sexta-feira, 29 de julho de 2016

Faz de conta

O Rui num comentário ao meu post anterior lamenta a forma como a imprensa portuguesa trata os assuntos da União Europeia. Tem toda a razão. Mas discordo do Rui num ponto. A forma como os jornalistas portugueses trataram o tema das sanções não foi um bom exemplo. Quem leu os jornais ou viu os noticiários televisivos ficou, uma vez mais, com a ideia de que existe uma espécie de relação bilateral entre Portugal e a “Europa”. Nós e eles. Nós contra o resto do mundo. Isto é do mais puro provincianismo. Na verdade, os alemães estão-se nas tintas para Portugal. Para eles, era suficiente venderem-nos os carros e dar por aqui umas voltas no verão. O resto dispensavam. Portugal até podia sair amanhã da União Europeia. Era um favor que lhes fazíamos – Merkel e Schäuble rebolaram-se com certeza a rir se por acaso alguém lhes falou da ameaça de um referendo à permanência de Portugal na UE de Catarina Martins. Aliás, se parte substancial da nossa dívida pública não fosse a bancos alemães, a Alemanha, provavelmente, nunca nos teria posto a mão por baixo em 2011. Ficaríamos ao Deus dará, afundados numa dívida externa colossal e na nossa irrelevância.
As preocupações da Alemanha são outras. A Ucrânia, por exemplo. Há quanto tempo os nossos media não dizem uma palavra sobre esse país? Ou sobre a tensão das relações com a Rússia? As sanções nunca foram um tema central na Europa nas últimas semanas. Lamento muito, mas as bravatas patrióticas do nosso primeiro-ministro cá dentro não impressionam ninguém lá fora. 

7 comentários:

  1. BRAVÔ! *clap clap clap* de pé. :-)

    Sem tempo para grandes considerações não quis deixar de aclamar o escrito que é genial. Tanto no que toca às omissões da imprensa Portuguesa como no que toca à irrelevância da República no contexto Europeu de onde advém o ridiculo das bravatas inconsequentes.

    Gostei muito.

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  2. Desculpe Jose Carlos, mas acho este post muito provinciano.;-)

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    1. Prezada Isabel, já percebi que temos uma visão diferente sobre os assuntos europeus. E, sinceramente, preferia que a sua visão, mais optimista, estivesse mais próxima da realidade do que a minha.

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  3. A titulo de curiosidade, o impacto das vendas de carros alemães em Portugal é tipo 0.3% para eles.

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  4. Compreende-se que os "nossos" media sejam muitas vezes chamados de meRdia.

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  5. Caro José Carlos Alexandre, agradeço ter respondido ao meu comentário.
    Desculpe mas depois de ler o seu post em que refere que
    "A forma como os jornalistas portugueses trataram o tema das sanções não foi um bom exemplo. Quem leu os jornais ou viu os noticiários televisivos ficou, uma vez mais, com a ideia de que existe uma espécie de relação bilateral entre Portugal e a “Europa”. Nós e eles. Nós contra o resto do mundo."
    estranhei um pouco pois eu considero que sou uma pessoa razoavelmente bem informada e ao ler as notícias sobre esse tema aprendi algumas coisas sobre a "política/processo/burocracia" europeias. Assim para perceber se efetivamente tinha razão fiz uma pesquisa rápida no Google sobre as notícias referentes ao tema das sanções em Portugal. Envio-lhe em baixo alguns links que penso que tratam com maior profundidade do que o habitual os assuntos europeus e em que penso que não está de todo presente essa simplicidade provinciana de "nós contra eles" que refere:
    http://www.tsf.pt/economia/interior/bruxelas-vai-recomendar-sancoes-a-portugal-e-espanha-5251598.html
    http://www.tvi24.iol.pt/economia/defice/sancoes-bruxelas-propoe-multa-zero-para-portugal
    https://www.publico.pt/politica/noticia/1sancoes-a-portugal-nas-maos-do-ecofin-1737626

    Nota: optei por excluir links de noticias de imprensa económica pois assumo que em principio esse tipo de imprensa teria uma melhor cobertura jornalística deste tipo de assuntos

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