quinta-feira, 23 de junho de 2016

Enviado (Pouco) Especial da Destreza ao Euro 2016: Jogo 2

Podia dedicar este post a todos (e tantos) aqueles que teimam em povoar as redes sociais com comentários sarcásticos sobre a Seleção, como se o seu relativo insucesso até ao momento lhes desse alguma superioridade porque (alegadamente) previram, quais Nostradamus do futebol moderno, que esta equipa não era tão boa como a de 2004. Pensei seriamente em utilizar este post - logo a seguir àquele que foi (provavelmente) o último jogo de Portugal que vi ao vivo neste Europeu - para vos mandar a todos para a puta que vos pariu.
Se não tens a certeza se é a ti que me estou a dirigir, então é porque és.
Tu que preferes deliciar-te com um slalon falhado do Eliseu em vez de te regozijares com uma puta bem dada pelo André Gomes para acabar com meio minuto de olés.
Tu, que preferes criticar o Ronaldo por não correr em todas as jogadas, em vez de lhe agradeceres pelos sacrifícios que continua a fazer por Portugal, tantas vezes (como ontem) ignorando problemas físicos de maneira a manter o nosso sonho vivo.
Tu que preferes gozar com uma bola perdida por um miúdo de 18 anos que no ano passado jogava nos juniores, em vez de o aplaudires pela forma como deixa sempre Portugal jogar melhor.
Tu, que preferes atacar o treinador em vez de te dedicares a sonhar como será melhor o 11 do próximo jogo contra a Croácia.
Tu, que ainda guardas rancor ao Nani pelo mau alívio no primeiro golo, embora continue a marcar quando precisamos.
A ti que achas que o problema da Seleção é não ter jogadores suficientes da tua equipa.
A ti que achas que os jogadores não jogam bem o suficiente por falta de esforço e dedicação.
Mas tu és uma merda, por isso a ti não dedico nada.

Este post é dedicado aos que, como eu, se dão ao sonho mais que ao rancor. 
Aos emigrantes que enchem os estádios e não param de gritar mesmo que 90% tenham vozes esganiçadas e não se consigam coordenar por mais de 15 segundos seguidos. 
Este post é dedicado ao miúdo de 5 anos à minha frente no estádio que chorou copiosamente o jogo todo ontem, e à lição de perseverança que esta equipa lhe ensinou. 
A todos os que vão ao estádio, porque nos provam que esta doença das redes sociais é menos prevalecente no mundo real.
Este post é para os meus amigos que, por muito que as coisas corram mal, escolhem acreditar. 
Os que fazem comentários como "caminho aberto ate a final meus amigos!!! o ketchup ta aberto!!" ou "Vai marcar dois logo! Começa a viagem para campeões da europa! (...) Let the games begin!"
Porque os sonhos não pagam impostos, e até sermos eliminados, a única alternativa é acreditar. Pelo menos para mim, que vou continuar mais duas semanas a viajar entre a França e a Suiça equipado a rigor, a sonhar e a acreditar, porque os ratos são sempre os primeiros a abandonar o navio e eu, de rato, tenho muito pouco.




(Aos outros não dedico palavras porque não as merecem, mas podem carregar aqui para ter uma ideia do que me passa pela cabeça quando leio as barbaridades que vocês escrevem)

9 comentários:

  1. Só gostava que a paixão pela situação financeira do país fosse equivalente à que existe pelo futebol. Tal como aconselhas, não me resta a mim senão sonhar...

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    1. Não têm de ser mutamente exclusivas, Rita :)

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    2. Sabes que eu argumentaria, de certeza contra-corrente, que há um excesso, e não uma falta, de preocupação e mediatismo em Portugal com os problema do momento - incluindo a parte financeira. Os temas mudam de 5 em 5 dias, e toda a gente os segue como uma espécie de pássaros em frente a luzes fortes. Nenhum fica resolvido, mas apenas abandonado, ao fim desses 5 dias. Mas, durante esse tempo, está toda a gente preocupada.

      Das coisas que mais gosto na sociedade inglesa é este pragmatismo, e recusa de passar muito tempo a pensar e a discutir os assuntos do momento. Dirás que isso é porque os problemas económicos ou financeiros não existem cá, e terás alguma razão, mas o problema é que estar sempre a obcecar com os problemas, claramente, não nos ajudou. O importante é mesmo encontrar formas de os resolver, para as pessoas poderem pasar a preocupar-se com outras coisas mais interessantes.

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    3. Eu gostaria que as pessoas se preocupassem com a situação financeira do país, mas de forma mais focada e pensassem em termos de prevenção, não em termos de reacção. Uma característica muito portuguesa é a atitude "Deixa andar, que depois a gente fala." Tu não vês isso nos anglo-saxónicos.

      Até os americanos, que são muito espalhafatosos, asseguram que o fundamental funciona. A justiça funciona e, por exemplo, no seguimento da crise financeira, tu tiveste legislação passada para fortalecer o sistema, os bancos foram colocados em rédea curta, etc.

      Em Portugal, os bancos vão ao ar, conclui-se que o enquadramento legal é inadequado, mas não é mudado. É tudo reactivo e nem sequer sabes quem é que devia ter evitado a catástrofe: era o BCE, o Banco de Portugal, o Ministério das Finanças, outra entidade?

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  2. Mas olha que a abordagem da maioria é igual nos dois campos: queixas e insultos à fartazana, mas críticas construtivas zero.

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    1. Sim.
      Há vários traços comuns, não só no modo de dar a informação como de alterá-la, dissimulando a alteração e, com as devidas adaptações, na maneira de recebê-la e reenviá-la.

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    2. "Crítica construtiva" é difícil em Portugal: muito poucas pessoas apreciam receber esse tipo de feedback e muito poucas pessoas têm capacidade de dar esse tipo de feedback.

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    3. Em Portugal não há nada mais fácil que fazer “críticas construtivas”. Qualquer pessoa sabe ou sabe aprender isso em três tempos. O que, por vezes, é difícil é fazer-se respeitar fazendo “críticas” claras e fundamentadas.

      Pois… Por vezes, antes de criticar fazem-se muitos rodeios, pede-se desculpa por discordar e gasta-se uma hora nisto antes de começar a trabalhar. Não é assim em toda a parte, note-se, nem com toda a gente e, a este nível, o país está muito diferente do que já foi. Às vezes não parece, mas é por incompetência dos observadores e por causa do peso dos “minors” em humildade, bem fáceis de enfrentar por quem quer que tenha aprendido os mínimos.

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