país exige responsabilidades; não é apenas uma coisa para os PMs meterem no CV para fazerem festinhas ao seu ego.

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    2. Rita, eu agradecia um bocado menos de (in)gerência na economia por parte do Estado...

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    3. Eu também, Carlos, mas este governo não só não faz nada de jeito, como atrapalha quem quer fazer. Os governos conseguem desfazer mais facilmente do que fazer.

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  3. Rita, leio com gosto os posts técnicos que escreves como é o caso deste. Tens é o contexto errado! O que escreves aplica-se a empresas, a investimdores privados, àqueles que gerem dinheiro alheio e têm que prestar contas sobre a forma como o geriram sob pena de ficarem no desemprego. Enfim, aplica-se a gente que tem efectivamente responsabilidades sérias sobre os seus ombros e é punido se não estiver à altura delas e não a um contexto onde essa responsabilidade se deflete com uma campanha publicitária bem feita e umas palavrinhas doces ao encontro do que os eleitores querem ouvir para fazerem lá a cruzinha no sítio pretendido.

    Os governos em Portugal não fazem qualquer tipo de análise deste cariz. Aliás, que melhor prova há do que o famoso excel do ministro? O excel dinâmico com os valores a mudar consoante as necessidades políticas mas que por muitas mudanças feitas, seja onde for, acaba sempre a bater tudo certo? Nada na governação Portuguesa (e, nota, não é pecha exclusiva destes que lá estão agora) obedece a critérios técnicos, seja na gestão das finanças públicas, seja noutra coisa qualquer. O único critério que interessa é o calculismo eleitoral de curto prazo. Lá vai valendo, ocasionalmente, a UE forçar a algo para aqui ou para ali.

    Econometria? Planeamento? Ciência? Racionalidade? Ponderação? Isso não dá votos, menina!!

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    1. Claro que eu estou errada. ;-) Falando a sério, há uma grande diferença entre a minha maneira de ver as coisas e a de muitos portugueses. Eu sei que eu não trabalho para sustentar governos; os governos, que são pagos com os meus impostos e os dos outros cidadãos, trabalham para nós.

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    2. Qual econometria? Qual planejamento? Que ciência e racionalidade? A mesma que tantos dados de qualidade fornecidos por um longo período de estabilidade e crescimento, nos EUA, permitiram formular as políticas monetárias e económicas que atiraram a economia e a finança mundial no charco?

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    3. Rita, tu és racional, pragmática, assertiva. Defendes o melhor uso da ciência e da técnica, das melhores ferramentas possiveis, para apoio à decisão. Claro que és diferente da maioria dos Portugueses. A sociedade Portuguesa é uma sociedade emocional que funciona de forma totalmente diferente, uma sociedade de curto prazo quando tu funcionas a olhar para mais além. Compreendo perfeitamente o que dizes! Oh se compreendo!

      Já agora, se me permites, uma pergunta. Claro que se não responderes entenderei perfeitamente. Quando vivias em Portugal sentias-te uma ET e por isso saíste ou, pela inversa, saiste de Portugal, conheceste outro mundo, outras formas de viver e trabalhar e percebeste nessa altura as fraquezas e debilidades da sociedade Portuguesa?

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    4. Sempre me senti fora do meu elemento em Portugal, até porque depois de começar a aprender inglês, o meu cérebro rejeitou o português durante muitos anos. A coisa mais importante que os EUA fizeram por mim foi ensinar-me a lidar com a minha introversão.

      Compreendo o que dizes quando classificas a sociedade como sendo emocional, mas acho que a sociedade portuguesa é muito mais complexa do que isso -- afinal, essa sociedade emocional produz pessoas como eu há séculos.

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    5. Claro que produz. Excepções à regra, naturalmente. A sociedade Liberiana também produz gente de grande génio como é o caso da actual presidente, Ellen Sirleaf. Mas a regra não é essa.

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  4. vc esta dizendo que este governo pode ser melhor do que anterior porque existe menor erro potencial

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    1. Este governo tem acesso a melhores dados e a economia está em melhor estado. Tem obrigação de ter previsões com erros muito menores do que o anterior.

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    2. sua expetativa e que vai ser melhor ou pior?

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  5. "Não vejo nenhuma justificação lógica para que uma economia como a portuguesa, quando bem gerida, não consiga crescer a 1,5% ao ano. É uma taxa perfeitamente razoável."

    Também considero uma taxa perfeitamente razoável (é até baixa). Mas a Rita sabe em quantos dos últimos 20 anos essa taxa foi ultrapassada em Portugal? Claro que a Rita vai dizer que isso significa que a economia não foi bem gerida, ou que houve choques externos/internos que não se puderam controlar, ou que houve que fazer a alteração A ou B...

    A economia para mim é um sistema demasiado complexo para poder aceitar que uma medida direta como a taxa de crescimento seja aquilo que permite dizer se um governo é ou não um "bom governo". Mais ainda, não acredito que se possa dizer que o partido X ou Y não deveria ter ido para o governo se não consegue atingir determinadas metas arbitrárias. Legalmente as metas estão traçadas (nomeadamente tem de respeitar a constituição e demais legislação em vigor, que entre outras coisas implica ter capacidade de ver o seu programa não recusado no parlamento) quaisquer outras metas são questões politicas, que os eleitores considerarão (ou não) aquando da próxima eleição.

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    1. O iv vai ter de me desculpar, mas a justificação da Constituição não colhe: tanto este, como os governos anteriores, violaram e violam a Constituição consistentemente para aumentar a receita de impostos e esses casos nem sequer são apreciados pelo Tribunal Constitucional. Parece que só há violações da CRP quando é necessário comprar votos.

      A economia não é um sistema assim tão complexo. A corrupção e incompetência de muitos políticos portugueses é que são complexas e enormes.

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  6. O critério que indica faz sentido, e haveria outros, mas não em Portugal com a corja de políticos que temos. Mentem todos os dias e o governo actual (ps+be+pcp) então é o cúmulo. O discurso da extrema-esquerda é baixo e em geralmentiroso, cria inimigos onde eles não existem só para efeitos de propaganda.

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    1. "Mas não em Portugal", é por pensar assim e muitos portugueses pensarem assim, que Portugal continua assim! Eu não tolero a mediocridade, e ai de mim se um dia tiver 100 anos me passar o pensamento "Mas não em Portugal"! Portugal já teve que mudar muito e vai mudar mais, acredite, a não ser que queira desaparecer do mapa ou ser absorvido um dia por Espanha.

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    2. Eis o supra-sumo da mentira política.
      As mentirolas de Passos Coelho
      https://www.youtube.com/watch?v=1OhP5592WI4
      Mas, para si, tudo isto são verdades.
      É a lógica da avaliação em geometria variável: uma mentira nos adversários políticos é uma terrível mentira.
      Uma mentira nos amigos políticos é uma verdade absoluta.
      Assim vai o maniqueísmo político no Portugal presente.
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      P. S. O Destreza das Dúvidas já parece o Observador, e não é só na caixa dos comentários, é nos próprios posts.



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    3. O Manuel Silva vai-me desculpar, mas eu tenho uma reputação profissional a defender. Não me associo a partidos, até porque digo mal ou bem, conforme o assunto, de todos eles. Nunca vi o Manuel dizer mal do PS, mas eu já disse mal do PSD várias vezes. Isto para lhe dizer que a minha credibilidade é muito maior do que a sua.

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    4. Rita:
      Eu não digo mal do PS nem de nenhum partido político, pois são essenciais para a democracia.
      Critico decisões, afirmações de responsáveis, promessas ou programas.
      E faço-o uma vez por mês num jornal de grande circulação na minha região, no qual colaboro «pro bono».
      E num artigo critiquei bastante o António Costa aquando das cheias de Lisboa, como exemplo para os autarcas da minha câmara e de outras vizinhas a propósito das cheias que também nos atingiram.
      Portanto, não adiante palpites antes do jogo: prognósticos só depois do jogo, como dizia o castiço João Pinto.
      Tenho grande consideração por alguns políticos de praticamente todos os partidos, nos quais votaria em determinadas circunstâncias.
      Mas a sua campanha contra o António Costa tem sido verdadeiramente vergonhosa, nada digna de quem diz defender um prestígio profissional.
      Certas premissas falaciosas que tem posto nos seus posts nem merecem classificação.
      Quer um exemplo: sobre a venda do Banif.
      Deveria ter visto um e-mail de uma responsável pela DGComp (Direcção Geral da Concorrência da UE) que passou hoje na SIC-Notícias para perceber o ridículo do que escreveu.
      É pena que não lho possa transcrever (se puder um dia destes fá-lo-ei).
      Quando há dias lhe referi o odiozinho que tinha ao António Costa não foi infundadamente.
      A Rita o confirmou depois, ao dizer que falou uma vez com ele o que lhe permitiu concluir logo que era incompetente: que grande perspicácia.
      A gestão dele na CML não o comprova, apesar da miséria que encontrou em 2007, com os próprios camiões do lixo penhorados e os pequenos fornecedores da câmara com a corda na garganta com as dívidas da câmara por lhes pagar.
      E 1,236 mil milhões de euros de dívida, tendo-a reduzido para 760 milhões (cerca de 40%).
      E com o imposto mais vil e violento contra os munícipes (o IMI) na taxa mais baixa do país.
      E redução de mais de 2000 funcionários em 10 mil.
      Etc., etc., etc.
      A acção dele no governo só poderá ser avaliada dentro de algum tempo: não «à priori», como a Rita e muitos outros têm feito.
      -------------
      P. S. Declaração de interesses: não sou do PS, nunca fui filiado em nenhum partido, não votei PS, infelizmente tenho votado demasiadas vezes em branco nos últimos anos para não violentar a minha consciência.
      Mas detesto ataques «ad hominem», seja contra que for.
      Criticar decisões é legítimo, mas sem deturpar as circunstâncias.

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    5. O Manuel Silva diz que não é do PS, mas é mais do PS de que muitos PS's. Então aquela de dizer que o Costa reduziu a dívida da Câmara de Lisboa, sem referir que o fez à custa da indemnização que a Câmara de Lisboa recebeu do Estado, relativamente aos terrenos do Aeroporto (diligência que nem foi ele quem encetou), só pode ocorrer, parece-me, a quem vê apenas para um lado…

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    6. Manuel,
      Este post foi escrito para si porque me acusou de ser ideológica e de ter ódios de estimação. Tentei verbalizar o meu processo de pensamento para ver que eu tenho razões concretas, independentes de ideologia, para pensar da maneira que penso. Lamento que continue a achar que sou regida por motivos ideológicos e ódios de estimação. No entanto, constato que você tem um ódiozinho de estimação por mim.

      Discordo de si: a existência de partidos não faz nada para assegurar democracia porque os partidos também estão presentes em ditaduras. É a liberdade de expressão dos cidadãos a arma mais importante para assegurar uma democracia de boa qualidade. Eu exerco o meu direito à liberdade de expressão, assim como o faz o Observador, o Público, o Correio da Manhã, o Expresso, a RTP, e o próprio Manuel, para dar alguns exemplos. Acho impróprio que me diga que eu não tenho o direito de criticar o governo e que tenho de dar a este governo o benefício da dúvida. Eu não tenho nenhuma obrigação de me auto-censurar por este ou por outro governo e você tem direito à sua opinião, mas não tem o direito de me insultar ou exigir que eu me cale. Eu não interfiro nas suas liberdades; não interfira nas minhas. Isso é democracia.

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    7. Rita, não faças muito caso. Há dias este Manuel Silva também disse que eu era um conhecidissimo militante do PSD. Não vale muito a pena lutar contra fantasmas.

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  7. Tiro ao alvo:
    António Costa reduziu a dívida da câmara em cerca de 500 milhões de euros.
    Um pouco mais de metade veio da venda dos terrenos do Aeroporto para que o governo fizesse o negócio da venda da ANA com a Vinci (venda legítima pois os terrenos eram da câmara).
    O resto (quase metade) veio da contenção de custos: redução de pessoal, renegociação dos empréstimos com a banca e respectiva poupança de juros, etc.
    Redução ilegítima para os Tiros ao Alvo (contra o Costa).
    Mas as vendas que o governo de Passos/Portas fez de tudo quanto pôde, muitas ao preço da uva mijona em favor de amigos e clientelas, prejudicando claramente o erário público a pretexto da crise financeira do Estado (que era, é, real), essas vendas já são legítimas.
    O último exemplo está a ser investigado pela PJ: a venda de um navio dos estaleiros de Viana por 9 milhões e prejuízo de 70 milhões para nós, depois da oferta dos estaleiros sem concurso público, por entrega directa, à Martifer.
    Portanto, dois pesos e duas medidas da sua parte.
    É contra isto que eu me insurjo, seja quem for o visado pelos fanáticos ideológicos que só vêm de um olho devido aos óculos de análise política da realidade que usam.
    Vivemos um tempo de maniqueísmos acirrados, uns permanentemente contra outros por motivos fúteis.
    Para certas pessoas parece que não há objectivos comuns, que não pertencemos ao mesmo país, uma coisa mal feita por um inimigo é crime, por um amigo é boa, ou, no mínimo tenta esconder-se.
    Quer um exemplo: para mim, a vigarice das habilitações do Sócrates é, na essência, igual à do Relvas. Nos pormenores a do Relvas ainda é um pouco pior pois só fez 2 cadeiras da licenciatura, com 10 e 11 valores. O outro ainda fez o bacharelato no Instituto Superior de Engenharia de Coimbra e só vigarizou a licenciatura ao Domingo, na chamada Universidade Independente.
    Mas como para mim o que conta é a essência: quem falsifica 1 ou 2 cadeiras ao Domingo é capaz de falsificar o curso todo.
    Iguais um ao outro na seriedade e na ética, portanto.
    Pois uma conhecida e conceituada jornalista, que é expoente máximo do fanatismo ideológico, conseguiu distinguir os 2 casos, absolvendo o Relvas e condenando o Sócrates.
    Voltando ao Costa, mal chegou à câmara baixou o IMI para o mínimo, e lembro que este imposto é terrível pelo menos por 3 razões: incide sobre um bem que realiza um direito fundamental do ser humano, o direito à habitação, sem estar associado a nenhum benefício directo; incide sobre um bem que custa muito a adquirir, gastando as poupanças de uma vida ou constituindo um encargo para o resto da vida; consome entre metade e 2 ordenados à maioria das pessoas, dado o nosso nível de remunerações.
    Mas como se quer queimar o Costa, esquece-se isto. E quando alguém o lembra, vem logo a taxa do turismo: 1 euro ao desembarcar-se no aeroporto de Lisboa. Estive há meses em Bruxelas e não paguei 1 euro, paguei 5, pois estive lá 5 dias.
    Mas este maniqueísmo e este fanatismo ideológicos estão por todo o mundo, não são fenómeno nacional.

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  8. Rita:
    Eu não tenho nada de pessoal contra si.
    Divirjo algumas vezes totalmente do que escreve apenas pela sua falta de isenção. Não tanto pelas ideias, é normal as pessoas terem ideias diferentes. O que faz que argumentem com outras ideias, nada mais. Não há que ficar incomodado com ideias diferentes só por serem diferentes.
    E se a Rita tem o direito à liberdade de expressão eu tenho direito à liberdade de crítica.
    E também lhe reconheço o direito à liberdade de não concordar comigo e de me criticar livremente.
    A isto chama-se polemizar: sem ódiozinhos pessoais nenhuns, pelo menos da minha parte contra si.
    Sei bem distinguir as pessoas das ideias.
    Tenho amigos com quem estou em desacordo profundo muitíssimas vezes mas isso não prejudica a nossa amizade, que continua passadas décadas (até porque eu e eles vamos mudando de atitudes perante a vida ao longo do tempo, é, por isso, normal que divirjamos).
    Quanto às críticas ao que escreve, e ao ódiozinho contra o Costa de que a acusei, não fiz infundadamente. Dou 2 exemplos:
    Do seu post Clueless: «Quando olho para a foto do nosso ilustre PM a bordo de um Falcon, há várias coisas que me vêm à cabeça:
    - António Costa é completamente "clueless"! Não tem noção da dimensão dos problemas do país.
    - É irresponsável, só assim se justifica gastar dinheiro mal gasto, que o país não tem.
    A minha impressão inicial confirma-se: quis ser PM porque queria o poder e o "prestígio" do cargo no seu CV. Ele não quer saber de Portugal, quer saber dos privilégios que pode obter enquanto Primeiro Ministro.»
    Antes de A. Costa ter ido à Grécia, para onde não há voos directos, tem de se fazer escala na Alemanha, Passos Coelho (depois do número de viajar em turística no início do mandato) cancelou um voo directo para a Alemanha na TAP e foi no Falcon do Estado.
    Não vi a Rita chamar-lhe o que chamou ao Costa. Dois pesos, duas medidas.
    Do seu post «Como ser pobre»
    «O Banif foi vendido por €150 milhões ao Santander no final do ano passado. Para o vender, o governo recapitalizou o banco. Na mesma altura, o Santander emprestou ao governo €1766 milhões.»
    Neste post crucifica o governo e o Costa pela venda do Banif, quando devia saber que a decisão de venda ao Santander foi da Comissão Europeia e que este caso se arrastou durante muito tempo sem que o anterior governo, e o seu governador, que nomeara para o Banco de Portugal, e que o capitalizaram com 900 milhões e tinham lá um administrador, António Varela, que passou depois para vice de Carlos Costa no BdP, deixaram arrastar a situação até à data limite por causa das eleições.
    E devia saber que o governo do Costa, ao tentar outras soluções de venda, recebeu no dia 19 de Dezembro este e-mail de Danièle Nouy, da DGComp da Comissão Europeia, que dizia: «Há outras ofertas pelo Banif (…) a Comissão Europeia foi muito clara e recomendo que não percam tempo a fazer passar outras propostas.»
    Pudera, a Comissão Europeia já tinha decidido a quem vender o Banif, pois há uma decisão geral de reduzir o sistema bancário a poucos bancos e grandes, sendo que na Península Ibérica são os espanhóis que irão dar cartas com 2 ou 3 bancos: Santander, Caixa Bank (veja a proibição de Isabel dos Santos no BPI, que vai passar para o Caixa Bank). E a seguir verá quem irá comprar o Novo Banco.
    Este e-mail de Danièle Nouy já está na Comissão de Inquérito da Assembleia da República
    Portanto, a Rita é bastante isenta nas suas análises e não se move por ódiozinhos de estimação.
    Usa sempre os mesmos critérios para avaliar situações semelhantes.
    Parabéns.

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