quinta-feira, 16 de junho de 2016

O Word-Doc dos CTT Expresso

Eu sofro de uma doença qualquer que causa que eu compre coisas para as minhas amigas. Lá em casa tenho várias caixas e gavetas onde guardo o meu espólio, isto porque as minhas amigas andam espalhadas pelo mundo, especialmente por Portugal e os EUA. De vez em quando, lá tenho de enviar as coisas que compro às amigas. Detesto enviar coisas para Portugal porque é um pesadelo. No dia 7 de Maio tomei um comprimido de sado-masoquismo e decidi enviar três pacotes para Portugal. Dois chegaram às destinatárias; um encalhou.

Agora, com a Internet, é fácil de ver o que acontece aos pacotes internacionais. O pacote encalhado, que devia ter sido entregue em Lisboa, foi aceite, no dia 7/5/2016 -- um Sábado --, em Bellaire; foi para o Norte de Houston, depois aterrou em Chicago, foi dar uma volta a Istambul, na Turquia, e no dia 17 de Maio foi apresentado à Alfândega em Lisboa. Eu sei isto porque o formulário da alfândega que eu preenchi nos EUA para poder enviar o pacote tem um número identificativo que é usado pelos correios americanos e portugueses para acompanhar a encomenda (Figura 1). O percurso que os CTT apresentam (Figura 2) não é tão detalhado como o apresentado pelo United States Portal Service.

Alguns dias depois do pacote entrar na Alfândega, a minha amiga recebeu correspondência do despachante da CTT Expresso para apresentar a factura comercial/documento comprovativo de pagamento da encomenda. Ora, o documento de alfândega que eu preenchi nos EUA (Figura 3) dizia que o pacote era uma prenda, pois eu marquei o quadradinho "gift", e o valor declarado foi $35, logo nem sequer está sujeito a taxas de alfândega, pois o valor limite é €45. Enviei fotos à minha amiga do formulário que eu preenchi e ela encaminhou para o despachante.

No dia 9/6/2016, o despachante responde à minha amiga a dizer que falta o documento de alfândega preenchido e que eu o teria de preencher e assinar. Em anexo, envia um ficheiro em PDF com uma declaração para eu preencher (Figura 4). Quando eu abro o documento em Adobe Acrobat e olho para as propriedades, fico a saber que foi criado em MS Word em 12/6/2005 (Figura 5)! Sim, há 11 anos. O autor do ficheiro foi um tal de Lusocuanza. O ficheiro não tem o nome do organismo que o criou, nem um número, nada. Qualquer idiota com um mínimo de conhecimento de MS Word faz um "documento" daqueles em casa, o que levanta questões acerca da legitimidade da coisa.

Sinceramente, a forma como se trabalha em Portugal é uma anedota. A Alfândega não consegue processar uma encomenda sem armar confusão, os CTT Expresso, que me dizem tem o APCC Best Contact Center 2015, não consegue resolver o problema prontamente -- eles têm uma foto do documento de alfândega oficial entregue nos correios americanos, para que é que é preciso preencher outro formulário, que nem é nada oficial? Quem é o idiota que quer fazer negócio com Portugal com pessoas a trabalhar assim?

Amanhã irá fazer um mês que esta encomenda está encalhada na alfândega. É mais outra para a minha colecção. Paguei $46 (€41) para a enviar, o que não é uma quantia assim tão trivial.



Figura 1. Trajecto da encomenda de acordo com o United States Postal Service

Figura 2. Trajecto da encomenda de acordo com os CTT

Figura 3. Formulário que eu preenchi quando enviei a encomenda, e que está colado na caixa

Figura 4. Formulário que o despachante dos CTT Expresso me mandou preencher

Figura 5. Propriedades do ficheiro do formulário enviado pelo despachante dos CTT Expresso



3 comentários:

  1. Rita,

    Posso estar enganado, mas a nossa alfândega (em Cabo Ruivo) tem pouco ou nada a ver com o USPS. O formulário que preencheste é um requisito legal dos serviços alfandegários dos EUA, não tem nada a ver com os Portugueses (se calhar convinha perguntares aos gajos por alma de quem é que tens de preencher uma coisa daquelas para uma EXPORTAÇÃO!).

    O tal documento que o CTT Expresso te enviaram é um formulário-tipo, não é oficial. Se quiseres pode tu fazer o mesmo em Word ou escreve um texto com os mesmos elementos ou mesmo telefonar para a Alfândega e dizer quanto aquilo vale. A "nabice" aqui é inteiramente do despachante oficial que devia estar farto de saber isto (e não, ele não pode pegar na cópia do Customs Declaration e dizer que é um "gift" e vale $35, porque passaria a estar legalmente responsável caso tal não fosse verdade).

    Já agora:

    http://www.dgaiec.min-financas.pt/NR/rdonlyres/8E143820-A5C3-4E6E-9E9F-0C9C56EF80C4/0/Minuta_EP_Contrafaccao.pdf

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  2. Bem vindo ao clube.

    P.S. neste momento tenho 3 ou 4 encomendas encravadas na alfandega, uma delas há mais de 1 mês, e isto por estar a ser sério (e sem colocar qualquer entrave a pagar as taxas que tiverem que ser pagas!) - se tivesse falsificado documentos seguramente que já tinha resolvido o problema... É de ficar pasmado.

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    1. Eu já tive umas dessas (com coisas do EUA e do Japão) e a ideia que me dá é que não é tanto a Alfandega mas antes os CTT que são absolutamente nabos a desalfandegar. O que vem do estrangeiro agora (e for de valor) vem por DHL ou UPS ou coisa do género.

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