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quarta-feira, 20 de abril de 2016
História gótica
38. Ada voltou para o quarto que tinha alugado na taberna.
Era tarde, e ela andara todo o dia pelos campos com Valodu e Groesken, à procura. "Pode nem sequer estar por aqui", pensou. "Ou ainda não ter chegado." Atirou as botas lamacentas para um canto. "Ou nem sequer vir. Mas não pode ser, nós viemos todos. Tem que vir, e trazer a sua parte da carta e da fotografia." Tocou uma sineta que a taberneira tinha deixado na mesa de cabeceira e, depois de algum tempo e de alguns toques, uma cabeça com uma touca e uns fiapos de cabelo oleoso a escorregar pelas orelhas abaixo assomou à porta. A figura não dizia nada, e Ada explicou-lhe por que a chamara. "Preciso de água quente", disse. "Para o banho. E as minhas botas estão cheias de lama, pode limpá-las?" Sempre sem falar, e tão discretamente como tinha surgido, a cabeça da criada da taberneira desapareceu. Ada passou para um quarto mais pequeno com chão de azulejo e acendeu uma pequena salamandra que estava no canto mais próximo da banheira de estanho. Voltando ao quarto de dormir, preparou a camisa de noite e lembrou-se de que não tinha comido nada desde o almoço. Mas não tinha fome. Só sede, muita sede. "Ainda bem que a Senhora Licodu não se esqueceu de pôr aqui uma garrafa de água." Passaram quase vinte minutos e finalmente Ada ouviu o ruído que fazem pessoas a carregar um peso por uma escada acima. Já na banheira, relaxando na água quente e esfregando-se com uma luva de crina coberta de sabão, a rapariga conseguiu deixar de pensar no assunto que há meses a obcecava. Quando tomava banho, isto acontecia, a cabeça esvaziava-se de imagens e pensamentos e enchia-se de cheiros. Só cheiros, sem associações. O cheiro das brasas da salamandra e do pavio das velas que se ia queimando. Do sabão e da roupa lavada. Só cheiros agradáveis, felizmente. Mergulhou e ficou alguns segundos debaixo de água, a cabeça agora sem cheiros e só com a sensação da água a tocar a pele. Adormeceu assim que deitou a cabeça na almofada. Entretanto, Groesken e Valodu conversavam na praça da aldeia. Embora cansados, não tinham sono e apetecia-lhes falar. Andavam à volta do poço, de vez em quando dando um pontapé numa pedra, às escuras. Como de costume, o céu estava nublado e não se viam estrelas. Só a lua, baça como se estivesse atrás de um vidro embaciado. "Já estou nesta maldita aldeia há semanas e ainda não encontrei ninguém. Nem a pessoa que falta nem", custava-lhe dizer o nome que o levara até ali, como se pudesse acontecer alguma desgraça. "É superstição, eu sei, mas acho melhor não falar nele", continuou. "Sim", concordou Valodu. "Sinto o mesmo." "E de qualquer modo, nós os três sabemos o que viemos aqui fazer", disse Groesken. "O que interessa agora é descobrir a melhor maneira de conseguirmos o que queremos. Já estive lá em cima, mas não me atrevi a aproximar-me do castelo. A mula que me levou até lá fugiu assim que percebeu onde íamos. Ou pelo menos foi como se percebesse. Correu pela colina abaixo e depressa deixei de vê-la." "Eu também já subi até lá. E cheguei a entrar no castelo, ou melhor, fui arrastado. Apanharam-me ainda na floresta umas criaturas perversas, bateram-me, perdi os sentidos e acordei num sítio medonho." Valodu contou a Groesken os detalhes da sua aventura no castelo, o que vira e quem vira, e os dois sentiram um arrepio na espinha. "Será que Ada vai aguentar ver coisas tão terríveis? E conseguirá enfrentar tantos perigos?" "Ela é determinada. E mais forte do que parece. Aposto que nós vamos tremer muito mais do que ela." Ada acordou de repente. "Já sei", quase gritou.
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Aqui está uma amostra de acesso rápido a um portfolio - no momento em que escrevi esta observação pude localizar, em poucos segundos, as peças 19 a 38 da história gótica.
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