domingo, 17 de julho de 2016

Um país de medrosos

Em Portugal, não somos lá muito bons nisso, na capacidade de revolta colectiva, pois não?
Não, somos um bocado passivos. Os espanhóis são muito mais agressivos, revoltam-se muito mais.

Sim, nas imagens das manifestações em Espanha ou na Grécia vemos um grau de revolta que não identificamos em Portugal.
Isso é verdade. Noto isso na área científica. Aqui em Portugal, vamos a um congresso e se dizemos: “Não estou nada de acordo com isso” dizem-nos logo: “Foste muito agressivo com aquele tipo”. Isso, num congresso internacional, é a coisa mais banal do mundo e ninguém leva a mal, nem diz que está a ser agredido.

Somos mais susceptíveis?
Sim. E mais delicados, mais medrosos. Somos um país de medrosos.

Fonte: António Coimbra de Matos entrevistado por Carlos Vaz Marques, no Público

Talvez por isso haja tantos pseudónimos a comentar no nosso blogue. Ou, para ser mais optimista, talvez seja a manifestação da heteronímia de Pessoa nos portugueses: somos uns literatos engavetados.

6 comentários:

  1. Rita, o uso de nicknames tem a ver com privacidade, não com medo. Aliás, e isto não deixa de ser curioso, o uso dos nomes próprios na internet é uma coisa relativamente recente, dos tempos Facebook e da grande explosão dos blogues. Em tempos mais recuados, fosse nos talkers, no IRC, mesmo mail em muitos casos, nas BBS, newsgroups, etc, etc, não passava pela cabeça de ninguém usar o nome próprio. Toda a gente tinha nicknames e havia até um certo esmero em escolher nicks originais. Pelo contrário, quantas vezes o nickname passava para o real! Ainda hoje, mais de vinte anos depois de ter começado nestas andanças cibernéticas, há quem me trate ao vivo ou em comunicações privadas pelo meu primeiro nick da net ou até pelo seu diminuitivo.

    Bottom line: o uso de nicknames tem mais a ver com privacidade do que qualquer outra coisa.

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  2. 100% de acordo! Um país que andava a lutar com espadas por esse mundo fora e que o rei até batia na mãe e agora somos o povo mais submisso da Europa. NOutro país da Europa não se passava nem um terço do que se passa em Portugal....

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  3. Eu sei e compreendo que o uses. No entanto, repara que o teu pseudónimo não é usado para humilhar os outros. Aliás, se tu e eu nos cruzássemos, tudo o que escreves aqui dir-me-ias na cara, sem problema algum. Tens uma frontalidade que eu aprecio bastante. Tu, de medroso, não tens nada...

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    1. Ahahah, sim, sem sombra de dúvida. What u see is what u get! Interessante a tua percepção sobre eu ser IRL o que sou no virtual. Não me enganei ao tomar-te por uma rapariga inteligente! Sem dúvida que sim e também sem dúvida que de medroso não tenho nada. Desde miúdo que sou assim. O que, e indo agora ao fulcro do teu post, em Portugal principalmente, gerava-me alguns engulhos. Por as pessoas estarem habituadas às meias palavras e ao "dizer a medo" (nem falemos do agir) muita gente via-me como algo brusco e até pior quando não eram essas, de todo, as minhas intenções. Pretendia simplesmente acabar com a conversa mole que não levava a lado nenhum e seguir com as coisas para a frente na sua devida ordem. Em contrapartida eu tinha também algumas dificuldades dado frequentemente não perceber exactamente o que as pessoas queriam dizer. As coisas são ditas de forma tão embrulhada em paninhos quentes, tão equívoca, tão permissiva a vários significados, que às vezes torna-se dificil descodificar exactamente o que a pessoa pretende transmitir.

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  4. Cara Rita,

    As caixas de comentários de blogues e jornais são regra geral muito mal frequentadas, por isso não as leve muito a sério. Ilustram classicamente o fenómeno do dizer mal pelas costas enquanto cara a cara é tudo sorrisinhos!

    De qualquer maneira, enquanto leitor relativamente recente do destrezadasdúvidas, e, para não ficar com a impressão de que por aqui só se diz mal, agradeço-lhe desde já os interessantíssimos posts com as suas perspectivas a partir dos EUA ;)

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  5. “Arre, estou farto de semideuses!
    Onde é que há gente no mundo?
    Então sou só eu que é vil e erróneo nesta terra?”

    [Fernando Pessoa no Poema em Linha Recta]

    Pois…
    Faz sentido dizer-se que existem subservientes que só o são perante grupos seleccionados.

    Só que, neste ponto, o país mudou muito, para melhor, em relação ao que existe na memória de alguns.

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