segunda-feira, 25 de abril de 2016

Um dia estranho...

Depois de falar quase duas horas ao telefone com uma amiga senti-me com energia suficiente para implementar o meu plano original de fim-de-semana: fazer gumbo, aquela sopa da Louisiana. Aprendi a fazê-la quando tive uma aula de culinária em Nova Orleães, por ocasião do fim-de-ano de 1999. Na última entrega da cesta da Farmhouse Delivery cá em casa, havia talos de aipo e a única coisa que eu sei fazer com talos de aipo é gumbo. (OK, também é bom servido como aperitivo com queijo creme e um pedaço de noz.) Na sexta-feira fui de propósito ao super-mercado comprar o resto dos ingredientes, mas esqueci-me de comprar chouriço andouille. Não me apercebi que me tinha esquecido, só quando comecei a cozinhar é que dei conta.

Pensei em várias alternativas para remediar a situação, mas decidi ir ao super-mercado latino que fica perto de mim e posso lá ir a pé. Quando me mudei para aqui, este super-mercado tinha muito mau aspecto; mas, ultimamente, eles andam a melhorar bastante e para além de frutas e vegetais de melhor qualidade, que eu não compro, também têm expositores de fruta novos. Posso dizer que, a este ritmo, daqui a 10 anos irá parecer-se como um super-mercado americano tradicional. Vou lá quando preciso de me desenrascar, como foi o caso de hoje, ou quando me apetece estudar os hábitos da população latina de Houston, ou quando quero praticar o meu espanhol. (A única pessoa "branca não-latina" que lá vejo fazer compras sou eu. Vocês, se calhar, pensavam que eu vivia no meio de doutorados e eu ando no meio de imigrantes ilegais.)

Saí de casa e notei que a minha vizinha do lado estava a passear a sua bebé, que ainda não tem um ano de idade. Atravessei a rua para não ter de falar com ela. Não é que eu seja uma pessoa antipática (às vezes até me esforço por ser), mas a minha outra vizinha disse-me que esta mãe não vacina os filhos e ela tem três filhos pequenos incluindo a bebé. Atravessei a rua porque tive medo de falar com pessoas que não vacinam os filhos. Eu fui vacinada a tudo e, mesmo assim, fiquei doente com sarampo, rubéola, e até varicela, o que me deu a honra de chumbar a Investigação Operacional na faculdade com 8, pois não pude ir à oral. (Não que eu precisasse de grandes desculpas para reprovar a cadeiras, mas ter histórias destas faz o curso de Economia muito mais giro. E quando passei foi com 17, logo valeu a pena.) Devo ter um sistema imunitário mais para o fracote, logo não vale a pena correr riscos desnecessários.

Quando regressava do super-mercado, fui atacada por um pássaro. Por uns segundos fiquei um bocado confusa: o pássaro estava atrás de mim, piava muito, e voava cheio de fúria em meu redor. No chão, à minha frente, eu via a sombra do pássaro com asas abertas e pensava "When doves cry! Foda-se, Rita, let it go, o homem está morto. Ou Hitchcock -- 'The Birds'. What the fuck, entrei na quinta dimensão, só pode..." (O meu cérebro às vezes funciona em portinglês.) Depois é que processei a informação: estava mesmo ao lado de uma sebe e na sebe devia haver um ninho com bebés e o pássaro estava a guardar o ninho, por isso é que me atacou para me afugentar. E não era uma pomba, logo não era uma pomba a chorar. Gostei da dedicação, acho que este animal ganha a medalha de "parent of the year" -- tenho de escrever em inglês que é para o Bloco de Esquerda não me acusar de ser sexista.

O resto da viagem correu bem e, quando cheguei a casa, terminei de preparar o gumbo e a canja de galinha que também fiz. Um dia muito produtivo, apesar de estranho.

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