segunda-feira, 20 de junho de 2016

Uma Carreira de Tiro em Houston


Uma carreira de tiro (adoro o meu nome!), em Houston, está a oferecer a pessoas da comunidade LGBT aulas grátis de tiro ao alvo. Como sou forreta, dava-me jeito ser gay agora; bi- também dava, mas eu não tenho pinta de ser. Eu sei que o João Miguel Tavares já meteu o pé na argola por ter usado as palavras opção e gay na mesma frase e muita gente o criticou.

Não é opção ser, mas é opção viver uma vida em que se é fiel ao que somos. Não é preciso ser gay para haver este desfasamento; mesmo os heterossexuais não são todos fieis ao seu instinto sexual. Por exemplo, há alguns que gostariam de ter muitos parceiros sexuais, mas escolhem ter uma vida em que têm só um. Posto isto, há por aí umas gajas muito boas, mas dão muito trabalho, logo eu escolho ter uma vida hetero, o que elimina as aulas grátis da carreira de tiro em Houston.

Mas não preocupem, nem tudo está perdido: um dia destes, dá-me uma coisa qualquer e vou aprender a sério e bem. Se calhar convinha avisar-vos antes, que é para terem perfeita informação antes de mencionarem o meu nome no Twitter. Isso faria o mercado mais eficiente, mas como há por aí umas almas que não acreditam em falhas de mercado, nomeadamente em assimetria de informação, talvez eu não diga nada.

Digo-vos isto: acho que os libertários deviam fazer campanha para liberalizar as armas em Portugal...

26 comentários:

  1. Que empreendedores esses da carreira de tiro!

    Rita, sobre liberalização das armas em Portugal, não iria alterar muito o panorama. A esmagadora maioria das pessoas não sabe - muitos, embora dentro da coisa, não se apercebem - mas até 2006 foi relativamente fácil obter uma arma em Portugal.

    Durante a vigência do Decreto-Lei 37313, de 1949 (substituído precisamente em 2006), não era realmente fácil obter uma arma de defesa, calibre máximo 7,65mm exclusivé para pistolas e 9mm exclusivé para revolvers. Mas era relativamente fácil obter licença de uso e porte de arma de precisão que permitia obter armas muito superiores a pistolas em calibre 6,35mm, nomeadamente pistolas em calibre .22, potencialmente muito mais letais do que uma pistoletita 6,35. Claro que havia background checks e quem tivesse cadastro não podia ter e coisas do género mas não era nada complicado de obter para uma pessoa normal. Aos mestres-atiradores era permitido ter e portar pistolas, revolvers, carabinas e espingardas de qualquer calibre. Mesmo armas de defesa, havia um monte de categorias de funcionários públicos (todas acima do equivalente a chefe de repartição e havia um loophole para incluir os abaixo se alguém quisesse) que estavam autorizados a te-las, dispensados de licença de uso e porte de arma de defesa, apenas por serem funcionários públicos de determinada categoria.

    Ora, mesmo com tudo isto, havia muitas armas de fogo em Portugal? Não, nunca houve. Tirando as armas de caça que continuam a ser populares, pistolas e revolvers nunca houve, mesmo quando era relativamente fácil ter uma. É acima de tudo uma questão cultural. Mesmo que se liberalizassem as armas, em Portugal, nunca haveria muitas nas mãos das pessoas de bem. Nas dos patifes, pois continuaria a haver as que há.

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    1. Zuricher, olha que eu era capaz de comprar um revolver em Portugal, só para dizer que tinha um. Eu não sou patife, mas gosto muito de pessoal com quatro patas -- e duas também...

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    2. Rita, pode ser do sono imenso com que estou dado ter sido noite de insónias mas não percebi patavina da tua resposta...

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    3. Estava a meter-me contigo, mas não percebeste a piada... Vai dormir e depois conversamos.

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    4. Aahahah! Está bem! Já almocei e fiz uma cat nap, já entendi qualquer coisita! Mas, Rita, um revolver? Sendo certo que eu sou parcial por não gostar particularmente de revolvers, nas mãos duma menina então é que não mesmo. Em senhoras gosto de ver pistolas pequenas. Uma Browning Baby numa das edições especiais destinadas especificamente a senhoras ficam perfeitamente. Mas já não se fabricam e, enfim, em 6,35 ou .25 serviam para assustar gatos mais do que qualquer outra coisa. Pistolas actuais, pois numa senhora uma baby Glock ou uma Beretta Nano não ficam nada mal. Portanto, já sabes, aprende a disparar mas compra uma pistola de senhoras. Pistolas grandes ficam feias nas mãos de senhoras!

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  2. "Eu sei que o João Miguel Tavares já meteu o pé na argola por ter usado as palavras opção e gay na mesma frase e muita gente o criticou."

    Vá, nisso estou com o JMT. Pode ser mais correcto falar em orientação em vez de opção sexual, mas também me parece que é bastante irrelevante.

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    1. Eu parece-me que tem peso, nem que seja por causa da história das "terapias e correcção". Se a sexualidade é algo não biológico (uma "opção", seja mais ou menos consciente), então pode ser (nem que seja em teoria) "corrigida". Sendo uma orientação (biológico, portanto) uma correcção é sempre uma violência contra a própria pessoa.

      Aparentemente (e não que eu siga isto com frequência e estou a papaguear o que encontrei na net) a posição científica actual é que é uma mistura de factores biológicos e "ambientais" (environmental ?), apesar de "escolha" ser pouca.

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    2. Acho que é mesmo uma mistura de "nature" e "nurture". A parte de nurture tem muito a ver com as expectativas da sociedade, basta estudar a natureza do desejo nas civilizações grega e romana para encontrar atitudes diferentes das actuais. Parece-me ser razoável presumir que há pessoas em que uma componente ("nature" ou "nurture") domina a outra, logo não há uma fórmula única que serve para explicar toda a gente.

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    3. Acho que a única característica que NÂO seja "uma mistura de factores biológicos e "ambientais"" em que consigo pensar, assim de repente, é o grupo sanguíneo.

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    4. A "chamada" aos Gregos e Romanos é interessante, nem que seja porque existe por vezes alguma confusão. A homossexualidade masculina (porque a feminina nem vê-la, ou melhor, foi reprimida) nos gregos era pederástica e quase de certeza não penetrativa. A homossexualidade entre homens adultos e/ou penetrativa era considerada vergonhosa.

      Eu ia escrever mais algumas coisas, mas ao confirmar informação esbarrei-me (para variar) na Wikipedia que descreve tudo isto melhor que eu:

      https://en.wikipedia.org/wiki/Homosexuality_in_ancient_Greece

      https://en.wikipedia.org/wiki/Homosexuality_in_ancient_Rome

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    5. Havia homossexualidade feminina, mas sendo as mulheres seres inferiores na altura, não sobreviveu grande história dela. No entanto, se leres Safo, encontrarás muitos poemas homossexuais.

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    6. Claro que havia, como sempre houve (malgrado a Rainha Victória - que não acreditava - e o Ahmadinejad - que diz que não existe mesmo). A questão aqui era se esta era socialmente aceite.

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  3. Experimente chegar lá e dizer que é cissexual. Pode ser que ainda passe.

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    1. A isso chama-se jogar com a falta de conhecimento das pessoas ;-) .

      Claro que cis é uma orientação tão válida como homo, mas a ideia suponho que seja fazer um desconto dirigido explicitamente a um grupo (considerado) como desfavorecido e a necessitar de proteção... por outro lado claro que isto vai depender da percepção da carreira de tiro sobre o efeito da oferta no comportamento futuro do receptor da oferta, pelo que pode ser perfeitamente aceitável para a empresa conceder essa oferta a cis-gendered individuals (particularmente se isso não for visto como um "free-for-all" que poderia afetar as suas perspectivas comerciais.

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    2. Ok, sendo engenheiro químico devia saber, mas já não lido com isómeros (e química orgânica) há uns tempos.

      Neste caso parece francamente excessivo, salvo em artigos científicos para que não haja confusão entre indíviduos. Até por uma questão "estatística" o "cis" é a norma.

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    3. Carlos, eu também desconhecia o termo. Aprendi agora:

      "Julia Serano has defined cissexual as "people who are not transsexual and who have only ever experienced their mental and physical sexes as being aligned", while cisgender is a slightly narrower term for those who do not identify as transgender (a larger cultural category than the more clinical transsexual)." Wikipedia

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    4. Exactamente, o cis é a norma. Não sei se é daí que vem a utilização (é possível, esta Julia Serano é bióloga), ou se é simplesmente o oposto de trans.

      O "excesso" parece fazer parte. Estive a ler sobre esta Julia Serano e a preocupação em rotular (ok, nomear, que é mais neutro) todas estas variações é, para mim, mind-boggling.

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  4. Segundo a definição dada pelo meu amigo Google:

    "Julia Serano has defined cissexual as "people who are not transsexual and who have only ever experienced their mental and physical sexes as being aligned", while cisgender is a slightly narrower term for those who do not identify as transgender (a larger cultural category than the more clinical transsexual)."

    não é com certeza um "free-for-all". Uma pessoa "who have only ever experienced their mental and physical sexes as being aligned" pertence de certeza a uma minoria ultraminoritária. Digo eu.

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  5. Beeeem... Cada vez mais complicado!

    "As a trans woman, bisexual, and femme activist, Julia Serano has spent much of the last ten years challenging various forms of exclusion within feminist and queer/LGBTQ movements. "

    Femme activist!

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    1. O que é "femme"... esqueça, já descobri (e sim, Wikipedia).

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    2. Ainda bem que me suscitou a curiosidade... Para mim, femme é mulher em francês e fiquei-me por aí. Conhecia "butch" mas "femme" não.

      Mas (Wiki):
      "The separatist feminist movement of the late 1960s and 1970s forced butches and femmes underground, as radical lesbian feminists found lesbian gender roles to be a disappointing and oppressive replication of heterosexual lifestyle. However, the 1980s saw a resurgence of butch and femme gender roles."

      Acho que vou deixar de ler estas coisas. Basta-me a (homo)fobia banal.

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  6. O que por aqui vai de perversão! Sodoma e Gomorra na internet!

    "Cis" é um prefixo da língua portuguesa, como, por exemplo, em "Cisjordânia" e em "Gália Cisalpina". Significa "aquém".

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    1. A discussão acabou por tornar-se gira e altamente educativa. Percebi que estou completamente démodé no meu uso da terminologia...

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    2. Démodé?
      Rita, outra dia tentei saber que letras tinham adicionado à sigla LGBT e descobri que já há quem use a sigla LGBTQIA: Lesbian, Gay, Bisexual, Transgender, Queer, Intersex, Asexual.
      É impossível um gajo manter-se a par. Qualquer dia é o alfabeto todo.

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    3. Geraldo, neste caso significa "do mesmo lado" (o oposto é trans, claro):
      http://www.dictionary.com/browse/cis-

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